Tem sido sempre hábito – exceto por motivos de força maior –
publicitar semanalmente um livro que faça parte da nossa estante. Como o tema deste mês tem como objetivo
informar a comunidade das novas aquisições – Novidades
Fresquinhas! – as escolhas, desta vez, foram muito variadas, e as três
capas acima demonstradas são prova disso: o primeiro livro é uma compilação de
crónicas do grande comediante e escritor Ricardo Araújo Pereira, o segundo é
uma lindíssima narrativa sobre aquilo que verdadeiramente interessa na nossa
vida e, por fim, o terceiro é a história real de uma rainha portuguesa que – se
existisse hoje – estaria a ser achincalhada nas redes sociais.
Comecemos pela primeira sugestão: Reaccionário com dois
Cês, do escritor acima citado, faria inveja ao grande e genial George
Carlin. Não perdoa ninguém, especialmente os movimentos da extrema-esquerda.
Todos os usual suspects lá estão: a extrema-direita, os falsos
católicos, o Trump, etc. Mas basta ler as crónicas Zuckerberg 1 –
Shakespeare 0, Mariquices Linguísticas e Perguntar Ofende,
entre outros, para nos apercebermos até que ponto este pensador odeia a cultura
do cancelamento, o movimento woke, e todos estes “novos puritanos”. Numa
altura em que supostamente se festejam os 50 anos do 25 de abril, Ricardo
Araújo Pereira é um pensador que, por detrás do riso, manifesta-se genuinamente
preocupado com o pensamento tribal e o fim da liberdade de expressão.
A segunda sugestão comove e emociona: Flores, de
Afonso Cruz, relata a história de um marido e pai, preso pelas correntes do
tédio, da monotonia, da velhice. O seu casamento está em vias de acabar em
divórcio, pai e filha quase que não se falam, e um dos seus vizinhos, graças a
um aneurisma, perdeu todas as suas memórias. Ao mesmo tempo em que a sua vida
está a desabar – e provavelmente a sanidade -, a nossa personagem principal
agarra-se ao desafio de reencontrar o passado deste novo e inesperado amigo. E não
podem ser mais diferentes um do outro: Ulme sofre com as angústias do mundo, ao
ponto de ter tentado construir um Golem (leiam o livro); o outro é quase um
zombie que se arrasta neste mundo, e só começa a despertar do seu torpor quando
este vizinho tomba dos céus e cria uma marca profunda na sua vida (Criará?
Leiam o livro).
A terceira sugestão centra-se na vida de D. Maria I, uma das
nossas rainhas que ficou para a História com a fama de ter morrido louca.
Jennifer Roberts é uma conhecida escritora de biografias históricas, que se
leem em jeito de romance. Estes livros são perfeitas “leituras de férias”: não
só servem para entreter os leitores como ensinam um pouco de História. Jennifer
Roberts não hesita em falar de uma mulher muito humana e bondosa mas muito religiosa,
bastante atrasada no seu tempo. Porém, D. Maria I foi também um rainha que
enfrentou um marquês de Pombal muito hostil, um país muitíssimo atrasado e
analfabeto, a chegada do Iluminismo, 6 mortes trágicas em apenas três meses,
que a puxaram para o abismo da loucura, e apresentou todas as contradições que
se esperam das pessoas deste tempo. D. Maria I não era ignorante nem estúpida,
era simplesmente uma mulher do seu século, foi alguém que assistiu ao fim de
uma Era e ao nascimento de Outra. Foi educada para ser uma rainha ultracatólica
num mundo cada vez mais “iluminado”, científico e industrializado. Por isso
mesmo, os historiadores descrevem a sua vida com mais compaixão do que raiva.
Os livros podem ser diferentes, mas o leitor é sempre o
mesmo. Dos três que sugerimos, nós acreditamos firmemente que pelo menos um
despertará a vossa atenção.
Levem-nos, que as férias estão à porta.
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