quinta-feira, novembro 10, 2011

Livro Da Semana

 

Oliver Twist, de Charles Dickens

Este artigo já vem tarde (normalmente publicamos o livro da semana às segundas-feiras) mas nunca é demais referir a importância de uma obra que mudou o olhar que temos das crianças.

Já foi há mais de cem anos que este romance foi publicado e, no entanto, ainda é bastante atual. clip_image002De facto, só muito recentemente é que começámos a olhar para as crianças não como sendo adultos em ponto pequeno mas como seres que, por muito estranho que nos pareça, possuem um raciocínio próprio e olham para o mundo de uma maneira completamente diferente da dos adultos. As investigações e observações de Jean Piaget, no início do século passado, vieram confirmar precisamente aquilo de que os pedagogos há já muito tempo desconfiavam.

No caso de Oliver Twist, assistimos a uma Inglaterra miserável, inundada de pobres, pedintes, ladrões, toda a casta de criminosos. Mais grave ainda, as próprias instituições, que supostamente deviam contribuir para o conforto da criança, nada mais fazem do que deixá-la ao abandono ou tirarem proveito dela. Charles Dickens bem o afirma no seu prefácio: pretende mostrar a realidade crua do dia-a-dia, e não enveredar pela típica imagem romântica do criminoso, que tantas vezes era usada nas peças de teatro de então.

Charles Dickens escreve com uma lucidez perturbante e o seu olhar é o de um cirurgião moralista. “Atira-nos à cara” aquilo que os políticos e as classes favorecidas não querem ouvir, e explica, quase passo a passo, como é que se educa um ser humano para se transformar num criminoso. Demonstra a corrupção, estupidez e inaptidão dos asilos ingleses; critica a falsa moralidade das baby-sitters, que usam a desculpa esfarrapada de que “devemos disciplinar uma criança” para esconder o facto de que essa “disciplina” nada mais é do que meter dinheiro ao bolso; refere a incompetência ou até mesmo impotência das autoridades; e, por fim, termina o livro afirmando que a melhor maneira de educarmos uma criança é simplesmente dar-lhe o óbvio: comida, educação e amor.

Muito se pode dizer sobre os direitos de todos os meninos deste mundo. Este livro é uma prova do quanto já evoluímos… e do quanto ainda há para fazer.

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