Livro do Mês
O
Gerânio, contos dispersos - Flannery O’Connor
Contar uma história em poucas páginas é
das coisas mais difíceis de se fazer. A tendência de um ser humano é a de exagerar
na narrativa, decorar as personagens com
mil e um pormenores, inventar
bastantes personagens, relatar peripécias paralelas… Mas sintetizar uma
narrativa simplificando os pormenores, ao mesmo tempo em que a história não
perde o seu brilho e a sua beleza é das tarefas mais difíceis para um escritor.
São, de facto, poucos aqueles que conseguem dominar estar
arte: Maupassant, Eça de Queirós, Vercors, estes são alguns exemplos que
ficaram para a História da literatura.E Flannery O’Connor.
Escritora dos Estados Unidos da América, o seu
olhar sobre a discriminação racial, bem como outros preconceitos sociais –
particularmente a discriminação que vem dos estados do Sul – gerou um impacto
muito forte nas mentalidades dos anos 50 e 60, à semelhança de outras grandes
obras como Não matem a cotovia e A cabana do pai Tomás. O Gerânio é uma
das muitas histórias asfixiantes sobre o racismo: eis o caso de um homem
branco, que não consegue ultrapassar a diferença de cor, ao ponto de se tornar
perigoso para o vizinho do lado.
Fortes,
brilhantes e, muitas vezes, depressivos, os contos de Flannery O’Connor não são
para se ler quando estamos a passar por momentos mais tristes. No entanto, são
uma leitura indispensável para tentarmos compreender a evolução do pensamento
que teve lugar na era dos anos sessenta, bem como o seu impacto mundial na
nossa sociedade atual.