quinta-feira, abril 29, 2010

Lição de Vida- Saber Escolher Os Amigos Certos

 

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Loucos e Santos

Escolho os meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pelo brilho dos olhos.
Tem que ter o brilho questionador e a tonalidade inquietante.
Não me interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero o meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho os meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri comigo, não sabe sofrer comigo.
Meus amigos são todos assim: metade loucura, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Quero-os crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois, ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" não passa de uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde, poeta, dramaturgo e escritor inglês

terça-feira, abril 27, 2010

Bibliomúsica – O Círculo É A História Interminável

 

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Para muitos, Bobby Mcferrin será sempre aquele cantor que inventou a super-feliz música Don't Worry, Be Happy. Mas para os amantes do Jazz, é um compositor extraordinário e dinâmico, que faz verdadeiros milagres com a sua voz.

The Circle Songs é um álbum que, como o próprio nome indica, é dedicado a “canções circulares”, que mais parecem mantras budistas sem princípio, meio e fim. Ao princípio estranhamos, depois entranhamos. Se nos “deixarmos ir”, se relaxarmos e nos deixarmos levar pela repetição hipnótica dos sons, quase temos a sensação de que entramos num mini-estado de meditação.

Este cd é para se ouvir à noite ou num dia de chuva, à luz de velas e, de preferência sem familiares e amigos por perto.

Circle Song Six

segunda-feira, abril 26, 2010

Livro Da Semana

Libertação Animal, De Peter Singer

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Corria a década dos anos 90, quando a Internet explodiu em praticamente todas as casas do Mundo Ocidental. É verdade que esta já existia nos anos 80, mas era tão cara e tão lenta que poucos eram aqueles que tinham acesso a tal privilégio. Quanto muito, eram as empresas e companhias que começavam a tirar proveito desta nova ferramenta de vendas e de negócios.

Para quem tem mais de 30 anos, as memórias estão muito nítidas: este serviço era feito única e exclusivamente por uma linha de telefone, levava séculos a abrir e estava sempre a cair, para grande desepero dos seus utilizadores. Hoje, têmo-la em todo o lado e a uma velocidade que faz inveja à primeira geração que usufruiu desta gigantesca biblioteca de informação.

Por que motivo estamos nós a falar da Internet num artigo dedicado ao nosso livro da semana? Expliquemos melhor: antes desta ferramenta de conhecimento, tínhamos os livros, a televisão, os jornais, o cinema e as rádios. À excepção de algumas reportagens nos jornais, nenhum destes serviços públicos, absolutamente nenhum, focava os direitos dos animais. Lá se falava de vez em quando dos cães abandonados, lá se falava de vez em quando dos bichinhos nos jardins zoológicos, lá se falava dos “maluquinhos” da Greenpeace e dos seus boicotes “esquisitos”. Mas nunca se saía daí. Foi a Internet que mudou tudo, que provocou uma extraordinária revolução de mentalidades, revolução essa que já andava a germinar nos anos sessenta e setenta. Foi a Internet que deu força a conceitos como “Aquecimento Global” e “Direitos dos animais”, conceitos estes com que muitos “putos” já se identificavam, mas que não tinham nem expressão nem voz nos meios de comunicação mais tradicionais. Explodiram as gravações clandestinas em aviários e ganadarias, explodiram as “guerilla tv” em laboratórios e em canis, explodiram os sites e blogs a denunciar maus-tratos a animais, explodiram os testemunhos gravados e comentados acerca de jogos “tradicionais” como, por exemplo, a tourada, a luta de cães e as lutas de galinhas, entre outras “brincadeiras didácticas” criadas pelos Homens, para os Homens e para único e exclusivo divertimento dos Homens.clip_image004

Mas antes desta explosão, o filósofo e bioético Peter Singer (foto à esquerda) escreveu em 1975 um livro que se tornou a Bíblia dos defensores dos direitos dos animais. Contra tudo e contra todos, este escritor demonstrou A+B até que ponto o ser humano é racista para com as restantes espécies deste planeta. A este preconceito utilizou o nome Especismo, ou seja, o desprezo por qualquer vida neste mundo, a não ser que seja a Humana. Este termo já tinha sido inventado por Richard D. Ryder, mas foi Peter Singer que o tornou famoso e conhecido por todos. Aliás, o capítulo 5 deste livro explica, e muito bem, quando e de onde é que veio a ideia de que nós somos superiores e os “outros” são inferiores, por que motivo foi socialmente aceite e por que motivo ainda hoje é conveniente para milhões e milhões de seres humanos que este tipo de “racismo” continue a ser válido. Para isso, Singer recorre ao conceito de Moralidade, isto é, a nossa responsabilidade, as nossas emoções e a nossa honestidade para com todos os seres sentientes à nossa volta.clip_image006

