quarta-feira, outubro 22, 2008

Fernando Pessoa

Creio que Fernando Pessoa e a sua obra poética “Mensagem” não serão desconhecidos para a grande maioria de vós! O que muitos talvez não saibam, é que, entre os heterónimos de Pessoa, está um astrólogo – Raphael Baldaya –, que nos deixou em legado um saboroso “Tratado de Astrologia”, que permanece intacto durante anos no seu baú de inéditos.
A astrologia era uma das áreas de interesse do grande poeta. Pessoa fez inúmeros estudos do seu próprio perfil astrológico (o mesmo valendo para os seus heterónimos) e, em 1916, chegou a considerar a possibilidade de se instalar como astrólogo em Lisboa.
Homenageando este lado do poeta, aqui fica um dos doze poemas do “Mar Português” (segundo livro da “Mensagem”), que celebra precisamente o signo de Escorpião (de 22/Outubro a 21/Novembro), ascendente de Fernando Pessoa:

VIII. FERNÃO DE MAGALHÃES

No vale clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras disformes e descompostas
Em clarões negros do vale vão

Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.
De quem é a dança que a noite aterra?
São os Titãs, os filhos da Terra,

Que dançam na morte do marinheiro
Que quis cingir o materno vulto –
Cingi-lo, dos homens, o primeiro -,
Na praia ao longe por fim sepulto.

Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:

Que até ausente soube cercar
A terra inteira com seu abraço.
Violou a Terra. Mas eles não
O sabem, e dançam na solidão;

E sombras disformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do vale pelas encostas
Dos mudos montes.

Escorpião, cujas palavras-chave são intensidade e profundidade, é o signo em que o indivíduo se dispõe a colocar, conscientemente, os seus recursos de “guerreiro” ao serviço da vida e da humanidade. A pessoa do signo de Escorpião aspira a “cingir o materno vulto” da Terra no seu abraço, nem que para tal seja preciso dar a sua vida.
Terá, entretanto, que enfrentar inúmeras provas interiores: ir ao encontro das sombras “disformes e descompostas” dentro de si mesmo, dialogar com os seus fantasmas, dançar com os seus Titãs (leia-se forças incontroláveis do inconsciente), ou, nas palavras de um heterónimo de Pessoa, “sentir tudo de todas as maneiras”, morrendo e renascendo no processo, qual Fénix.
Este poema, que nos remete para a vida de Fernão de Magalhães, navegador português dos idos de quinhentos e primeiro homem a circum-navegar o globo terrestre, é ícone disso mesmo: Fernão de Magalhães foi mais longe do que qualquer outro homem de sua época, e, mesmo tendo morrido na empreitada, até hoje é lembrado pelo seu feito.


Para saberes mais sobre a vida aventurosa e as viagens de Fernão de Magalhães:
http://www.vidaslusofonas.pt/fernaomagalhaes.htm

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá

Já sabia que Pessoa era um grande entendido em astrologia e que os seus heterónimos tinham todos uma carta astral e uma personalidade diferente, de acordo com essa carta.

Olinda

Natureza Poética disse...

Gostei muito de conhecer mais sobre esse lado de "Fernando Pessoa".
Agradeço o convite à leitura tão interessante.
Vou guardar o link para voltar numa outra hora.

Meus votos de muito sucesso para blog e um abraço.

Anónimo disse...

Curiosamente, descobri o que nos conta neste post hoje ... assim como este blogue!
Muito interessante!
Abraço,
M.