Com tuas
mãos falantes é que me anunciavas
o piar
das andorinhas e dizias o desenho
do
relógio de sol. Como se eu entendesse
As tuas
viagens nos passos em redor da sala.
Foi
preciso ver as asas saindo dos teus dedos
e a
sombra da haste no declínio do dia.
Nessa
hora os teus passos fecharam a viagem.
(…)
E é assim
que começa o poema 7 da página 14. Até chegarmos a este momento do livro, já o
nosso pensamento está a voar para outras dimensões e outros mundos, e um ser
que tem pássaros a sair dos seus dedos já nos soa a um gesto tão normal como
regar uma planta ou levar os filhos à escola. Porque este é o mundo de Licínia
Quitério: um mundo onde as ações mágicas e paranormais transformam a mesquinhez
e marasmo do nosso mundinho controlado por computadores, bancos e relógios. Porque
este é o poder da Poesia: o Poder da Metamorfose.
E que me
perdoem os mais jovens, mas raramente a boa poesia sai dos seus corações. É
preciso viver, experienciar, amar, sofrer, desiludir-se, aprender, conhecer os
homens, as coisas, as árvores. A juventude também tem a sua própria poeria,
sim, mas aquela que nitidamente nos esmaga; aquela que nos obriga a pousar um
livro porque o que lemos é tão extraordinário; aquela que nos faz recordar de
um eco distante, mas familiar; essa vem das almas já maduras, já saciadas, já
em paz. Um pouco feridas, um pouco desapontadas, um pouco cínicas, sem dúvida.
Mas sábias.
Poucos
conhecem Licínia.
Este
anonimato não irá durar muito.