Até ao capítulo II, o leitor está gostar muito deste livro e a concordar a 100% com ele. Mas as coisas começam a piorar, a partir do momento em que entramos para o capítulo III (Visita a Uma Unidade de Criação Intensiva) e chegamos à conclusão de que os verdadeiros culpados por toda esta carnificina...somos nós, o “cidadão comum”. A partir daqui, temos que começar a fazer escolhas: ou mudamos a nossa vida (a secção dos apêndices está cheia de dicas e de sugestões bem práticas) ou não passamos de hipócritas, que falamos dos “animaizinhos” porque esta conversa está muito in e é boa para arranjar parceiro/a.

Vinte anos depois, esta obra foi submetida a uma revisão, e podemos concluir que muita coisa já mudou: a título de exemplo, já é comum muitos restaurantes terem pratos vegetarianos, já é comum muitas pessoas se recusarem terminantemente a usar peles verdadeiras, já é comum muitas marcas de cosméticos não testarem os seus produtos em animais. Quanto à Comunidade Europeia, não só proibiu no ano passado o uso de cobaias em qualquer produto de beleza como, neste momento, está a criar leis que tenham como objectivo modificar as condições de vida em aviários e ganadarias.

Peter Singer não foi o criador da ideologia dos “Direitos dos Animais” mas foi o primeiro a trazê-la ao público. E a Internet fez-lhe um excelente serviço (vale a pena ler, aqui,  uma crítica dedicada a este livro:

Sim: o mundo pode mudar e nem sempre é para pior.

Comerciais Históricos da PETA

Peles... E se fizessem com Você? (Publicidade)

Testes de Animais em Laboratórios (Publicidade)

Imagens retiradas de e de !

domingo, abril 25, 2010

25 de Abril – A Importância de Dizermos NÃO

 

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Diz NÃO à liberdade que te oferecem, se ela é só a liberdade dos que ta querem oferecer. Porque a liberdade que é tua não passa pelo decreto arbitrário dos outros.
Diz NÃO à ordem das ruas, se ela é só a ordem do terror. Porque ela tem de nascer de ti, da paz da tua consciência, e não há ordem mais perfeita do que a ordem dos cemitérios.
Diz NÃO à cultura com que queiram promover-te, se a cultura for apenas um prolongamento da polícia. Porque a cultura não tem que ver com a ordem policial mas com a inteira liberdade de ti, não é um modo de se descer mas de se subir, não é um luxo de «elitismo», mas um modo de seres humano em toda a tua plenitude.
Diz NÃO até ao pão com que pretendem alimentar-te, se tiveres de pagá-lo com a renúncia de ti mesmo. Porque não há uma só forma de to negarem negando-to, mas infligindo-te como preço a tua humilhação.
Diz NÃO à justiça com que queiram redimir-te, se ela é apenas um modo de se redimir o redentor. Porque ela não passa nunca por um código, antes de passar pela certeza do que tu sabes ser justo.
Diz NÃO à verdade que te pregam, se ela é a mentira com que te ilude o pregador. Porque a verdade tem a face do Sol e não há noite nenhuma que prevaleça enfim contra ela.
Diz NÃO à unidade que te impõem, se ela é apenas essa imposição. Porque a unidade é apenas a necessidade irreprimível de nos reconhecermos irmãos.
Diz NÃO a todo o partido que te queiram pregar, se ele é apenas a promoção de uma ordem de rebanho. Porque sermos todos irmãos não é ordenarmo-nos em gado sob o comando de um pastor.
Diz NÃO ao ódio e à violência com que te queiram legitimar uma luta fratricida. Porque a justiça há-de nascer de uma consciência iluminada para a verdade e o amor, e o que se semeia no ódio é ódio até ao fim e só dá frutos de sangue.
Diz NÃO mesmo à igualdade, se ela é apenas um modo de te nivelarem pelo mais baixo e não pelo mais alto que existe também em ti. Porque ser igual na miséria e em toda a espécie de degradação não é ser promovido a homem mas despromovido a animal.
E é do NÃO ao que te limita e degrada que tu hás-de construir o SIM da tua dignidade.
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'

Comunicado por rádio do Movimento Das Forças Armadas

Proclamação da Junta de Salvação Nacional

 

Oh, Faz Favor, Era Uma Bica E Um Viagens Na Minha Terra!

