quinta-feira, fevereiro 25, 2010

PNL - Semana da Leitura

 

clip_image002 Frase do Dia

Toda a gente pensa em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar-se a si próprio.

 

 

Leo Tolstoy, escritor russo do século XIX

 

 

Booktrailer

Errar É Divino, de Marie Phillips

Os Primeiros Parágrafos De Um Livro Memorável

Comboio Nocturno Para Lisboa, de Pascal Mercier

O dia a partir do qual nada continuaria a ser como até aí, na vida de Raimund Gregorius, começou como tantos outros dias. Vindo da estrada nacional, entrou às sete e quarenta e cinco na ponte Kirchenfeld, que

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liga o centro da cidade à zona onde se encontra o liceu. Era isso que fazia todos os dias de trabalho durante o ano lectivo, e chegava à ponte precisamente um quarto de hora antes das oito. Quando uma vez encontrou a ponte vedada ao trânsito cometeu um erro na aula de Grego, logo a seguir. Nunca tal tinha acontecido antes, e nunca aconteceu depois. A escola inteira comentou esse lapso durante dias a fio. Quanto mais tempo durava a discussão, maior era o número daqueles que o atribuíam a um erro de audição. Finalmente, essa versão acabou por se impor também entre os alunos que estavam presentes quando o caso ocorreu. Era simplesmente impensável que o Mundus, como lhe chamavam, pudesse cometer um erro em Grego, Latim ou Hebraico.

Gregorius olhou em frente, para as torres esguias do Museu de História da cidade de Berna, mais para cima, para a cintura do trânsito e para baixo, para o Aare, com as suas águas glaciares verdes. Um vento agreste, que arrastava nuvens baixas, virou-lhe o chapéu-de-chuva e moldou-lhe o rosto com rajadas de chuva. Foi então que reparou na mulher a meio da ponte. Tinha apoiado os cotovelos no parapeito e lia, sob a chuva torrencial, aquilo que parecia ser uma carta. Tinha de agarrar a folha com ambas as mãos. Quando Gregorius se aproximou amarrotou subitamente o papel, amassou-o até o transformar numa bola infome e atirou-o ao ar com um movimento brusco. Sem se aperceber disso, Gregorius apressara-se e encontrava-se agoras apenas a poucos passos de distância. Viu a fúria estampada no rosto pálido e molhado. Não era o tipo de fúria capaz de se esvaziar num caudal de palavras. Era uma fúria tenaz e interiorizada, que ela há muito devia alimentar. Agora a mulher agarrava-se à balaustrada com os braços retesados, enquanto os calcanhares se libertavam dos sapatos. Queres ver que ela vai saltar.

Booktrailer do Livro

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