Para os defensores dos direitos dos animais, foi (perdoem-nos a expressão…) “Festa Brava”. Para os aficionados da Tauromaquia foi dia de grande tristeza e luto. Eis uma tradição com longos e longos séculos que chegou ao fim, como muitas outras que, por aqui e por ali, vão perdendo a sua força e os seus fãs. No dia 25 de Setembro a emblemática praça Monumental da Barcelona acolheu a sua última tourada. Os bilhetes esgotaram, os pósteres viraram já objetos de culto – e estão a ser vendidos a peso de ouro – e os fãs deste espetáculo, de lágrimas nos olhos, levaram para casa uma porção de terra desta famosa arena. À saída, houve outro tipo de “festa”, mas desta vez entre humanos: amantes da tourada e aficionados anti tourada fizeram um show “bem maneiro”, desta vez com uma sessão de pugilismo, para grande alegria dos jornalistas que ali estavam à espera de um outro tipo de sangue.
Goste-se ou não se goste, a verdade é que este tipo de “entretenimento” está a perder rapidamente fãs: segundo estatísticas, mais de 70% dos jovens portugueses e mais de 60% dos jovens espanhóis não gostam nem um pouco deste espetáculo. Acham-no cruel, bárbaro e, acima de tudo, a “festa brava” nada tem a ver com as novas mentalidades do século XXI. Vivemos num planeta onde expressões como “pegada ecológica” e “preservação do meio ambiente” tornaram-se jargões comuns e sobre utilizados. Num século onde se estuda a fundo o ADN; num mundo onde a agricultura biológica é cada vez mais valorizada; num século onde a razão e a lógica são cada vez mais enaltecidas; num mundo onde já se sonha com a chegada do turismo espacial; as touradas deixaram de ser uma paixão nacional e passaram a ser uma tradição anacrónica, um resquício de tempos antigos, quando animais ou até humanos eram sacrificados aos deuses. Goste-se ou não se goste, os tempos mudaram e o nosso planeta já não é o que era. Hoje, somos uma aldeia global, e o conhecimento está à mão de todos. Os países comparam-se uns aos outros e a consciência dos direitos dos animais disparou, graças à Greenpeace e à internet. Sangue? Só se for virtual, nos jogos de computador. Se este “sangue” é ou não mais perigoso do que o sangue jorrado nas touradas, este é assunto para outra conversa.
Na minha opinião bastante pessoal, os amantes da tourada - se querem que a sua querida tradição sobreviva - terão que fazer exatamente o mesmo que os amantes do circo fizeram: terão que adaptar esta tradição ao século XXI, sob pena de desaparecer em escassas décadas. De fato, é interessante repararmos numa coisa: quase todos os jovens que dizem não amar as touradas não são, porém, contra as “pegas”. É que, segundo os mesmos, sete ou oito homens a fazerem “moche” num touro não só não estão a magoá-lo como até estão a mostrar a sua coragem. E, provavelmente, é mesmo por aqui que a Tourada vai ter que fazer as suas mudanças. Pelas “pegas” é fácil concluirmos que um ser humano pode ser ousado e desafiar os deuses sem ser cruel e torturador.
A Tourada precisa de sangue novo, de novas ideias, de novas posturas. E se não passar por esta reforma necessária estará condenada a ser futuramente olhada como uma espécie de divertimento para um punhado de “maluquinhos” que gostam de ver um animal sangrar até à morte.
Sandra Costa
1 comentário:
Quem fala assim não é gago. És uma de nós, a falar apaixonadamente dos Direitos dos Animais.
Assim é que é, Catalunha. Mais uma vez a Espanha tem visão e dá o exemplo.
Se nós pensarmos bem, deve ter acontecido no Passado a mesma comoção quando os Circos Romanos foram fechados. Tudo tem o seu fim.
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