Ainda a propósito do Dia Mundial do Livro:

A crise aperta, todos nós o sabemos, e se já é difícil convencer um português a comprar livros, mais difícil é vendê-los em épocas de penúria. Segundo estatísticas nossas, mais de 100.000 livros por ano são “guilhotinados”, ou seja, vão parar ao Eco-ponto se, após um curto período de meses, não forem desejados por ninguém. Eu, que o diga: há cerca de dois meses atrás, andei à procura do romance O Homem do Animatógrafo, de Gert Hoffman, e disseram-me que essa obra não só já não estava à venda como, ainda por cima, nem sequer esperavam voltar a editá-la. O que é uma pena, pois foi uma das histórias mais bonitas que já li, para além de ter sido uma tocante homenagem ao Cinema Mudo.clip_image002

A atitude destas agências de livros é, por mais que nos desagrade dizer tal coisa, perfeitamente compreensível: não têm espaço para guardar todas as suas edições e de certeza absoluta que não vão ficar à espera que uma leitora “excêntrica” como eu apareça a pedir um exemplar de um livro publicado em 1993. O problema reside no facto de que muitas delas não fazem tenções nenhumas de doar livros a escolas e bibliotecas, precisamente porque (estão sentados???!!!) não querem pagar mais IVA por causa desta boa acção. É isso mesmo, ouviram bem: se tens uma oficina que edita livros, aprecias a cultura e queres oferecê-los a uma destas instituições, passa para cá o IVA e cala-te!!! Não admira que muitos acabem no eco-ponto... Mas há luz ao fundo do túnel: a nova Ministra da Cultura já está a preparar um novo documento legislativo, que isenta as editoras livreiras de pagar este imposto,caso desejem fazer doações, e pensa-se que a papelada legal estará definitivamente pronta no final da próxima semana (leiam aqui):. Se esta excelente ideia for mesmo levada para a frente, os nossos alunos e leitores de todas as classes sociais irão beneficiar e bem com esta nova decisão do governo evitando, assim, que muitas obras literárias desapareçam de vez do mapa do nosso país.

Mas se existe um povo que é capaz das ideias mais imaginativas do mundo, esse povo é o Norte-Americano: aqui há uns anos atrás, uns carolas inventaram uma máquina chamada Expresso Book Machine (vale a pena ler esta história aqui:http://www.publico.pt/Cultura/livros-a-medida-das-nossas-necessidades_1431813 ) . Basicamente, é uma máquina multibanco de fazer livros. O leitor digita o nome da obra e do autor, mete o cartão de débito ou de crédito e... PLIM!: “olhó” livro fresquinho, acabadinho de ser publicado!

A ideia é brilhante e tem 500.000 pernas para andar: é ecológica (só se gasta o papel necessário) e permite que antigas edições estejam sempre à mão de qualquer um. Por isso mesmo, Zita Seabra, a dona da Editora Alêtheia, quer contribuir para combater os livros em stock e o desperdício, acabar com armazéns de monos e recuperar bons livros esgotados, e por isso criou uma empresa dedicada à impressão a pedido. É a Várzea da Rainha Impressores SA (VRI), teve um investimento de um milhão de euros, está sediada em Óbidos e brevemente vai aceitar encomendas através de um portal na Internet que está a ser construído. Para já, disponibilizam toda a informação sobre os seus serviços no site.

Não nos venham, portanto, dizer que em Portugal não há pessoas com iniciativa: Zita Seabra está de parabéns e, se a sua empresa tiver futuro, os livros irão ficar estupendamente baratos, pois serão publicados segundo o desejo do leitor e não através de “estudos de mercado”.

Será que é desta que eu voltarei a ler O Homem do Animatógrafo?

Imagem retirada daqui

sábado, abril 24, 2010

sexta-feira, abril 23, 2010

Se Conduzir, Não Leia – Dia Mundial do Livro

 

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Tudo terá acontecido ao fim da tarde, quando um passageiro de um autocarro de Birmingham filmou o motorista a conduzir com os cotovelos por, alegadamente, ter as mãos ocupadas com um livro que estaria a ler.

O vídeo foi divulgado na internet, e a National Express West Midlands, empresa transportadora, emitiu um comunicado onde dava conta da suspensão do profissional.

Segue-se agora um processo administrativo que, segundo o comunicado citado pela BBC, poderá culminar na «provável demissão» do motorista.

A notícia retirada do Sol, em http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=169871&tab=community . O leitor também poderá assistir ao video neste link.

quarta-feira, abril 21, 2010

Olha O Legume Fresquinho!!!!!

 

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Amanhã vai ser o Dia Mundial Da Terra e, por isso mesmo, a nossa escola decidiu celebrá-lo com pompa e circunstância: a Feira Biológica vai ter palestras, legumes, frutas e produtos bem biológicos, exposições, documentários, jogos didácticos… Escolham o que quiserem, porque o dia vai ser bastante colorido, aromático e divertido.

