quinta-feira, novembro 14, 2019

Lição de Vida – O Outono em nós



Perdoa-me, folha seca,
Imagem retirada DAQUI
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.

De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?

E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando àqueles
que não se levantarão...

Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...

       Cecília Meireles


quarta-feira, novembro 13, 2019

Bibliomúsica - 9 de Novembro


Dia Mundial contra o Fascismo e o Antissemitismo

Imagem retirada DAQUI
E para festejar esta data, relembremos a lindíssima canção Inch'Allah do cantor francês Adamo. Esta foi uma música que não parou de tocar nas rádios, e os nossos avós, ainda com a memória da Segunda Guerra Mundial bem viva, ouviram-na e cantaram-na. Ninguém escapou à sombra da guerra, todos tinham histórias para contar. Infelizmente, são hoje poucos os que ainda vivem, e os seus testemunhos figuram apenas nos manuais escolares e nos documentários.
Num mundo onde os fantasmas do preconceito e do ódio parecem ter voltado, um bocadinho de passado não faz mal a ninguém.

 

 Salvatore Adamo - Inch'Allah legendado tradução - legenda pt


segunda-feira, novembro 11, 2019

Ainda a propósito do muro de Berlim…

5 filmes Imperdíveis sobre a Guerra Fria

Imagem retirada daqui
 Esta lista foi propositada: se perguntarem a um amante da arte do Cinema que faça uma lista de obras-primas cinematográficas dedicadas à Guerra Fria e ao Medo Nuclear, teremos logo – e com toda a razão! - no topo da lista títulos como Doutor Jivago ou Doutor Strangelove. No entanto, nós estamos a falar de fitas que foram vistas por milhões e milhões, e que criaram um impacto profundo nas multidões deste período. Estamos, portanto, a falar dos blockbusters de então. Ora, se formos por aí, outras sugestões terão mais relevo. Vamos então dar uma espreitadela ao baú dos nossos avós – mais concretamente a estante dos VHS – e selecionar 5 histórias que trouxeram pesadelos aos habitantes do século XX.

1- O dia Seguinte, Nicholas Meyer (1983)

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Ao mesmo tempo em que uma nova geração de putos estava a redescobrir a beleza de Metropolis, de Fritz Lang (a banda sonora foi dada aos Queen), um outro filme estava a criar angústia e suores frios: o Dia Seguinte fala dos últimos dias de paz antes de uma explosão nuclear à escala mundial… e o que aconteceria depois desses segundos de terror: gente incinerada, mortes por radiação, cabelos a cair às mãos cheias, fome, escuridão, morte. 100 milhões de americanos foram para casa aterrorizados. Há quem diga que foi esta obra cinematográfica que convenceu Ronald Reagan a ter uma conversa com Gorbatchev…

2- Jogos de Guerra, John Badham (1984)
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Debaixo do medo e da sombra do livro de George Orwell (1984), foram muitas as séries, novelas e filmes que focaram a guerra nuclear, a propaganda e a ameaça das máquinas. É verdade ou é um jogo?, foi a grande pergunta que o poster do filme propôs às massas. Tudo começa quando um rapaz engenhocas, obcecado por computadores – a loucura do momento – entra acidentalmente no sistema do Departamento de Defesa dos EUA e, sem sequer notar, inicia um conflito que pode levar à 3a. Guerra Mundial. Dois grandes temas são focados: o poder potencialmente destrutivo da máquina e a ameaça de uma destruição nuclear. Ainda hoje, esta é uma história que se vê com muito prazer. E o Mathew Broderick era tão, tão novinho…

3- O candidato Manchuriano, John Frankenheimer (1962)
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Há décadas que têm existido rumores e suspeitas de que tanto os Americanos como os Russos têm estado a criar aquilo que hoje se chama um “candidato manchuriano” ou “agente adormecido”. Para quem não sabe, estamos a falar de uma pessoa que, sem o saber, foi programada para matar ou destruir alguém. A sua personalidade foi fraturada e, escondida no seu inconsciente, há uma segunda pessoa que obedecerá a ordens específicas. Tudo o que necessita é de algo que a “acorde”: uma frase simples, uma determinada cor, um som. O nome “candidato manchuriano” deve-se ao facto de que muitos dos soldados americanos raptados na zona de Manchúria/China nos anos 50, voltavam irremediavelmente mudados e, sem sequer notarem, trabalhavam secretamente para a União Soviética. Esta obra cinematográfica de 1962 gerou o pânico nos Estados Unidos da América e voltou a trazer à tona o medo do “bicho papão” russo.


