Já esteve muito mais perto a profecia de que o livro físico iria desaparecer, graças aos livros digitais (ebooks, como se chamam). Com efeito, houve uns aninhos em que estes eram comprados como pãezinhos quentes, ao passo que os físicos acumulavam pó nas prateleiras das livrarias.
No entanto, os mais velhos estão a rir-se neste momento: quando a companhia Amazon começou a vender kindles, toda a gente queria um e, durante um certo tempo, as livrarias físicas sofreram as passas do Algarve. Porém, assim que a novidade acabou, a queda da compra deste produto foi abrupta... E voltámos ao velhinho livro de capa dura ou mole. Como o jornal online The Guardian bem o diz, Os livros estão de volta: só os maluquinhos da electrónica é que achavam que iriam desaparecer. (leia o artigo aqui ) . Perante o espanto de todos, a Amazon decidiu fazer o contrário: comprou uma livraria física. E as vendas começaram a subir...
Não, nós não somos suspeitos: há imensas vantagens no livro digital, e podemos mencionar algumas delas: para já, estes nunca irão parar à “guilhotina” (livros destruídos, quando não se vendem); nunca se esgotam; se houver um incêndio na nossa casa, a nossa biblioteca está toda salva numa chapa; podemos modificar o tamanho da letra, o que é excelente para o leitor que sofre de problemas de vista ou está mesmo quase a cegar (há tablets que já têm um aplicativo “audio” para quem já estiver mesmo cego!); tornam-se obviamente muito baratos, pois os custos da publicação de um livro diminuem consideravelmente; podem ser comprados à distância de um simples clic, já não há a preocupação de que uma obra “não esteja à venda” no nosso país; por fim, são excelentes para quem anda “com a casa às costas”.
No entanto, faltou sempre qualquer coisa... Falta a beleza deslumbrante de uma capa, o cheiro do papel novo, o prazer de nos sentarmos à sombra de uma árvore, sem nos preocuparmos se a bateria está a esgotar ou não. Enfim, o prazer da privacidade, do silêncio, de estarmos sozinhos. Como este artigo bem afirma, as pessoas querem uma pausa para poderem estar longe do maldito écrã. Com efeito, o deslumbramento bimbo e subserviente que a geração dos anos 90 sentia pelas tecnologias já não se traduz nos tempos de hoje, muito pelo contrário!: ela é vista como sendo cada vez mais uma ameaça à nossa segurança e privacidade, e já começa a cansar ficar tudo registado num server qualquer, nem que seja a compra de um mundano par de peúgas!
O que falhou, então? Voltemos ao artigo: as pessoas esqueceram-se da diferença entre novidade e valor. Esqueceram-se do fator humano, esqueceram-se que um livro não é só um suporte físico que traz qualquer coisa. É também ele uma obra de arte. Oh, sim, os olhos compram...
Ora, publicadoras como a polaca Kurtiak and Ley nunca na vida se preocuparam com os livros digitais, e tal se deve ao facto de que esta companhia – que não tem feito outra coisa senão ganhar prémios atrás de prémios – satisfaz um público bem diferente do comum: desde 1989, a sua especialidade consiste em criar livros únicos e personalizados, feitos e pintados à mão. Em ocasiões especiais, edita uma obra num número muito muito limitado, e assim que a 1ª edição se esgota, acabou-se. Isto quer dizer que os afortunados que tiverem dinheiro e bom gosto para comprar uma destas obras de arte, enriquecerá de ano para ano, pois estas edições valerão ouro no futuro!
Kurtiak and Ley são o sonho de qualquer amante de livros: eles transformam este objeto numa extraordinária obra de arte. Sabemos que são caríssimos mas, se vocês virem o vídeo abaixo indicado, o dinheiro é sem dúvida bem gasto. Afinal, a verdadeira arte não vive apenas nos museus. Pode ser encontrada numa rua, numa parede, numa árvore...
E numa estante.
Vídeo de promoção da companhia Kurtiak and Ley (site oficial do youtube)
Imagens retiradas do site oficial
3 comentários:
Texto muito, muito bom. ver o vídeo também me fez lembrar o meu sogro que encadernava à mão e o fazia com gosto e sentido de beleza.
Eu gosto muito mais dos livros físicos. O problema é que, muitas vezes, se quisermos ler um livro «clássico», ou especializado neste ou naquele tema, não o encontramos nas livrarias e temos de recorrer ao digital. Espero que agora, com o regresso das livrarias, voltemos a encontrar outras obras que não apenas auto-ajuda e pouco mais.
São maravilhosas obras de Arte. Devido à sua raridade e número limitado irão garantir a sua imortalidade. No futuro serão tesouros para passar de geração em geração.
Nada me dá mais prazer do que entrar numa livraria e sentir o cheiro a papel.Faz parte da memória afectiva. Depois, o sentido da posse. Pegar nele, ver e remexer... A capa, a textura do papel, o carácter em que foi impresso é como se fossem o nosso prolongamento. Tenho duas edições do Alice in the Wonderland, uma de folhas com banho dourado (Macmillan's Library) e outra de folhas brancas dentadas,com um buraco na capa, por onde Alice cai, edição especial do 150.º aniversário da sua publicação, da Cider Mill Book Press. Os livros são um verdadeiro tesouro que guardamos. Abrir um livro com tantas características particulares é parar no tempo. Mas apraz-me saber que já existem tecnologias que ajudam as pessoas com pouca visão a poder ler, isso é fundamental.
Enviar um comentário