A polémica estourou: o último anúncio publicitário da Comissão Europeia está a ser acusado de racismo grosseiro. Nesta pequena curta, um irado asiático, um assustador africano e um árabe façanhudo ameaçam de morte uma angélica, pura, indefesa e branca europeia que, sem qualquer arma, tentará, através do sorriso, da serenidade e do diálogo, convencer os “mastodontes” das civilizações “inferiores”, a criar um mundo de paz e de igualdade.
Através deste artigo de opinião, já ficaram a saber o que é que eu penso deste spot. A ideia original – segundo os responsáveis por este desastre televisivo - consistia em convencer outros países a aderir à Comunidade Europeia, em vez de estarem sistematicamente a atacá-la. Não sabemos muito bem em que faculdade é que esta gente tirou o curso de publicidade, mas o resultado final foi de um racismo claro e de bradar aos céus, tão racista que até os próprios europeus lourinhos de olhos azuis se sentiram incomodados: retratar “os outros” como sendo selvagens sedentos de sangue não é propriamente a melhor maneira de suscitar a sua simpatia. Isto é o equivalente a um político dizer horrores das mulheres… e depois pedir-lhes o voto para ganhar as eleições.
Há sem dúvida outras maneiras de “contar” a mesma história: se tivessem retratado a mulher deste anúncio como alguém que também carrega uma arma e também luta contra os “outros”, o spot teria tido uma reação completamente oposta. Afinal, nós, os europeus, também somos racistas e também não simpatizamos com a diferença. A intolerância existe em todos e não só em alguns. Teria sido bastante mais interessante colocar todas as personagens num cenário de luta para, no fim, todos chegarem à conclusão de que a paz e o diálogo são necessários para a criação de um futuro melhor.
As queixas foram mais do que muitas, e inclusivamente o público acusou a Comissão Europeia de dizer Amen a várias fações imperialistas, racistas e misóginas que, infelizmente, já estão em ascensão em vários países do continente europeu. Como dizia um comentário online do jornal inglês Telegraph, Não admira que o euro e a União Europeia estejam em colapso. Em vez de travarem a crise financeira estão a gastar dinheiro com propaganda racista".
A Comissão Europeia já pediu desculpas e a propaganda foi cancelada, mas o mal já está feito: vivemos no admirável mundo novo da internet e o que se diz e se faz hoje ficará gravado para a posteridade. Nunca foi tão importante, nos dias de hoje, mantermos a cabeça fria e pensarmos duas vezes. É que, por mais desagradável que isto nos possa ser, o que vemos no spot é exatamente a imagem que muitas fações extremistas têm dos povos estrangeiros, e estar a patrocinar estas ideias – mesmo que involuntariamente – é regar com gasolina um fogo que já está bem atiçado.
Esperemos que esta gaffe lhes sirva de lição.
Artigo de opinião de Sandra Costa
Crescendo Juntos, spot publicitário da Comissão Europeia
Imagem retirada daqui
1 comentário:
Realmente, há formas mais eficientes e menos ofensivas de unir as pessoas.
Eu sou europeia até à raiz dos cabelos mas reconheço que sempre fomos muito arrogantes...
Lita
Enviar um comentário