Oração
Pai, eu escolhi acreditar.
Escolhi sentir nas palmas das mãos aquilo que é o mundo.
Sentir no bater do meu coração
E no meu sangue encarnado
Os enganos deste mundo tão errado.
Escolhi ver e não olhar.
Pai, eu escolhi acreditar.
Do cimo da minha consciência resolvi olhar em redor
E ver outra vez o mundo que já conhecia de cor.
Decidi experimentar
E atirar-me desse penhasco que é a minha mente,
Atirar-me para o vazio inseguro,
Esperando só e somente que houvesse alguém,
No fim da queda,
Que me amparasse em ombros,
Que me visse seguro,
E que me dissesse o quão valente eu tinha sido por abandonar a minha casa.
O quão valente.
Por abandonar a segurança do meu lar
Para partir,
Fazer uma vida diferente.
Uma vida que fosse minha,
Só minha,
De mais ninguém.
Dos penhascos que me lancei
Nunca, porém, duvidei,
E sempre acreditei, pai, que houvesse lá alguém.
Lancei-me cego de loucura,
Tremores doentes e paixão,
Lancei-me
E (já não sei contar as vezes que,
Pai),
Caí e consumi-me no chão
Apenas para me atirar outra vez,
Com os olhos fechados,
A rezar,
Nesse voo que nunca é o último.
André Afonso, 11º ano
Imagens:
Fotografia 1 - Anka Zhuravleva
Fotografia 2 – Dieter Appelt
Fotografia 3- Lyubomir Sergeev
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