terça-feira, novembro 10, 2020

Livro da Semana – A Conspiração contra a América, de Philip Roth

 


O que mais nos aterroriza neste livro é repararmos o quão profética esta história é. E, embora este romance pertença à categoria de Ficção – mais particularmente o género da “História Alternativa” – é extraordinariamente semelhante aos ventos negros que se estão a passar por este mundo ocidental fora: o crescimento de um populismo sinistramente semelhante aos ideais fascistas e eugénicos de um Mussolini; o crescimento assustador de um cristianismo radical de ultra-direita; o crescimento das guerras religiosas; o crescimento de loucas ideologias neo-maoístas, de ultra-esquerda…

“Enchouriçados” no meio, estão as pessoas “normais”, aquelas que querem sopas e descanso e que vêem a sua querida página do facebook ou whatsapp ser invadida por fake news e gente fanática a gritar contra tudo e todos, e que sentem que as suas instituições importantes estão a ser colonizadas por loucos extremistas vindos dos dois lados. Para piorar, todos os especialistas das I e II Guerra Mundial já mencionaram que o clima de tensão e raiva que se sente hoje anda muito perto do que se sentiu nos meses que antecederam às duas guerras mencionadas. Tal devia dar-nos calafrios, mas parece que, até agora, ninguém reparou…

E SE os Americanos tivessem escolhido para presidente em 1940 Charles Lindbergh, em vez de Franklin Roosevelt? Lindbergh é uma personagem que nos dá arrepios, não só porque é sinistra mas também porque nos faz lembrar um “certo” presidente fanático e isolacionista, com simpatias muito pouco democráticas, que recentemente foi corrido da Casa Branca.

O autor deste livro é ele próprio uma das personagens centrais desta obra literária. Ele conta a história da sua família, a partir do momento em que este simpatizante nazi chegou ao poder, e a consequente perseguição ao povo judeu, a destruição das liberdades individuais, da privacidade e da segurança. E é extraordinário como um pequeno exercício mental (“e se?”) nos pode dar lições de vida cruciais e alertas para o futuro.

Escrito em 2005, esta história teve como inspiração os anos de 2003-2004: a Invasão ao Iraque, o assassinato em direto de Saddam Husseim, o Patriot Act, uma sórdida prisão chamada Abu Ghraib. Tudo isto aconteceu durante a presidência americana de George Bush jr. No entanto, tivesse este livro sido escrito hoje, há certos países que se aproximam muito do futuro horrendo profetizado nesta obra. Esperemos que Portugal não seja um deles.

E depois ainda há quem diga que a literatura já não causa impacto no mundo!


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