Mas já que estamos a falar desta data comemorativa, vamos também colocar uma questão aos leitores: o que seria do Planeta Terra sem a presença da espécie humana? O documentário A Vida Sem Nós (O Mundo Sem Ninguém, na versão do Brasil), feito em dois episódios, do Canal História, responde-nos precisamente a esta questão. E os resultados deste “devaneio” são surpreendentes... e um pouco deprimentes. É que, afinal, nós não somos precisos para absolutamente nada. Se amanhã desaparecêssemos, o mundo suspiraria de alívio. Deixamos aqui um pequeno cheirinho: o início do documentário acima falado (poderá ser visto na íntegra, no youtube).

Se é verdade que os Humanos não são necessários ao planeta, então... quem somos nós, que fazemos neste Cosmos, para que servimos?

Três questões que amanhã deverão ser sabiamente ponderadas.

A Vida Sem Nós, parte 1 (Início do documentário)

Imagem retirada daqui !

terça-feira, abril 20, 2010

Livro Da Semana

O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde, Robert Louis Stevenson

A história começa logo de uma maneira bastante estranha: dois impecáveis e irrepreensíveis cavalheiros ingleses, daqueles que nunca se irritam, que nunca mudam de expressão e que são a perfeita caricatura do Englishman sem pecado nem mácula, decidem dar um passeio num pátio antigo, cheio de moradias pitorescas. É então que um deles aponta para uma porta vinda de uma casa sinistra a cair aos bocados e conta ao seu amigo o que testemunhou numa noite: uma menina chocou por acidente com um homem, e este, sem qualquer dó nem piedade, espancou-a e pisoteou-a com incrível brutalidade.

Não demorou muito para que um grupo de clip_image002homens e mulheres saísse à rua para saber o que se passava. Enfield (o cavalheiro que está a contar a história) chamou um médico e, enquanto esperava por ele, ameaçou-o com a desgraça pública. Disse que lhe arruinaria a sua vida se aquela aberração humana não tentasse pelo menos compensar a família da criança pelo que fez. O mais bizarro de tudo residia no facto de esta criatura provocar em todos um ódio quase incontrolável. Nunca vi um círculo de caras tão indignadas: e o homem no meio, com uma espécie de indiferença zombeteira (amedrontado, todavia, como notei) mas orgulhoso, meu caro amigo, como Satanás. Mas o Sr. Hyde, como se chamava, entrou por aquela porta e saiu com um chorudo e milionário cheque de 90 livras (bastante dinheiro para a altura).

A história não acaba aqui: o cheque foi pago por um prestigiado e muitíssimo respeitado médico da cidade. Por que motivo haveria um ser humano tão admirado pela sociedade de proteger um monstro que espanca crianças sem qualquer compaixão? Que relação existia entre estes dois homens? Chantagem? Alguma “asneira” que Dr. Jekyll terá cometido nos seus estouvados anos de juventude, e agora estava nas mãos deste psicopata? Mas, e isto era ainda mais estranho, aquele homem monstruoso continuava a ter a chave de acesso para aquela casa. Entrava e saía quando queria... Que mistério existia por detrás disto tudo? O melhor, concluem os dois amigos, é nem pensar no assunto, é respeitar a privacidade do distinto médico.

Mas isto não quer dizer que Enfield deixe de ficar com a pulga atrás da orelha: assim que sabe que o seu grande amigo Dr. Jekyll tenciona passar, em testamento, toda a sua fortuna para essa sinistra criatura, juntou dois mais dois: aquele homem perverso e sórdido conhece algum segredo bastante desagradável do seu amigo de longa data e tenciona usá-lo para lhe roubar a fortuna toda. É então que decide fazer as suas próprias investigações. Mas o que irá descobrir estará para além do que alguma vez na vida foi capaz de imaginar...

O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde é considerada uma das “obras psicológicas” mais extraordinárias da História da Humanidade: até que ponto nós estaremos dispostos a erradicar o “mal” que existe dentro de todos nós e, acima de tudo, de que maneira o poderemos fazer? Escrito no século XIX numa Londres horrivelmente conservadora e religiosa (os Ingleses naquele tempo eram tão esquisitos e tão torcidos, que chegavam a tapar os pés das mesas com uma longa toalha, porque mostrar “as pernas” daquele objecto era uma coisa indecente!), este livro aborda, acima de tudo, duas coisas: o desejo de sermos livres e a culpa que essa liberdade nos pode trazer. De facto, os Ingleses do século XIX (a famosa e sinistra Época Vitoriana) sentiam culpa a toda a hora: culpa de sentirem desejo sexual; culpa de sentirem emoções como o riso, a raiva ou o amor; culpa de serem seres humanos, cheios de falhas. E sentiam vergonha do seu corpo e da sua consciência. Acima de tudo isto, existia o “Castigo Divino”: Deus via tudo, Deus condenava todos os que falhassem, as fornalhas do Inferno estavam sempre acesas para toda a eternidade. Numa sociedade como esta, não seria óptimo conseguirmos arranjar uma maneira de pecarmos sem sentirmos culpa ou vergonha? Neste livro, tal é, sem dúvida, possível. Mas o preço que Dr. Jekyll pagará pela sua descoberta destruirá a sua sanidade e a sua vida.

