O país, secretamente, amava-a. Mas só depois da sua morte é que teve coragem de o assumir publicamente. Enquanto respirava, Florbela era aquele tipo de ser humano incómodo, caótico, escandaloso, capaz de provocar paixões e ódios ácidos. Florbela foi uma mulher que nasceu no século errado, na década errada, no local errado. Já Vergílio Ferreira também falava de um Alentejo atrasado, na sua obra “Aparição”. Florbela sonhou com o Futuro, quis concretizá-lo no Presente… e queimou-se por isso mesmo.
Teria
adorado o século XXI, as redes sociais, a liberdade de estar num café às duas
da manhã com um homem que não fosse da família dela, a liberdade de escolher
qualquer carreira, qualquer roupa, qualquer casa, qualquer música. Teria feito
parte do projeto Erasmus, estaria ansiosa para sair do “marasmo” do
campo alentejano e ter-se-ia enfiado em Londres, Paris, Berlim, Madrid. Era uma
mulher cosmopolita, que gostava do luxo, das peles, da beleza, da natureza.
Queria mais, sonhava com mais. Nem Lisboa chegava para ela, quanto mais o
Alentejo.
E seria
infeliz na mesma. Porque os seres humanos como ela estão fadados a ser
eternamente infelizes. Chega a um ponto em que todos nós assentamos. Ainda bem,
é assim que as coisas deve ser. A Sofreguidão – quando é demais – paralisa,
sufoca, anestesia.
Hoje, lemos
os poemas dela com prazer e sentimento. Identificamo-nos com ela. E –
secretamente – pedimos para não acabarmos como ela. São poemas de uma clarividência
e de uma Humanidade deslumbrantes, mas só quem sofre é que escreve e pensa
assim.
E… Sejamos
honestos…
…quem é que
realmente quer sofrer neste mundo?
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