A Missão de Az Gabrielson, de Jay Amory (Livro Primeiro)
Lembram-se da loucura do Código Da Vinci? Não podíamos entrar numa livraria sem tropeçarmos numa “Teoria da Conspiração” qualquer. Ou era uma ordem secreta que queria matar o papa; ou era um pergaminho encontrado num deserto e que “matava” todos aqueles que lhe davam uma espreitadela; ou era uma relíquia sagrada encontrada pelos Cruzados, que passava de mão em mão, e que “matava” toda a gente; etc, etc, etc.
Lembram-se do Marley e Eu? Não podíamos entrar numa livraria sem tropeçarmos numa história qualquer, que falasse de um gato, de um cão, de um papagaio, de um hamster, de um porquinho-da-índia, todos eles animaizinhos prodigiosos que se agarravam ao dono e, num estilo muito “ecologista” ou “anti-aquecimento global”, glorificavam os serezinhos nossos amigos, levando-nos a concluir, à maneira de um fã da Greenpeace, que a Natureza deve ser preservada e acarinhada.
Agora estamos na fase dos vampiros. Adeus aos nossos amigos de quatro patas e adeus aos pergaminhos desaparecidos. Não podemos entrar numa livraria sem tropeçarmos num gajo “bom como o milho” que gosta de cravar dentinhos nos delicados pescocinhos das virgens angélicas. Consoante o autor, são maus como as cobras ou são uns incompreendidos pela sociedade do século XXI. E mesmo aqueles que sempre adoraram o mito do vampiro (que é o meu caso) já não têm paciência para esta histeria colectiva. Como dizem os nossos avozinhos, não há fome que não dê em fartura.
Desta vez vamos ser diferentes: em vez de gatos e de cães, teorias da conspiração e de vampiros, vamos falar de… anjos. Não só é mais original como, ainda por cima, estamos na época certa para falarmos deles. Mas se vocês pensam que já leram tudo o que havia para ler sobre este tema, preparem-se para a surpresa: estes anjos não são nada tradicionais.
Segundo Jay Amory, o autor deste livro, os anjos são exactamente iguais a nós. Em tempos que já lá vão, e de que nós já nos recordamos, teve lugar uma catástrofe. Vários seres humanos alados, para fugirem às nuvens negras (pela descrição, podemos perceber que houve provavelmente uma catástrofe nuclear ou uma repentina e violenta mudança climática), esta gente construiu toda uma civilização nos ares. A Humanidade ficou, assim, dividida em duas: Os Alados, que moram nos céus, e os Terrenos, que moram no planeta Terra. A partir daí, não houve praticamente nenhum contacto entre as duas espécies. Os Alados sentem-se seres superiores e, através dos elevadores mecânicos que descem à terra (que têm como único objectivo abastecer a cidade de cima de comida) arrecadam o seu alimento e dedicam-se a coisas mais dignas da sua casta como, por exemplo, compor poesia, música, filosofar, etc. Os Terrenos só servem para os sustentar. Mais nada.
Ora, um dia as coisas começam a correr mal: os antiquíssimos elevadores mecânicos começam finalmente a dar de si, o que quer dizer que a sociedade dos Alados, sem comida, arrisca-se a desaparecer para sempre. Pior ainda, começam a chegar vazios…Quem irá, então, resolver este problema?
A tarefa de reparar este assunto bicudo é dada a Az Gabrielson, um anjo que… nasceu sem asas. É através desta personagem que nós nos apercebemos o quanto estes humanos alados são iguais a nós: apesar de muito amado e respeitado pelos seus pais e irmão, Az é sistematicamente gozado e humilhado pelos seus colegas de escola e pela restante sociedade. Mas uma criança vítima de Bullying constante só tem duas opções: ou passa a ter ódio a si mesma ou aprende a ser forte e a dar-se ao respeito. Az optou pela segunda hipótese. Por não ter asas e por ser um rapaz determinado, os membros do seu “governo” confiam-lhe uma missão secreta, que convém não ser do conhecimento do povo: descer à Terra, saber o que se passa com os elevadores de abastecimento e tentar, se possível, resolver o problema. Ora, Az sempre teve curiosidade de conhecer os Terrenos que, como ele, não podem voar. A nossa personagem sente, pois, um enorme fascínio e empatia por estes humanos que nunca teve oportunidade de conhecer…
A partir daqui, não diremos mais nada. Leiam o livro, que vale a pena. Segundo Rui Pedro Baptista (autor do site Bela Lugosi is Dead, um site dedicado exclusivamente à literatura fantástica: http://belalugosiisdead.blogspot.com/) A escrita do livro é extremamente fluida e fácil de ler. É aquele tipo de livro que nos prende de uma maneira subtil, mas bastante forte, que não nos deixa largá-lo até estar terminado. O autor teve uma ideia brilhante e conseguiu desenvolvê-la bem. A descrição das cidades e dos mecanismos faz-nos entrar naquele mundo e tentar imaginar ao máximo como ele será.
Divirtam-se!