Ninguém consegue erradicar o “mal” que existe dentro de nós. O máximo que podemos fazer será aprendermos a lidar com ele, aprendermos a controlá-lo, ao mesmo tempo em que desenvolvemos o nosso “lado luminoso”. E não existe receita secreta para criar homens bons, a não ser darmos aos nossos filhos muito amor, paciência, empatia e autoridade na medida e quantidade certas. Esta obra literária deixa-nos, portanto, um aviso: a repressão, o medo, a culpa e a vergonha não criam cidadãos mentalmente sãos, criam monstros que espezinham crianças numa noite fria de Inverno.

Não vamos contar o fim, pois não sabemos se o/a leitor/a já leu este livro. Mas se nunca o leu ou nunca ouviu falar desta história, prepare-se para uma grande, grande surpresa.

segunda-feira, abril 19, 2010

Ontem Foi O Dia Mundial Dos Monumentos E Sítios

Somos o que somos, graças à nossa História, graças à nossa cultura, aos nossos ideais, graças às circunstâncias que ocorreram nas nossas vidas, graças ao legado cultural/económico/gastronómico/social que os nossos pais e clip_image002avós nos transmitiram, graças às relações amigáveis ou pouco amigáveis que tivemos com países vizinhos e alianças poderosas, graças aos nossos heróis, poetas, escritores, músicos, pensadores. E os monumentos são precisamente um testemunho do nosso passado e da nossa herança como Portugueses e como seres humanos.

A forma como respeitamos e preservamos o nosso passado, diz muito de nós: os Espanhóis já adquiriram o hábito de restaurar tudo o que está ligado à História e Arte da sua nação. Porém, nós Portugueses deixamos cair e destruir todas as evidências da nossa História e Cultura. E os exemplos são infindáveis: a casa onde morou Aristides De Sousa Mendes, um dos maiores heróis portugueses e do mundo, está à beira do colapso (ver foto); a casa onde morou o escritor Almeida Garrett foi demolida pela Câmara Municipal de Lisboa; o convento de Cristo, em Tomar, um dos monumentos mais emblemáticos de Portugal, está a dar de si. A lista, infelizmente, é assustadora: segundo o jornal Expresso.pt, um terço do património mundial no nosso país está a precisar urgentemente de obras (esta notícia vale a pena ser lida: http://aeiou.expresso.pt/portugal-deixa-morrer-patrimonio=f489824 ). Ora, isto diz muito de nós: somos um povo que não se dá ao respeito, que já não é capaz de guardar uma pinga de amor-próprio, que já não tem a mais pequena migalha de auto-estima. E uma nação que não se dá ao respeito, que não se mima, que não se valoriza, é uma nação condenada à morte. Levamos a vida a olhar, cheios de rancor e inveja, para o que se faz “lá fora” e nunca damos valor àquilo que é nosso. Um povo que pensa e reage assim está morto.

Está bem, este é mais um dia mundial de qualquer coisa. Talvez (talvez...) os jornais abordem hoje o assunto, muito ao de leve, entre duas notícias de futebol. Já não é mau. Mas enquanto os Portugueses não reconquistarem a alegria e o orgulho do que fomos e seremos, não há esperança para a nossa nação.

Porque um país que precisa de Mundiais de Futebol para ter um bocado de auto-estima é um país que já não existe.

Deixamos aqui um excelente video da National Geographic sobre Portugal.

Isto É Portugal

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sexta-feira, abril 16, 2010

11 Anos A “Sair Do Armário”

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Para aqueles que nunca ouviram falar desta expressão, “sair do armário” é uma frase que serve para descrever a coragem de pessoas vindas de grupos socialmente discriminados ou indivíduos que possuem ideias ou comportamentos que não são bem vistos pela maioria, e que finalmente arranjam forças para assumir publicamente aquilo que são ou fizeram ou fazem: sim, sou gay/lésbica; sim, tornei-me muçulmano (ou budista ou cristão, dependendo do país em que estamos); sim, sou feminista; sim, sou alcoólico; sim, eu abortei; entre muitos outros exemplos.

