Fiquem desde já sabendo que a Coca-cola que vocês bebem; as roupas que vocês usam; os sapatos que vocês calçam; os carros que vocês têm ou desejam ter; as luzes das vossas casas; os vossos eletrodomésticos; os vossos telemóveis, computadores, ipads ou iphones; os dvds e cds que compram; os tapetes, cortinas, lençóis das vossas salas de estar ou dormir; até a comida que vocês consomem; os produtos de higiene e de beleza que vocês compram; tudo isto e bastante mais é produzido por mão-de-obra escrava ou quase escrava.
E se vocês querem saber quantos “empregados à força” estão a trabalhar para vocês acedam a este site. O site Slavery Footprint (pegada da escravatura, em inglês) tem como objetivo alertar a população mundial para o facto de que muito do nosso bem-estar está ligado ao sofrimento de gente que não conhecemos, mas que, por nossa causa, perderam o direito de serem livres. Eu nem sequer sou uma cidadã consumista e, mesmo assim, tenho 28 prisioneiros ao meu serviço. Escusado será dizer que hoje sinto-me bastante deprimida… Por outro lado, este site também nos oferece “segundas vias”: como comprar com consciência, como diminuir ativamente a mão-de-obra escrava de que dependemos, que marcas conscientes devemos adquirir, etc. Também existe um outro site que nos revela as marcas e empresas que atualmente exploram os pobres: chama-se free2work e a lista dos “carrascos do século XXI” está muito, muito completa .
Como é que é possível que as coisas tenham chegado a este ponto? Bom, não é assim tão difícil percebermos… Em primeiro lugar, o mundo Ocidental (Europa, EUA, Austrália) deixou de produzir. As nossas fábricas fecharam, as nossas frotas pesqueiras foram desmanteladas, as nossas minas desativadas, os nossos campos abandonados. Queremos a boa vidinha mas não queremos trabalhar para a ter. Como, infelizmente, continuamos a precisar de nos vestirmos, de nos calçarmos, e continuamos a precisar de viver em casas e de termos transportes públicos ou privados (e isto é apenas uma pequena amostra das nossas necessidades) alguém vai ter construir tudo isto por nós. Por fim, tornámo-nos gananciosos, sôfregos de novidades, eternamente insatisfeitos. Parecemos meninos birrentos e mimados que, ao fim de meia-hora a brincar com o novo brinquedo, já queremos outro.
Mesmo que nos sintamos culpados por estarmos a contribuir para a escravatura atual, a verdade é que o Ocidente, atualmente, não tem outra escolha se não aceitar esta tragédia: onde é que vamos buscar os minerais para os nossos novos PCs, se quase todas as minas da Europa fecharam? Onde é que vamos buscar comida, se praticamente toda a gente abandonou a agricultura? E quem é que vai pescar por nós? E quem é que monta os nossos computadores e eletrodomésticos? E quem é que constrói as nossas casas? E quem é que cose os nossos sapatos e costura as nossas roupas de marca? E quem é que…
Adiante.
Já que a crise entrou nas nossas casas e arrasou o Ocidente – e quem está a lucrar com tudo isto é a China, a Índia, o Brasil, a Angola, a Coreia do Sul – ao menos que estes anos tenebrosos que aí virão sirvam para alguma coisa: quem sabe se, a tempo, os europeus e os americanos cheguem à conclusão de que estarem dependentes do trabalho dos outros não é propriamente uma ideia muito inteligente a seguir. É que “qualidade de vida” não é sinónimo de “liberdade”: se algum dia os nossos escravos decidirem recusar-se a mandar comida para as nossas mesas, vamos comer o quê? Os nossos ipads?
E, já agora, acedam a este relatório do ano de 2009, cujo objetivo é mostrar que países praticam a escravatura e de que maneira (a partir da página 14 até à 28) . Por exemplo: sabiam que o chocolate é dos bens de consumo que mais escravos produz? De momento, a única marca que está livre deste flagelo é a Cadburys. Quanto à Nestlé, podemos dizer que está bastante atenta a este problema.
Acordem, abram a vossa mente e pensem no futuro que estamos todos a construir.
1 comentário:
Para alguma coisa serve esta crise: para esfregar o nosso nariz empinado no chão e ensinar os Ocidentais a voltar a ser humildes. Um pouco de pobreza só nos vai é fazer bem.
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