Bolas, há dias para tudo!
Mas quem é que inventa os dias especiais, no século XXI?? E onde é que se decidem estas coisas? Nos gabinetes das Nações Unidas? Nos parlamentos? No clube Bilderberg? E já agora, que roupa usar? Fraque com cartola? Gravatazita catita? Ou vamos apenas à reunião em estilo casual?
Está bem, nós sabemos quem é que eram os responsáveis pelas datas comemorativas, até aos finais do século XVIII: a Igreja Católica. Até a facção Protestante acabou por seguir dias comemorativos que já tinham sido designados pela então Igreja Romana. Mas como todos nós bem sabemos, o calendário era uma “seca” tremenda: eram só santos e santas, Natal, santos e santas, Páscoa, santos e santas, dia dos mortos, santos e santas… (bocejo). E até as festas pagãs eram toleradas e vigiadas pelo Vaticano (Olhem o Carnaval e o Réveillon: como nós bem sabemos, não têm nada de Cristão…). Foi só a partir do século XVIII, graças ao movimento Iluminista, que as instituições religiosas começaram a perder peso no mundo Ocidental. A partir daí, lá se foram ajuntando algumas festividades mais “mundanas”: dia de um determinado país, dia do trabalhador, dia da Mulher, etc.
Durante um determinado período, estes dias comemorativos criaram algum impacto nas massas: o Dia internacional da Mulher serviu para questionar a forma como o sexo feminino era tratado no Ocidente; o Dia Internacional da Criança foi útil para falar dos direitos destes seres humanos pequeninos e indefesos; o Dia Mundial da Sida foi muito relevante para transmitir informação científica válida, a propósito deste mal dos tempos modernos; e, claro, está implícita a ideia de que “água mole em pedra dura, tanto dá até que fura”.
Porém, o que é demais não presta: chegámos ao ridículo de ter dias para tudo. Ah, acham que não? Então, vejam: segundo o website Calendarr Portugal , só o mês de Janeiro já nos dá vontade de rir: temos o dia internacional da comida picante, o dia internacional do fetiche, o dia mundial da neve, o dia de são Simeão estilista e até temos um dia internacional ao contrário!! Em Fevereiro, a risota continua: existe um dia de limpar o computador! A sério, não estamos a brincar! Há um dia da mão vermelha (???) e um dia para os engolidores de espadas! E que tal celebrarmos os dias mundiais da canalização, da incontinência urinária e do backup (todos em Março)? Abril reserva-nos surpresas: é urgente celebrarmos o dia da diversão no trabalho (suponho que Jeff Bezos alinhará nesta data comemorativa…). Mas tudo isto empalidece com a grandiosidade dos dias do golfista, do pinguim e do design gráfico. Enfim, é melhor pararmos por aqui, se não quisermos que os nossos leitores morram de riso.
A mania dos dias especiais pegou de tal forma, que o calendário já não chega para celebrar tanta gente e tanta coisa: estamos a escrever este post no dia 18 de Junho, certo? Ora, este ciclo de 24 horas está a festejar CINCO eventos: de manhã, vamos todos para o campo celebrar o dia mundial do piquenique; suponho que o dia mundial do Sushi deve ser glorificado durante a hora do almoço (faz parte do farnel que trouxemos e estendemos na relva); antes de comer, rezemos a santa Osana (calha bem, porque ela fazia muitos jejuns); para o piquenique, devemos trazer connosco um autistazinho, pois o dia 18 de Junho é o dia deles, coitadinhos; por fim, voltemos para casa a pé, às escuras e sem dinheiro, que é para celebrarmos o dia mundial do pânico.
No fim disto tudo, são as comemorações do costume que ficam nas nossas memórias: o dia do Holocausto, o dia do Trabalhador, o dia mundial da criança… O cérebro humano não está programado para se lembrar de todas as datas importantes. E, francamente, aqui entre nós, o único evento que merece ser falado hoje é aquele que é dedicado ao Autismo, um problema sério que deve ser discutido e minorado, e talvez esse outro pesadelo bem contemporâneo que é termos um ataque de pânico. Mas esta pressão de sermos “inclusivos” por dá aquela palha está a destruir a credibilidade destas datas importantes. Se tudo pode ser comemorado, então nada tem valor suficiente para ser comemorado. Estes momentos do calendário estão a transformar-se numa piada mundial, de tal forma que até já existem calendários dedicados só aos dias parvos (poderão ver um deles neste link .
Sim, o politicamente correto está a ficar cada vez mais pateta. Mas a nossa equipa aceita sugestões. Não sabemos muito bem com quem iremos falar, para oficializarmos uma nova comemoração. Talvez a wikipedia tenha a resposta para esta questão. Eh, pá, espera! Que tal o “dia internacional da Wikipedia”?
Ela bem merece…
Imagens retiradas do link acima mencionado
1 comentário:
Ainda se estes dias servissem para alguma coisa...
Gostei muito do texto, com o qual concordo inteiramente. E gostei ainda mais do sentido de humor. Parabéns.
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