Actualmente, a minoria que está a dar que falar é a dos “novos ateus”: fartos de serem discriminados e insultados nos Estados Unidos da América, arregaçaram as mangas, juntaram-se e agora a sua voz e ideais estão a criar polémica e escândalo nas terras dos Tio Sam.

Isto, para um português, é extremamente confuso e estúpido: por que motivo alguém que não acredita em Deus (a palavra “ateu” significa exactamente isto) é escorraçado e desprezado pela sua sociedade? Afinal, acreditar ou não na existência de uma entidade superior que criou o universo e os homens não passa de uma questão de fé ou não-fé. Não se pode provar cientificamente que ela existe e não se pode provar cientificamente que ela não existe. Uma vez que estamos em situação de empate, para quê a confusão?

Infelizmente, o 11 de Setembro e a queda das torres gémeas desencadeou nesta primeira década uma onda de fanatismo religioso. As religiões voltaram a entrar em guerra umas contra as outras, o mundo tem estado a pagar um preço muito caro por isso, a Ciência tem sido fortemente e brutalmente atacada, e países que, tradicionalmente, já são muito religiosos, tornaram-se ainda mais adeptos da fé em Deus. É o caso dos Estados Unidos da América. Para piorar ainda mais o cenário, o penúltimo presidente desta nação, George Busch, um “novo religioso” insuportavelmente fanático, levou oito anos a misturar Fé com política, a ponto de interferir em tudo, até no sistema de ensino. Actualmente, alguém que queira concorrer para um emprego tem obrigatoriamente que preencher uma alínea: “a que religião pertence?”. Se não colocar lá nenhuma, poderá ficar desempregado para sempre, porque os ateus são, desde há muito tempo, vistos como sendo pessoas imorais e adeptas de Satanás. E, para acabar com chave de ouro, a Europa e o mundo estão a importar estas ideias: países como a França, a Inglaterra, a Holanda, a Alemanha, a Itália e até a nossa vizinha Espanha estão a ser alvo de pressões de grupos religiosos cada vez mais intolerantes e cada vez mais intrometidos. O fanatismo religioso tornou-se um cancro que está a contaminar o planeta inteiro e, por enquanto, Portugal tem escapado desta vaga de loucura.

Fartos de serem insultados e humilhados, os ateus, como já dissemos acima, arregaçaram as mangas, uniram-se e agora já não se calam, nem que a voz lhes doa. Escrevem livros, lançam debates, clip_image004dão conferências, fazem música, e muitos já estão, finalmente, a “sair do armário”. Ora, um programa de televisão verdadeiramente pioneiro e revolucionário foi o The Atheist Experience, que já dura há cerca de 11 anos. Inicialmente, o público era tão pequeno e os apoios eram tão poucos, que os seus programas eram passados em tvs piratas. Porém, com a explosão do Youtube e o apoio crescente de muita gente (até de muitos religiosos tolerantes, que já não têm paciência para os extremismos das suas fés), The Atheist Experience tem sido cada vez mais uma hora de grande desconforto para os fanáticos religiosos.

Basicamente, são duas pessoas ateias à frente de uma câmara, que atendem telefonemas vindos de todos os lados... e há cada louco que lá aparece! Há chamadas que se tornaram lendas vivas: uma senhora que acredita em milagres porque rezou a Deus para que a chuva parasse e (DAH!) aconteceu; um espectador que não acredita que o corpo humano tenha electricidade porque, se fosse assim, seríamos electrocutados no duche (esta é a mais famosa de todas!); um espectador que assumiu em público que Deus é quem manda, e se Ele lhe pedisse para matar os filhos, assim o faria; entre muitos outros exemplos. Porém, convém dizer aqui que The Atheist Experience não é um programa imparcial: o objectivo inicial foi apoiar os ateus que viviam escondidos, incentivá-los a assumir publicamente as suas ideias, explicar ao público a razão porque não acreditam em Deus e promover o debate entre religiosos e não-religiosos. E há muitos momentos em que assistimos a discussões bastante acaloradas entre crentes e não-crentes!

Ao fim de onze anos de luta, o programa tornou-se mais maduro e mais sereno, o público tornou-se mais vasto e já não são só os “maluquinhos da religião” que fazem os telefonemas e que mandam e-mails para insultar os “anti-heróis” da América. Podemos dizer que The Atheist Experience, de certa forma, tem desempenhado um bom serviço público: tem vindo a deitar por terra a ideia feita de que os ateus são monstros que comem criancinhas. E num mundo cada vez mais religioso e cada vez mais intolerante, shows como este não são apenas necessários, são cruciais para nos fazerem pensar, para nos ensinarem a questionar as nossas próprias ideologias, e para nos mostrar até que ponto as mesmas podem afectar negativamente ou positivamente as nossas vidas e as vidas dos outros.

