sábado, janeiro 19, 2019

A minha vida vale um livro

A minha vida vale um livro
 No nosso último post, falámos de uma companhia especializada em encadernar obras de uma forma muito pessoal e muito única. Estas obras são artísticas, e por isso não é de espantar que estas publicações custem os olhos da cara. No entanto, existe um grupo cada vez maior de artistas espontâneos, vindos de todos os cantos da Terra e que, devagarinho, transformam a sua vida numa obra de arte. Estamos a falar dos criadores dos diários artísticos ou visuais.
Não se sabe como começou este movimento. A verdade é que os diários sempre existiram, um dos mais antigos tem 4.500 anos! No entanto, estes eram usados como meros documentos de registo: o diário de um navio, de uma igreja, de uma companhia, etc. Só muito recentemente (cerca de 300 anos?) é que começaram a aparecer relatos pessoais. Mas a ideia de transformar um diário pessoal numa obra de arte provavelmente começou com uma figura enigmática, de nome Charles Dellschau (segunda imagem): morreu em 1920 e o seu estranho e fantástico diário foi encontrado num sótão 70, anos depois (a história deste homem e do próprio diário mereciam um post bem interessante para o nosso blog!).
Mas é nos anos sessenta que se criou um movimento relacionado com diários visuais. Estávamos na era dos experimentalismos e da construção da nossa própria personalidade. Porém, foram os mundos da Psicologia e Psiquiatria que deram um empurrão bem forte a esta nova forma de arte: depressa se concluiu que quem construía diários pessoais apresentava níveis mais baixos de stress e, inclusivamente, tinha mais resistência a problemas como a raiva ou a depressão. Assim, muitos psiquiatras aconselhavam os seus pacientes a serem “artísticos”, de forma a focarem-se nos momentos belos da vida.
Quem começa a fazer um diário visual, nunca mais largará este “vício”: em primeiro lugar, sabe tão bem criarmos algo belo com as nossas próprias mãos. Em segundo lugar, nada como descobrirmos o nosso lado criativo, algo que, muitas vezes, nem sequer pensávamos ter. É que no mundo dos diários visuais, tudo é permitido: colagens, fotos, embalagens de chicletes, panos, jornais, flores secas… Por outro lado, esta arte aumenta a nossa perceção de que o mundo está cheio de coisas fascinantes, felizes, coloridas e mágicas. São muito raros os diários visuais que se focam no sentimento negativo. Muitos são os criadores que confessaram em entrevistas que começaram por elaborar cadernos artísticos como forma de descarregar a dor e a raiva, mas os seguintes passaram gradualmente a ser cada vez mais leves e luminosos.
E tudo fascina: uma folha caída, um gato brincando, uma lista de tarefas, um pedaço de renda, os mecanismos de um relógio…
E se vocês acham que esta é uma arte feminina, não podem estar mais enganados: o movimento art journal ou beautiful chaos está carregadíssimo de homens e rapazes adolescentes. É, para todos os efeitos, uma arte unissexo, e plataformas como a flickr, tumblr ou youtube, estão cheias de fotos, tutoriais, sugestões, partilha de ideias… Eis um lado bem luminoso e feliz, no mundo da internet.
Para homenagear todos estes artistas, a nossa equipa elaborou um vídeo, com o objetivo de mostrar a vocês, leitores, a espantosa beleza e chama que os humanos ainda carregam dentro deles, uma chama que nem as máquinas nem a dor conseguiram destruir.
Um festim para os olhos!

Vídeo: Diários artísticos e transformação de livros

Imagens retiradas daqui e daqui

3 comentários:

Sónia Costa disse...

Que maravilha! Quantos e quantos artistas e genuino talento há para aí, escondidos em cada canto de café, varanda ou costa de praia...artistas que deviam estar a ser exibidos em galerias, ignorados pelos pedantes do mundo da Arte moderna. Isto sim, é que é Arte!

valéria mello disse...

Não conhecia esse tipo de arte! Quantos artistas maravilhosos, fiquei impressionada com tanto talento e criatividade!

Beatriz Sá disse...

Muito bom, bem haja Pó e divulgar estes talentos ������