segunda-feira, março 16, 2015

Semana da Leitura: Livro do Mês – Samarcanda, de Amin Maalouf



Livro do Mês – Samarcanda, de Amin Maalouf

Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
          Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
           E cala. O mais é nada.
Morre tão jovem ante os deuses quanto
          Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
                                                                                E cala. O mais é nada.

Fernando Pessoa/Ricardo Reis?? Nem pensar! Este poema pertence a Omar Khayyam, um poeta persa (antigo Irão), entre os séculos XI e XII d.C. Homem apaixonado pela vida e pela alegria das coisas simples que nos trazem a alegria de viver, toda a sua poesia é um hino à compreensão das fraquezas humanas, que nos tornam tão perfeitos e tão imprevisíveis. Pior ainda, Omar Khayyam é o poeta da pior transgressão que existe numa terra onde a religião pode ser fanática: a transgressão do vinho podia (e ainda pode!) trazer a morte ou a humilhação pública num país muçulmano.
Ora, Samarcanda, a terra das Mil e uma noites e da Rota da Seda, é o local onde toda a ação do livro se passa. Hoje situada no Uzbequistão, Omar assiste ao declínio da Civilização Persa, outrora grandiosa e agora vítima do fanatismo religioso. Aliás, o livro começa com uma tentativa de linchamento: um discípulo do célebre filósofo Avicena, já louco e pobre, está em vias de ser espancado até à morte por uma multidão enfurecida, quando Omar, que assistia a tudo isto, intercede a favor do pobre homem. O azar, como é de esperar, bate à porta: desta vez é ele que é espancado e levado às autoridades.
Todo o livro nos magoa e nos enfurece: eis um homem na Era errada e no lugar errado. Mas o trágico é constatarmos que não existe propriamente aquilo que chamamos “um tempo errado”: não estamos hoje, em pleno século XXI, a passar exatamente pela mesma situação? Ou será que, como dizem os sábios, “a história repete-se até à Eternidade?
Amin Maalouf revela-nos, através de um romance muito intimista e muito “árabe”, o que é ser-se iluminado numa civilização em declínio. Não é de espantar, portanto, que este grande filósofo, matemático e poeta só voltasse a ser respeitado e reverenciado nos inícios do século XX, na Europa e nos Estados Unidos da América. E é lendo os seus poemas – compilados numa obra de nome Robaiyat – que constatamos até que ponto este génio da literatura mundial ainda hoje é um escritor maldito em tantos países!

Uma vez que a Semana da Leitura, na nossa escola, foi dedicada ao culto do chá e das palavras mundiais, não é, portanto, de espantar que o livro do mês seja precisamente dedicado a este grande romance contemporâneo. Aliás, não se admirem se, na quarta-feira desta semana, entrarem na biblioteca e encontrarem… um “chá do deserto” pronto a receber os alunos: na quinta-feira, por volta das 14. 30 m., a escola falará de desertos, do convívio à mesa… e da tradição do chá.

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