Este é um aviso a todos os “piratinhas”, “piratas” e “piratões” do Admirável Mundo Novo da Internet. Se fazes parte do (gigantesco) grupo de homens e mulheres que faz downloads ilegais, vai preparando a tua malinha para a cadeia: o cerco já está a apertar e vai doer ainda mais, a partir do próximo ano.
Ao contrário do que muita gente diz, a pirataria informática trouxe, inicialmente, os seus benefícios: as grandes editoras discográficas e cinematográficas; as grandes lojas de conveniência; os hipermercados e restantes “monstros” do mundo do mercado; todos estes senhores invencíveis punham e dispunham, sempre que lhes apetecia. Um escritor, actor ou músico tinha que bater a 500.000 portas, humilhar-se e mendigar favores, caso quisesse ver o seu livro, filme ou cd publicado. Os mais originais, os mais criativos e os mais revolucionários eram logo empurrados para um canto porque, segundo a opinião deste punhado de patrões, “não servem para vender”. Pior ainda, um cd que custa menos de cinco euros a ser fabricado, chegava (e chega) às lojas, ao preço gritante de 25/30 euros. Em suma: como não tinham rivais à altura, o mundo era deles e eram eles que impunham as suas regras. Quanto aos tais “direitos de autor”… Bom, “toma lá estes cêntimos, e já vais com sorte”.
Ora, a Internet veio abalar fortemente este poder instalado: os downloads ilegais não só destruíram os seus lucros como, ainda por cima, serviram para catapultar artistas que, sem a Youtube ou a Lastfm, a Emule, a utorrent ou a soulseek, nunca teriam ficado famosos. É graças à Internet que, hoje, temos promoções a toda a hora: cds mais baratos, livros e vídeos vendidos ao preço da uva mijona numa revista/jornal qualquer. E também foi graças aos downloads ilegais que muitos filmes, completamente esquecidos e desprezados pelos actuais patrões destas gigantescas empresas (estou a recordar-me, por exemplo, dos Contos da Lua Vaga, de Mizoguchi), voltaram a estar disponíveis, para alegria de todos os verdadeiros amantes do cinema. Ou seja: os downloads ilegais permitiram aos clientes da Internet ter acesso a algo que já quase não havia: a possibilidade da escolha.
Mas o que é demais, não presta: tanto abusámos deste privilégio que, agora, vamos perdê-lo. O abuso dos internautas foi tanto que centenas de milhares de postos de trabalho desapareceram de vez, só na Europa. Em Portugal, só para vos dar um exemplo, os saudosos videoclubes estão à beira da extinção. Estas lojinhas caseiras, que eram às centenas, hoje não são mais do que 90 (só neste ano, 120 fecharam). E todos nós sabemos o que acontece às pessoas desempregadas: sem dinheiro, não há comida no frigorífico.
Chegou, portanto, a hora de tomar decisões extremas. A França, neste momento, é o país mais radical de todos, no que se refere aos “castigos” a dar aos piratas: quem for apanhado a fazer três downloads ilegais, arrisca-se a ficar com a Internet cortada durante anos, o seu nome passará a constar de uma lista negra e o cliente estará proibido de fazer contratos de Internet com qualquer operadora. A vizinha Espanha pretende ser mais moderada: penalizar os infractores com diminuição da velocidade da Internet (pois, pois, está-se mesmo a ver que irá resultar…). Mas a União Europeia será aquela que irá dar a machadada final a esta “grande festa”: segundo a revista Expresso desta semana, está para breve uma directiva que autoriza o corte da Internet a cibernautas que façam downloads ilegais, mesmo sem uma ordem judicial prévia. Trocando por miúdos: sempre que um cibernauta abusar dos seus direitos, correrá o risco de, um dia, chegar a casa… E descobrir que não tem net. E tudo isto, sem que seja preciso a operadora recorrer a um tribunal!
O que fazer, então? Bom, aqui vão alguns conselhos:
1- Voltem às salas de cinema, decidam se o filme é bom e comprem-no, se gostarem muito. O ideal é esperar pela época das promoções: ao fim de seis meses, é muito comum encontrarmos o mesmo filme a menos de metade do preço original;
2- Façam uma “vaquinha” com os amigos ou família (os nossos pais faziam-no a toda a hora): compra-se o original e serão feitas cópias para o grupo. É que tirarmos cópias para uso pessoal não é ilegal;
3- Controlem os vícios: cortem no tabaco, nos bolos, chocolate e bebida, andem mais e conduzam menos, não troquem de telemóvel a toda a hora, poupem nas roupas e nos sapatos. No fim, sobrará dinheiro para a música, para os filmes e para os jogos;
4- Digam “olá” ao mealheiro: cada moedinha de 50 cêntimos que colocarem por dia, poderá significar, no fim do mês, a compra de um cd, de um vídeo ou de um jogo;
5- Vendam e façam compras na Internet: a Amazon está recheada de promoções bastante acessíveis, especialmente a secção que vende artigos em segunda mão e em perfeito estado. Ainda recentemente, “ofereciam” álbuns do Bob Dylan a três euros!
6- Aproveitem os benefícios das lojas em segunda mão: no centro comercial Colombo existe uma loja dedicada a jogos de computador em óptimo estado de preservação. Nos alfarrabistas, os livros são sempre mais baratos. E há também lojas que vendem cds e lps em excelentes condições.
7- Usem e abusem dos sites que nos deixam escutar/ver músicas, vídeos e séries de televisão. São excelentes para percebermos que produto desejamos comprar ou não. Em épocas de pouco dinheiro, é preciso sabermos escolher. Quanto aos livros, nada como irmos a uma biblioteca municipal: os livros são grátis. Se gostarmos, compramos. Se não, também não choramos o dinheiro perdido.
Moral da história: os nossos pais, antes da Internet, escutavam música, liam e jogavam como todos nós. E conseguiam ter o que queriam. Bastava poupar, saber escolher e saber procurar. O fim dos downloads ilegais pode ser incómodo para muita gente. Mas também não é o fim do mundo…
Imagens retiradas de:
http://vilanovadegaia.olx.pt/vendo-filmes-dvd-c-selo-de-aluguer-iid-32980653
http://peroladecultura.blogspot.com/2009/04/fazer-downloads-ilegais-merece-cortar.html
http://calangoscopio.blogspot.com/2009/02/ha-algo-errado.html