Vejam estes videos e divirtam-se (ou melhor, chorem...).

O corpo não pode ter electricidade porque, se tomarmos banho, seremos electrocutados

Como Ensinar Um Fanático Religioso a Usar a Google

 

quarta-feira, abril 14, 2010

Hoje É O Dia Mundial Do Café!

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Os portugueses já não conseguem viver sem ele: segundo estatísticas, os lusitanos bebem no mínimo três “bicas” (ou “cimbalinos”, se estivermos no Porto) por dia. Gostamos dele numa chávena, num bolo, no molho de um bom bife, num perfume, no aroma de uma casa, num champô, num creme para hidratar o corpo, numa fotografia, num quadro…

Os povos latinos são doidos por este licor dos deuses e transformaram-no numa verdadeira obra de arte. Que o digam os italianos, os franceses, os portugueses, os espanhóis… Sem café de manhã andamos aos tombos pela casa ou no nosso local de trabalho; sem café não há conversas longas na esplanada; sem café não há cigarrinho para fumar; sem café não há desabafos, boas notícias, confissões… A pergunta “Vamos tomar um cafezinho?” é hoje sinónimo de “Anda conversar um bocado”, e até aqueles que não o consomem percebem que estão a receber um convite para, como dizem os brasileiros, “bater uma prosa”.

Durante o século XVII, esta maravilhosa substância era considerada um afrodisíaco, devido às suas propriedades “excitantes”: quem não está habituado a esta bebida fica eléctrico, agitado. Por isso mesmo, foi proibida pela Igreja (o que só fez com que o café se tornasse ainda mais desejado e mais sexy…). Hoje, os portugueses já estão habituadíssimos à boa “biquinha” logo de manhã, e parece que já nem conseguem trabalhar sem ele.

Aqui deixamos a nossa aromática homenagem, e vejam este divertido e pequenino vídeo.

História do Café

 

Imagem retirada daqui

terça-feira, abril 13, 2010

Enrolada Num Belíssimo Pano: O Sari

 

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Não há ninguém que não o conheça, mesmo sem sequer conhecer o seu verdadeiro nome, e recentemente a novela brasileira Companhia das Índias pôs metade do Brasil a vesti-lo. Chama-se Sari, é o traje tradicional mais conhecido da mulher indiana, tem cerca de 4 a 9 metros, usa-se de mil e uma maneiras... e não passa de um gigantesco e comprido pano que, devidamente colocado, transforma-se num prático e belíssimo vestido. Por baixo deste “lençol” gigantesco há duas peças de roupa necessárias, de forma a evitar a transparência do corpo feminino: a anágua (uma espécie de calças indianas) e um choli, uma blusa decotada, que não chega à cintura.

Não se sabe quando apareceu pela primeira vez. Os relatos mais antigos desta peça de roupa já existem desde 2800 aC e crê-se que tiveram origem nas zonas de Gujarat e Rajistão (Índia) e nas províncias de Punjab e Sindh (no actual Paquistão). Antes do Sari, existia o Dhoti (segunda foto à direita), hoje só usado pelos homens, mas durante muito tempo também foi uma vestimenta do sexo feminino. Uma curiosidade interessante: o diafragma é sempre mostrado, pois esta parte do corpo humano simboliza o centro do Universo. Por isso, para que este “respire”, é preciso deixá-lo a descoberto.

Existe uma grande discussão à volta da blusa Choli: vários historiadores afirmam que, antes dos ingleses dominarem a Índia, as mulheres desta nação usavam apenas a anágua, deixando a descoberto a parte de cima, envolta pelo sari. Antigamente, e segundo os clip_image004mesmos, usavam um pano a cobrir os seios e, às vezes, nem isso! Os ingleses, sempre puritanos e conservadores, não achavam piada nenhuma ao facto de o “belo sexo” andar por aí a exibir os seus seios, levemente revelados pela transparência deste belo tecido, por isso exigiram que estas se tapassem mais. Outros historiadores sugerem que, em várias partes da Índia, esta vestimenta já era usada, uma vez que o simples pano à volta desta parte do corpo podia causar um certo desconforto: um bocadinho de movimento a mais e... usem a vossa imaginação.

