Estante do mês de Maio
A sombra da Guerra. Outra vez.
Parece ser uma fotografia tão feliz, tão bem disposta. Uma fila de soldados desfila para o futuro campo de batalha, e uma menina saúda sorridente os “bravos heróis”. Hoje, olhamos para este registo fotográfico com tristeza, sabendo muito bem o que se passou na I Guerra Mundial. Mas naquela altura, toda a gente achava que esta “escaramuça” entre vizinhos não duraria mais do que dois meses. As mulheres despediram-se dos seus filhos, maridos, pais, tios e namorados com lencinhos brancos, sorrisos incandescentes. Cantavam-se canções gloriosas, cheias de patriotismo. E os bravos filhos da pátria chegariam risonhos, gordinhos e vitoriosos, prontos para os passeios de domingo, prontos para namoriscar, casar e recomeçar uma nova vida.
A guerra durou quatro anos e matou milhões de seres humanos dos dois lados da trincheira.
Foi o princípio do fim. Durante milénios, o olhar que se tinha da guerra, dos campos de batalha e dos heróis era sempre um olhar bélico, mas inocente. Heróis puros em cavalos brancos, a espada flamejante e o inimigo derrotado. Entretanto, chegou a máquina fotográfica, chegaram os tanques, os cavalos foram banidos da guerra, as trincheiras eram uma novidade. E, de repente, matar deixou de ter graça.
Hoje, a guerra parece-nos distante. E, no entanto, parece que nunca saímos da I Guerra Mundial. Olhando com atenção, é possível que daqui a 100 anos os séculos XX e XXI sejam olhados pelos historiadores como tendo sido uma segunda guerra dos 100 anos. Os protagonistas são praticamente todos os mesmos, os conflitos são quase os mesmos: Inglaterra, Estados Unidos da América, Rússia, Alemanha, França. Onde é que já ouvimos isto? Lutas económicas, xenofobia, corporações em conflito, comendo-se umas às outras. Onde é que já ouvimos isto? O Médio Oriente em chamas, luta por territórios e recursos energéticos. Onde é que já ouvimos isto? Por isso mesmo – e uma vez que caminhamos a passos largos para uma possível III Guerra Mundial – é bom que o passado não seja esquecido, e que aprendamos alguma coisa com ele.
Uma coisa é certa: o nosso olhar já não é inocente. Já não nos despedimos dos bravos “filhos da pátria” com lencinhos brancos, já não cantamos canções patriotas, já não pedimos às nossas crianças para darem beijinhos aos lindos soldados de uniforme.
E já não acreditamos em finais felizes.
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Fotografia retirada daqui .
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