quinta-feira, outubro 09, 2014

Livro do Mês: Relatório do Interior, de Paul Auster

Livro do Mês
Relatório do Interior, de Paul Auster

Poucos autores americanos são tão amados na Europa como Paul Auster. De facto, existe um grupo de intelectuais dos Estados Unidos da América – pintores, cineastas, músicos, escritores, etc - que, ainda antes de serem respeitados nas terras do tio Sam, já são amados e seguidos pelos Europeus. É o caso, por exemplo, do realizador Clint Eastwood, que só começou a ser verdadeiramente respeitado quase dez anos depois de ter sido “descoberto” no festival de Cannes. Dir-se-ia que os americanos não valorizam o que é deles e – pior ainda! – desprezam os seus mestres e génios que são venerados na Europa. Para eles, qualquer artista ou pensador que merece a cotação de cinco estrelas no território Eurotrash não tem o direito de ganhar um Óscar ou um Grammy. Felizmente, esta mentalidade já está a mudar, o que quer dizer que as gerações mais jovens já não parecem ter tantos complexos de inferioridade…

 Se estão à espera de histórias lamechas, estilo Nora Roberts ou Nicholas Sparks, podem tirar o cavalinho da chuva: Paul Auster é um escritor de génio, um dos poucos escritores que, neste século de literatura tão medíocre, merecem mesmo o nome de “escritor”. A sua obra literária não tem nada a ver com a paraliteratura que se vende hoje nas Bertrands e Fnacs. São livros que não só nos deleitam como também nos obrigam a pensar no mundo em que vivemos, e qual o papel que desempenharemos nele. E desta vez, Paul Auster embrenha-se uma vez mais no seu passado. De que fala ele? De tudo: de Deus, das flores, da natureza, da origem dos sentimentos, da sua família, da sua nação… Enfim, tudo aquilo que o fez crescer, que fez de Paul aquilo que ele é, como ser humano e como cidadão americano (Poderão ler um excerto desta obra clicando aqui ).

Reservado e tímido por natureza, Paul Auster possui o dom que todos os tímidos possuem: a capacidade de observar os outros e de os ver tal como são, despidos da máscara da classe social, do prestígio, da cor pele e do sexo. Porque a Arte genuína só pode ser criada através da introspeção e do silêncio. Por isso mesmo, num mundo onde o “já” e o “rápido” imperam, não é de espantar que sejam tão poucos os artistas do século XXI que venham a deixar alguma marca nos próximos anos.Brilhante e clarividente, eis uma obra que não só irá tocar o nosso coração como também nos transmitirá uma sensação de estranha familiaridade: é que muitos dos seus pensamentos, curiosamente, já nos ocorreram numa fase das nossas vidas, nem que tenha sido apenas uma única vez…



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