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Antes de começarmos a falar dos benefícios destas plantas mal amadas, é caso para perguntarmos a nós mesmos: o que é uma erva daninha? Foi essa pergunta que Jack Wallington tentou responder, antes de editar o seu livro Wild about weeds (em tradução livre, “louco por ervas”). Tradicionalmente, “erva daninha” é toda a erva que é invasiva. No entanto, este botânico chegou à conclusão de que a fronteira entre ervas daninhas, medicinais e adubos verdes é muito ínfima e segue modas do momento. A título de exemplo, basta olharmos para o humilde trevo: aquilo que no resto do mundo ocidental é considerado uma praga, para os irlandeses, esta planta pertence à categoria de “adubo verde”. Com efeito, há séculos que os habitantes desta nação utilizam o trevo para fertilizar as terras que estão em pousio, pois largam imenso potássio, enriquecendo, assim, o solo para futuras colheitas. Não é por acaso que um dos símbolos da Irlanda é o trevo de quatro folhas, símbolo da abundância e da prosperidade.
Sejamos honestos: chamamos “daninhas” às ervas que não são muito bonitas e que interferem negativamente (ou assim se pensa!) com as nossas queridas plantas do jardim. Na verdade, elas têm mais benefícios do que malefícios. Ora, vamos lá a ver:
1- Excelentes para a drenagem – São muito úteis no Outono e no Inverno, especialmente para todos os amantes de jardins que têm vasos, em vez de terra “normal”. Uma vez que elas crescem super depressa, tendem a beber o excesso de água, salvando, assim, a planta de se “afogar” e de apodrecer num monte de lama fétida.
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2- Substituem o relvado – Hoje, todos concordam que a relva é um verdadeiro pesadelo: “come” imensa água, estraga o solo, custa muito dinheiro e, se não cuidada, fica feíssima. As ervas daninhas –devidamente podadas, é claro - não só criam um verdadeiro ecossistema como enchem um espaço de várias cores e aromas. É o caso do já amigo Trevo, o Dente-de-leão, a Morugem ou a Tansagem.
3- Identificam o solo – Para quê comprar um medidor de solo, quando basta apenas olharmos para as plantas que estão à nossa frente? Encontrou mostarda? Então, o solo está compactado. Encontrou Urtiga e Dente-de-leão? Então, o solo é ácido. Quanto à humilde Fumária, ela avisa-nos que o solo está com estrume ou enxofre a mais.
4- Têm propriedades medicinais – A Urtiga é um excelente pesticida e enche o solo de nitratos, a Beldroega tem mais ferro do que o Espinafre, o dente-de-leão pode dar uma ótima salada, a Junça está cheia de vitaminas E e C e a Morugem tem ómega 6. Eis aqui alguns dos muitos exemplos que podemos dar.
5-Perfeitas para a compostagem e para ressuscitar uma terra “morta” – Mesmo arrancadas do solo, elas podem ser usadas para a compostagem. Também são excelentes para criar o famoso “chá de compostagem”, uma mistela malcheirosa que mata praticamente toda a bicharada da horta/jardim. Quanto às terras “mortas” que já não dão nada – é o que vai acontecer no espaço de 10 anos, com todas as monoculturas que existem aqui em Serpa – tudo o que há a fazer é encharcar o solo de ervas daninhas e deixá-las em pousio. A título de exemplo, a erva Chenopodium Album (nome comum: Ansarina Branca, Catassol, Erva-couvinha) limpa o solo dos químicos agressivos que as monoculturas tanto usam.
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Para a próxima, quando encontrar uma erva daninha no seu jardim ou vaso, verifique bem se a planta ao lado está a gostar da sua presença. Se sim, deixe-a ficar. Muitas plantas funcionam em modo de simbiose, e aquilo que nós achamos que é melhor para elas, não o é necessariamente. Repare nas serras: são centenas de plantas convivendo todas no mesmo espaço.
É assim que os nossos jardins deviam ser.
1 comentário:
Adoro misturar plantas no mesmo vaso. Elas ganham bastante umas com as outras porque, ao contrário dos animais, as plantas vivem em sistema de cooperação e simbiose. Não têm esta relação binária predador/presa. Claro que há algumas plantas que são destrutivas e não partilham espaço mas essas são a minoria. A maioria coexiste em harmonia. Temos muito a aprender com elas.
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