E foi sempre assim que Miguel Torga – pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha - olhou para o mundo. E tal não é para espantar: médico de profissão, sempre sentiu o desejo de acarinhar e curar os fracos e os oprimidos. Mesmo quando ia à caça, tinha o cuidado de escolher os mais fortes e só levava para casa o que necessitava para jantar. A sua ligação com o mundo era a de um verdadeiro pastor quase animista: tudo tem alma, tudo tem sede, tudo precisa de amor e de dignidade.
Por isso mesmo, é muitas vezes doloroso – mas estranhamente reconfortante, também – ler estes pequenos contos que fazem parte do livro acima mencionado. Bichos?? Porquê “Bichos”? Bichos porque estamos a falar de animais ou bichos porque os humanos comportam-se de uma maneira vil, que nem o mais humilde dos animais é capaz de se comportar?
E depois... A velhice e a morte. A morte do cão que morre feliz porque vê as lágrimas da dona; o gato que morre de vergonha; o burro que é abandonado na estrada; o filho morto da mãe solteira...
Este não é um livro feliz, é um livro humano. São histórias de bichos que pensam como os homens e de homens que se portam como bichos. E – não se deixem enganar pela ruralidade das palavras e da paisagem destes contos – esta obra é tão, tão atual... Afinal, as duas grandes questões da Humanidade continuam a ser válidas:
O que é ser Humano?
Que atitude terei eu, perante a inevitabilidade da Morte?
Aprendamos com os “bichos”.
Sem comentários:
Enviar um comentário