4- As sandálias do Pescador, Michael Anderson (1968)
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Baseado no romance de Morris West, este filme estourou nas salas de cinema de todo o mundo e ainda hoje se vê com muito prazer. A história de um polaco sobrevivente dos campos de concentração nazis, e que ascende à posição de papa, será, ainda por cima, uma história considerada profética, e parece prever a eleição de João Paulo II. A China comunista está à beira da fome e uma reunião secreta será criada para resolver este problema. Para espanto de todos, o papa deste filme traz a solução certa, para evitar a 3ª Guerra Mundial…

5- Adeus, Lenine, Wolfgang Becker (2003)
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Quando a mãe de Alex, comunista ferrenha, fica em coma profundo durante oito meses, não faz a menor ideia de que, durante esse tempo, a sua querida Alemanha Democrática caiu. Nem nunca o saberá: o filho fará tudo para a proteger desta verdade, pois a sua saúde é muito precária e poderá morrer de choque. Assim, para salvar a mãe, Alex recria a Alemanha comunista através do seu estúdio de filmagens, ao mesmo tempo em que envolve a família toda e alguns membros da sua comunidade. Entre o riso e a nostalgia, este é um filme muito sério sobre o amor e a perda.


Foi há 30 anos que o Muro de Berlim caiu


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 O que é feito dele, perguntam os mais velhos? Existe ainda alguma memória física desse muro que separou a Alemanha em duas partes? Sim, ainda existem alguns fragmentos que sobraram (podem encontrar uma lista dos lugares para visitar aqui. Podem ser ainda vistos em determinados lugares e museus, como, por exemplo, em Mauerpark (segunda foto) ou em galerias de arte como a Eastside Gallery. Mas, mais do que isso, pouco sobrou: não só os berlinenses estavam fartos deste símbolo de opressão e separação, como aquele espaço – antes, a “terra de ninguém” – era um desperdício de terreno para necessidades mais práticas: hotéis, bancos, casas, jardins, estradas, etc. Assim, lentamente, a longa “cortina de ferro” foi sendo desmantelada.
O que é pena: hoje, são cada vez menos os jovens alemães que sabem que existiu um muro, um muro que separou a capital do seu país em duas partes. É o preço que se paga, quando se desmantela a História e não se deixa testemunho físico para futuras gerações refletirem. Infelizmente, o Ser Humano está condenado a um longo e eterno esquecimento de si mesmo…
No entanto – e olhando para trás – é caso para nós nos perguntarmos como é que as coisas chegaram a este ponto, como é que uma parte inteira da Alemanha se barricou numa ilha quase intransponível. A explicação é tristemente simples e bizarra: após a derrota da Alemanha, na Segunda Guerra Mundial (1945), os países vencedores e aliados dividiram esta nação em quatro partes, como se esta região do mundo fosse um bolo de casamento. A parte do Leste da Alemanha passaria a ser propriedade da União Soviética, e as restantes pertenceriam à França, Inglaterra e Estados Unidos da América. Como era típico dos Comunistas de então, a sua cultura altamente paranóica em relação ao Capitalismo e Fascismo levou-os a criar um muro que os protegesse das ideias “impuras” da Civilização Ocidental. E a bomba de Hiroxima também não ajudou nada: a destruição instantânea de 100.000 seres humanos por parte do exército dos EUA criou um clima de histeria mundial. E, tal como ninguém se deu ao trabalho de perguntar aos Alemães se eles queriam ver o seu país cortado aos bocados, também ninguém lhes perguntou se eles queriam esta parede isolacionista. Assim, o exército vermelho cumpriu o seu plano e parte de Berlim desapareceu na névoa do Estalinismo. Durante 28 anos, famílias foram separadas e amigos deixaram de poder falar uns com os outros, até que 1989 chegou e a União Soviética ruiu de vez.
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O que destruiu a União Soviética? Originalmente, as intenções eram boas: casa para todos, saúde para todos, comida para todos. E o sistema de Ensino era, no geral, bom: a multidão que fugia destes regimes opressivos (alemães do leste e Russos, por exemplo) era composta por médicos, cientistas, artistas e trabalhadores altamente qualificados. Porém, o pavor do Capitalismo, uma oligarquia altamente corrupta e perdulária, o medo da liberdade de expressão e o ultraprotecionismo da economia local criaram um efeito de estagnação, ausência de novas ideias e pobreza geracional. A queda era inevitável.
O que aprendemos nós com o muro de Berlim? Nada. Uma vez que levamos a vida a ignorar o nosso passado, estamos sempre condenados a repeti-lo. Há novos muros neste planeta: em Israel, nos EUA, ainda na Coreia do Norte, e outros. No entanto, vamos ser sinceros: enquanto continuarmos a humilhar os nossos inimigos – não nos basta só ganhar! – e enquanto continuarmos a ser facilmente manipuláveis pelas redes sociais, corporações e outras instituições, os muros continuarão a fazer parte da paisagem deste planeta. A chave está no individualismo, no pensamento único e pessoal, na procura do conhecimento e da informação certa.
Mas isso dá trabalho.