segunda-feira, dezembro 10, 2018

Exposição: comemoração dos 70 anos da declaração dos direitos humanos



O subtítulo ideal para este texto poderia muito bem ter sido “que futuro daremos aos nosso filhos?”. Direto, incisivo, impiedoso. E deprimente: quando finalmente fazemos uma pausa nas nossas vidas atarefadas e vazias e colocamos a nós mesmos esta questão, é o suficiente para perdermos o riso e o apetite. Diante de tantos estímulos negativos: os barcos trazendo os novos escravos; os parisienses partindo montras e queimando carros; a solidão dos velhos e o medo da mulher grávida de perder o seu emprego; a menina excisada e o rapaz injustamente acusado de violar uma miúda; o reinado de terror que o movimento #metoo está a criar; o desemprego em massa graças à substituição de humanos por robôs; um problema de saúde pública chamado smartphones; a comida transgénica e o céu carregado de riscos poluentes; o sufoco das novas cidades e o desejo de ver rios e árvores; uma humanidade deprimida e uma elite que enlouqueceu...
Que faz a Humanidade – repetimos – diante de tantos estímulos negativos? Ou revolta-se, ou entra em depressão... ou desinteressa-se. O cinismo, hoje, tornou-se uma forma de “arte de bem viver”, perdemos a fé nos humanos. Ainda choramos diante do sofrimento de um cão ou gato mas o nosso cérebro apaga-se, quando é mais uma foto de uma criança escrava, mais uma foto de um refugiado que morreu nas águas, mais um louco que se explodiu numa praça... Não eram os Pink Floyd que diziam I have become confortably numb?
Vivemos as nossas vidas da maneira o mais “normal” possível. E, no entanto, uma nuvem negra paira no ar, um cansaço, um desespero nunca assumido, um medo do amanhã.
E foi pensando em tudo isto que vários alunos das turmas A, B e E do 12º ano decidiram- sob a direção da professora de inglês Susana Moreira – dedicar a última exposição da nossa biblioteca à comemoração dos 70 anos da declaração dos direitos humanos. Toda ela está pensada até ao último pormenor. E foi pensada de uma maneira orgânica, elegante, capaz de criar impacto. Aliás, este trabalho feito com tanta dedicação já recebeu a visita da turma 7º D, através da disciplina de História (professora Antónia Sintra). Todos estão de parabéns!
Excelente maneira de terminarmos este triste ano de 2018. Talvez esta exposição possa ser para alguns uma wakeup call; talvez as fotos nos façam pensar na sorte que ainda temos; talvez os testemunhos nos façam chegar à conclusão de que as coisas poderiam estar muito piores do que estão. Talvez.
Deixamos aqui uma pequena amostra desta belíssima exposição. Apareçam, são todos muito bem-vindos. Ao vivo, tudo é bem mais interessante.


Pintura do genial Norman Rockwell, retirada daqui.

3 comentários:

Clara disse...

Concordo com tudo o que aqui é dito excepto no que diz respeito ao movimento me too. Está corrompido e hoje em dia tem vindo a destruir qualquer possibilidade de são relacionamento entre homem e mulher mas quando começou era bem necessário. Era necessário porque o total domínio e a impunidade dos grandes senhores de Hollywood e não só estavam mesmo a precisar de ser desmascarados. Depois, como acontece tantas vezes - com religiões, ideologias, sistemas, etc - houve quem se aproveitasse e acabasse por destruir o significado. Mas não se pode condenar todo o movimento e apagá-lo da História como se não tivesse tido nenhuma importância. O texto é excelente e incisivo.

Sónia Costa disse...

Parabéns a todas as mentes brilhantes que fizeram esta incrível exposição. Sabe bem encontrar ainda pessoas que se importam com o sofrimento alheio. Infelizmente as pessoas boas são uma gota de água no Oceano e, nos dias de hoje, não podem fazer mais do que a sociedade lges permite fazer. Quando muito, podem plantar as sementes para a geração que vai mudar o mundo e que ainda não nasceu.

Francisco Oliveira disse...

Obrigado à equipa, aos professores e aos alunos por todo o empenho e trabalho realizado.