Creio que Fernando Pessoa e a sua obra poética “Mensagem” não serão desconhecidos para a grande maioria de vós! O que muitos talvez não saibam, é que, entre os heterónimos de Pessoa, está um astrólogo – Raphael Baldaya –, que nos deixou em legado um saboroso “Tratado de Astrologia”, que permanece intacto durante anos no seu baú de inéditos.A astrologia era uma das áreas de interesse do grande poeta. Pessoa fez inúmeros estudos do seu próprio perfil astrológico (o mesmo valendo para os seus heterónimos) e, em 1916, chegou a considerar a possibilidade de se instalar como astrólogo em Lisboa.
Homenageando este lado do poeta, aqui fica um dos doze poemas do “Mar Português” (segundo livro da “Mensagem”), que celebra precisamente o signo de Escorpião (de 22/Outubro a 21/Novembro), ascendente de Fernando Pessoa:
VIII. FERNÃO DE MAGALHÃES
No vale clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras disformes e descompostas
Em clarões negros do vale vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.
De quem é a dança que a noite aterra?
São os Titãs, os filhos da Terra,
Que dançam na morte do marinheiro
Que quis cingir o materno vulto –
Cingi-lo, dos homens, o primeiro -,
Na praia ao longe por fim sepulto.
Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
A terra inteira com seu abraço.
Violou a Terra. Mas eles não
O sabem, e dançam na solidão;
E sombras disformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do vale pelas encostas
Dos mudos montes.
Escorpião, cujas palavras-chave são intensidade e profundidade, é o signo em que o indivíduo se dispõe a colocar, conscientemente, os seus recursos de “guerreiro” ao serviço da vida e da humanidade. A pessoa do signo de Escorpião aspira a “cingir o materno vulto” da Terra no seu abraço, nem que para tal seja preciso dar a sua vida.
Terá, entretanto, que enfrentar inúmeras provas interiores: ir ao encontro das sombras “disformes e descompostas” dentro de si mesmo, dialogar com os seus fantasmas, dançar com os seus Titãs (leia-se forças incontroláveis do inconsciente), ou, nas palavras de um heterónimo de Pessoa, “sentir tudo de todas as maneiras”, morrendo e renascendo no processo, qual Fénix.
Este poema, que nos remete para a vida de Fernão de Magalhães, navegador português dos idos de quinhentos e primeiro homem a circum-navegar o globo terrestre, é ícone disso mesmo: Fernão de Magalhães foi mais longe do que qualquer outro homem de sua época, e, mesmo tendo morrido na empreitada, até hoje é lembrado pelo seu feito.

Para saberes mais sobre a vida aventurosa e as viagens de Fernão de Magalhães:
http://www.vidaslusofonas.pt/fernaomagalhaes.htm
3 comentários:
Olá
Já sabia que Pessoa era um grande entendido em astrologia e que os seus heterónimos tinham todos uma carta astral e uma personalidade diferente, de acordo com essa carta.
Olinda
Gostei muito de conhecer mais sobre esse lado de "Fernando Pessoa".
Agradeço o convite à leitura tão interessante.
Vou guardar o link para voltar numa outra hora.
Meus votos de muito sucesso para blog e um abraço.
Curiosamente, descobri o que nos conta neste post hoje ... assim como este blogue!
Muito interessante!
Abraço,
M.
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