E não há poeta que não tenha uma palavrita a dizer sobre o assunto…
Florbela Espanca – Primavera
É Primavera agora, meu Amor!
O campo despe a veste de estamenha;
Não há árvore nenhuma que não tenha
O coração aberto, todo em flor!
.
Ah! Deixa-te vogar, calmo, ao sabor
Da vida... não há bem que nos não venha
Dum mal que o nosso orgulho em vão desdenha!
Não há bem que não possa ser melhor!
.
Também despi meu triste burel pardo,
E agora cheiro a rosmaninho e a nardo
E ando agora tonta, à tua espera...
.
Pus rosas cor-de-rosa em meus cabelos...
Parecem um rosal! Vem desprendê-los!
Meu Amor, meu Amor, é Primavera!...
Hölderlin – A Primavera
De antigas alturas descende o novo dia,
desperta dentre as sombras a manhã,
a humanidade sorri junta e alegre,
em gozo está humanidade suavemente reunida.
Nova vida deseja ao prevenir abrir-se,
com flores, sinal de alegres dias,
cobrir parece a terra e o grande vale,
Alegrando a Primavera todo signo doloroso.
Miguel Torga – Anunciação
Surdo murmúrio do rio,
a deslizar, pausado, na planura.
dum recado comprido,
di-lo sem pressa ao alarmado ouvido
dos salgueirais:
a neve derreteu
nos píncaros da serra;
o gado berra
dentro dos currais,
a lembrar aos zagais
o fim do cativeiro;
anda no ar um perfumado cheiro
a terra revolvida;
o vento emudeceu;
o sol desceu;
a primavera vai chegar, florida.
Todas as ilustrações dos poemas são da autoria do pintor John William Waterhouse (século XIX, Movimento Pré-Rafaelita).
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