A
geração Milénio deve ser provavelmente a geração mais pedante e,
ao mesmo tempo, a mais ignorante dos últimos 100 anos: estamos todos
convencidos de que ninguém pode criar e fazer melhor do que nós,
que a nossa Era é uma Era de Iluminação Tecnológica, e tudo o que
vem do passado é inferior, incompleto e desinteressante. Felizmente,
a realidade é como um balde de água fria: não mata, mas mói. E
envergonha sempre.
Só
muito recentemente é que a História Mundial começou a prestar
atenção a uma invenção extraordinária, que – sabe-se lá
porquê – foi empurrada para esse território estranho que é o
Esquecimento. Estamos a falar de uma câmara fotográfica fascinante,
de nome Verascope (“Verascópio” em Português. Em tradução
livre, significa “a verdade em movimento”), que mais parece uma
máquina saída de um filme Steampunk
ou parece ser um daqueles artefactos fora do tempo, tão do agrado de
séries como a Ancient
Aliens.
O Verascópio foi inventado
por Jules Richard em 1891, e rapidamente começou a ser
comercializado em 1893. Tinha duas lentes que tentavam imitar os
olhos humanos e era uma câmara fotográfica que criava fotos... em 3
dimensões. Ou, melhor dizendo, criava uma ilusão
tridimensional. Mais ainda – com alguns truques de ótica -
podíamos dar movimento às imagens, como se estas fossem mini mini
filmes. Estamos portanto a olhar para um artefacto que criou os
primeiros gifs
da História da Humanidade. Este aparelho criou aquilo que se chama
hoje a “fotografia estéreo” ou “câmara estereoscópica”. E,
como se não bastasse, numa altura em que as “vulgares” máquinas
fotográficas eram enormes e pesadas, o Verascópio era portátil. O
primeiro protótipo ainda tinha uns quilitos a mais (ver imagem no
cimo) mas já podia ser deslocado numa malinha!
Não é, portanto, de espantar
que esta tenha sido uma das câmaras preferidas de muitos fotógrafos
do início do século XX: em 2013, um grupo de aficionados da
fotografia antiga encontraram, numa loja bem ao pé das Cataratas do
Niágara (EUA), um verascópio que ainda continha fotos da Primeira
Grande Guerra Mundial. Foram digitalizadas, convertidas para um
programa gif,
e os resultados foram fantásticos (para veres as imagens em
movimento tens que clicar aqui. Depressa estas máquinas – antes esquecidas – começaram a ser
vendidas a peso de ouro na ebay
e na Amazon.
A partir de agora, se ouvirem
um “maluquinho” da apple
e do android
falar das alegrias do mundo digital, já podem contar-lhe a história
desta invenção extraordinária.
Quem diria que os gifs já têm
mais de 100 aninhos...
1 comentário:
Que coisa tão linda! Os objetos antigos nunca cessam de me surpreender. Fico sempre encantada com estas engenhocas. Por mim eu sinto-me, aos 49 anos, humildemente ignorante. Estou sempre a aprender e a adorar aprender coisas novas. Nunca me passou pela cabeça de que as coisas novas são mais interessantes.
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