Fumo de inverno
O inverno vai-se escrevendo
Em sinais de fumo
Que se trocam entre as casas
Mensagens perdidas
Á espera de serem decifradas
Permanecem algum tempo
E ficam a pairar
Sobre os telhados
Pedidos de ajuda
Que percorrem o ar
Como não encontram
Quem as interprete
Esvaiem-se em lamentos
Para onde o vento
As remete
São os mensageiros do inverno
Silenciosos e enigmáticos
Que parecem saídos de vulcões
Mudos e estáticos
De longe
Vou contemplando
As bocas
Que exalam
Como loucas
Mensagens perdidas
Em nuvens esbaforidas
E vou pensando
Em navios
Sulcando o mar
Em poemas
Por acabar
Em mensagens por escrever
E palavras
Por dizer
O que se esconde em nós
Arde dentro das casas
Consumindo-se temporariamente
Em incandescentes brasas
O que se mostra
Não passa de fumo de inverno
A esvair-se
No ar eterno