Livro
do Mês
Relatório do Interior,
de Paul Auster
Poucos
autores americanos são tão amados na Europa como Paul Auster. De
facto, existe um grupo de intelectuais dos Estados Unidos da América
– pintores, cineastas, músicos, escritores, etc - que, ainda antes
de serem respeitados nas terras do tio Sam, já são amados e
seguidos pelos Europeus. É o caso, por exemplo, do realizador Clint
Eastwood, que só começou a ser verdadeiramente respeitado quase dez
anos depois de ter sido “descoberto” no festival de Cannes.
Dir-se-ia que os americanos não valorizam o que é deles e – pior
ainda! – desprezam os seus mestres e génios que são venerados na
Europa. Para eles, qualquer artista ou pensador que merece a cotação
de cinco estrelas no território Eurotrash
não tem o direito de ganhar um Óscar ou um Grammy.
Felizmente, esta mentalidade já está a mudar, o que quer dizer que
as gerações mais jovens já não parecem ter tantos complexos de
inferioridade…
Se estão à espera de
histórias lamechas, estilo Nora Roberts ou Nicholas Sparks, podem
tirar o cavalinho da chuva: Paul Auster é um escritor de génio, um
dos poucos escritores que, neste século de literatura tão medíocre,
merecem mesmo
o nome de “escritor”. A sua obra literária não tem nada a ver
com a paraliteratura que se vende hoje nas Bertrands e Fnacs. São
livros que não só nos deleitam como também nos obrigam a pensar no
mundo em que vivemos, e qual o papel que desempenharemos nele. E
desta vez, Paul Auster embrenha-se uma vez mais no seu passado. De
que fala ele? De tudo: de Deus, das flores, da natureza, da origem
dos sentimentos, da sua família, da sua nação… Enfim, tudo
aquilo que o fez crescer, que fez de Paul aquilo que ele é,
como ser humano e como cidadão americano (Poderão ler um excerto
desta obra clicando aqui ).
Reservado e tímido por
natureza, Paul Auster possui o dom que todos os tímidos possuem: a
capacidade de observar os outros e de os ver
tal como são, despidos da máscara da classe social, do prestígio,
da cor pele e do sexo. Porque a Arte genuína só pode ser criada
através da introspeção e do silêncio. Por isso mesmo, num mundo
onde o “já” e o “rápido” imperam, não é de espantar que
sejam tão poucos os artistas do século XXI que venham a deixar
alguma marca nos próximos anos.Brilhante e clarividente, eis
uma obra que não só irá tocar o nosso coração como também nos
transmitirá uma sensação de estranha familiaridade: é que muitos
dos seus pensamentos, curiosamente, já nos ocorreram numa fase das
nossas vidas, nem que tenha sido apenas uma única vez…
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