Livro do Mês – Samarcanda, de Amin Maalouf
Tão
cedo passa tudo quanto passa!
Morre
tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada
se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te
de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.
Morre
tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada
se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te
de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.
Fernando Pessoa/Ricardo Reis??
Nem pensar! Este poema pertence a Omar Khayyam, um poeta persa
(antigo Irão), entre os séculos XI e XII d.C. Homem apaixonado pela
vida e pela alegria das coisas simples que nos trazem a alegria de
viver, toda a sua poesia é um hino à compreensão das fraquezas
humanas, que nos tornam tão perfeitos e tão imprevisíveis. Pior
ainda, Omar Khayyam é o poeta da pior transgressão que existe numa
terra onde a religião pode ser fanática: a transgressão do vinho
podia (e ainda pode!) trazer a morte ou a humilhação pública num
país muçulmano.
Ora, Samarcanda, a terra das
Mil e uma noites e da Rota da Seda, é o local onde toda a ação do
livro se passa. Hoje situada no Uzbequistão, Omar assiste ao
declínio da Civilização Persa, outrora grandiosa e agora vítima
do fanatismo religioso. Aliás, o livro começa com uma tentativa de
linchamento: um discípulo do célebre filósofo Avicena, já louco e
pobre, está em vias de ser espancado até à morte por uma multidão
enfurecida, quando Omar, que assistia a tudo isto, intercede a favor
do pobre homem. O azar, como é de esperar, bate à porta: desta vez
é ele que é espancado e levado às autoridades.
Todo o livro nos magoa e nos
enfurece: eis um homem na Era errada e no lugar errado. Mas o trágico
é constatarmos que não existe propriamente aquilo que chamamos “um
tempo errado”: não estamos hoje, em pleno século XXI, a passar
exatamente pela mesma situação? Ou será que, como dizem os sábios,
“a história repete-se até à Eternidade?
Amin Maalouf revela-nos,
através de um romance muito intimista e muito “árabe”, o que é
ser-se iluminado numa civilização em declínio. Não é de espantar,
portanto, que este grande filósofo, matemático e poeta só voltasse
a ser respeitado e reverenciado nos inícios do século XX, na Europa
e nos Estados Unidos da América. E é lendo os seus poemas –
compilados numa obra de nome Robaiyat
– que constatamos até que ponto este génio da literatura mundial
ainda hoje é um escritor maldito em tantos países!
Uma vez que a Semana da
Leitura, na nossa escola, foi dedicada ao culto do chá e das
palavras mundiais, não é, portanto, de espantar que o livro do mês
seja precisamente dedicado a este grande romance contemporâneo.
Aliás, não se admirem se, na quarta-feira desta semana, entrarem
na biblioteca e encontrarem… um “chá do deserto” pronto a
receber os alunos: na quinta-feira, por volta das 14. 30 m., a escola
falará de desertos, do convívio à mesa… e da tradição do chá.
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