A Máquina Do Tempo, De H. G. Wells
Tem sido o sonho de inúmeras gerações de cientistas e, felizmente para muitos, viajar no tempo ainda é literatura de Ficção Científica. Felizmente? Talvez sim: imaginem o que aconteceria ao planeta se existissem fanáticos políticos que pudessem ter a possibilidade de resgatar o seu herói da morte conseguindo, assim, modificar o nosso futuro: Mussolini, Estaline, Hitler, o carrasco Torquemada, entre muitos outros. Tendo em conta que o mundo está cheio de doidos, nunca mais poderíamos descansar em paz pois, a qualquer momento, a qualquer segundo, teríamos que arranjar mecanismos de detectar quem visita o passado ou o futuro para o modificar. E tendo em conta que tal é impossível, teríamos que fechar as portas a estas viagens pouco tradicionais.
Porém, também existe o lado luminoso da máquina do tempo: quantos mistérios históricos e arqueológicos não seriam descobertos? Quantos livros, quadros, filmes e grandes composições musicais não seriam preservados das chamas e do esquecimento? Quantas vidas não seriam salvas, humanas ou não?
A História da ficção científica está cheia de estórias relacionadas com este tema e, de facto, não há uma série de Tv. neste género que não vá buscar inspiração ao invento mais desejado por muitos cientistas. Ora, H. G. Wells, um verdadeiro amante da Ciência, era um deles.
Tudo começa quando o “Viajante do Tempo” – é o nome pelo qual a personagem principal fica conhecida – mostra aos seus amigos o poder e eficácia da sua grande invenção: uma máquina do tempo. Por enquanto, mostra-lhes apenas um pequeno protótipo, que desaparece à vista de todos. Completamente entusiasmados, decidiu-se marcar uma outra demonstração, desta vez com a engenhoca original, para a próxima semana (podem ter uma ideia de como se parecia através da foto em baixo). Todavia, quando chegam na data e hora marcada, em vez de encontrarem um cientista triunfante e feliz, encontram um velho desgrenhado, de roupas esfarrapadas, completamente desorientado. Quando finalmente se acalma, conta a sua história à multidão expectante. E o que tem para contar não é nada agradável.
H. G. Wells, ao contrário dos Ingleses e intelectuais do seu tempo, não é nada optimista. Não acredita que a Humanidade caminhe para um paraíso na terra, até porque o mundo que está a ser criado – um mundo de terríveis injustiças sociais e económicas – não irá trazer o progresso, a paz, a cultura e educação para todos. O futuro que Wells prevê é o de uma Humanidade dividida em duas: de um lado temos os Eloi, belos puros mas completamente infantis e estúpidos, e do outro temos os Morlocks, uma raça monstruosa e predadora, que vive nas profundezas e que se alimenta da carne dos Eloi, como se não fossem mais do que gado para a sua mesa.
Wells acreditava que as injustiças sociais iriam, cedo ou tarde, criar uma sociedade de monstros predadores e de vítimas estupidificadas. E não foi sempre assim?, perguntam vocês. Sim, foi sempre assim. Porém, se este padrão se mantiver, a Evolução seguirá o seu caminho e, no futuro, existirão duas raças humanas: os Morlocks, senhores do mundo e predadores e os Eloi, as crianças escravizadas. Aliás, se existe um tema que este escritor do século XIX tanto gosta de focar é a fragilidade do Ser Humano: na sua outra obra-prima A Guerra dos Mundos, a invasão dos marcianos é implacável e super-fácil de ser atingida. O Homem não está à altura do poder dos extra-terrestres e, por isso, sucumbe facilmente. Só a união, o trabalho de grupo e a solidariedade é que poderão dar força a esta espécie tão indefesa, mas suficientemente inventiva para dar a volta por cima. Escrito há mais de 100 anos, este livro é ainda hoje bastante actual.
Como são, aliás, todas as obras-primas da Humanidade.
Imagem retirada daqui