As cores de um Sari não servem apenas para embelezar o tecido, e todas elas possuem significado: o branco está associado à religião, particularmente quando se trata de rituais funerários. Por isso mesmo, as viúvas só usam esta cor. Já a cor vermelha está ligada aos guerreiros e é considerada um sinal de prestígio, coragem e valor. Também é, como não podia deixar de ser, a cor da sexualidade e, por isso mesmo, as noivas usam-no no casamento. O sari verde estava ligado originalmente à casta dos comerciantes, mas, devido ao crescimento do Islamismo (é a cor dos muçulmanos) muitas indianas, para evitarem confusões desnecessárias, optam hoje por não o usar. A cor azul tinha (e tem) uma profunda ligação com as castas dos fazendeiros, artesãos, tecelões e trabalhadores manuais. As castas superiores preferem não escolher esta coloração, pois dizem que a sua manufactura vem de “mãos impuras” (uma casta não é o mesmo que uma classe social. Duas pessoas de castas diferentes estão literalmente proibidas de contrair matrimónio, apesar de a lei indiana, actualmente, não considerar tal acto um crime. Para saberes mais sobre as castas consulta este link: http://gloriafperez.blogspot.com/2008/04/as-castas-na-ndia.html ). O preto não é uma cor muito usada, pois está associada à doença e à dor. Por fim, as cores amarelo e laranja estão ligadas à religião, à espiritualidade e à maternidade. É tradição as mães indianas usarem saris exclusivamente amarelos nos primeiros sete dias de maternidade.

Queres saber como se veste um sari? Então, espreita aqui:

Imagens retiradas daqui e dali !

segunda-feira, abril 12, 2010

Livro Da Semana

Frankenstein, de Mary Shelleyclip_image002

Quase duzentos anos depois, este romance continua a ser uma das grandes obras de referência da História e Literatura Mundiais. Quase duzentos anos depois, continua a ser sinistramente actual: quem é que ainda não ouviu falar da ovelha Dolly, o primeiro animal verdadeiramente clonado? Este foi, sem dúvida, um verdadeiro milagre da Ciência, porém até que ponto esta descoberta não irá trazer implicações éticas bastante negativas à espécie humana? Quem é que não ouviu falar das mil e uma experiências que estão a ser feitas com o nosso código genético, na tentativa de criarmos um “Super Ser humano” sem doenças, sem fraquezas, sem patologias, sem hesitações? Se em muitos países um número assombroso de meninas é eliminado porque os rapazes são (pensam eles!) mais produtivos, esta nova tecnologia permitir-nos-á escolher o sexo da criança acabando, assim, por desequilibrar ainda mais o crescimento da população humana. E, voltando à ovelha Dolly, é bem possível que, daqui a uns anos, nem sequer precisemos de arranjar parceiro para termos um filho: basta clonarmo-nos a nós próprios e fim da história. Como será este “Admirável Mundo Novo”? Admirável ou assustador?

Os Homens gostam muito de brincar aos deuses. Modificamos a nossa comida, os nossos cães, os nossos animais, os nossos filhos, modificamos o mundo à nossa volta. E o preço que pagamos é sempre negativo, que o digam os cientistas que não se cansam de falar de um planeta cada vez mais degradado, graças às nossas brincadeiras. Pior ainda, nunca queremos assumir a responsabilidade dos nossos actos. Ora, Franskenstein aborda exactamente este assunto: se criamos uma nova vida, temos que ser responsáveis pela sua existência, quer gostemos dos resultados finais quer não. Acima de tudo, esta é uma das primeiras obras literárias (se não mesmo a primeira) que aborda o carácter moral dos cientistas: criar só pelo prazer de criar não trará benefícios a ninguém, é vaidade fútil e vazia que não produz nada.

A história, apesar de 557.969,6 filmes “adaptados” do romance, é muitíssimo pouco conhecida. Aliás, se existe um livro que foi definitivamente destruído pelo cinema, Frankenstein foi um deles. Não há um único filme, um único só, que faça justiça a esta obra literária. Ainda hoje, praticamente toda a gente acha que Frankenstein é o nome do monstro quando, na verdade, é o do cientista. Na verdade, a Narradora descreve este jovem como sendo uma criatura brilhante, genial, mas frívola e egoísta. A Ciência, para ele, não é uma ferramenta para trazer benefícios para a Humanidade, é um jogo mental que só serve para mostrar ao mundo o quanto ele é perfeito e inteligente.

Um dia, Frankenstein tem o sonho megalómano de criar um novo ser humano, como se fosse um deus. E decide-se a fazer isso mesmo: vai os cemitérios buscar pedaços de corpos, de cabeças, de braços. Cose-os, lança-lhes uma descarga descomunal de electricidade... e resulta! O ser ganha vida! Mas ao vê-lo, o nojo toma conta dele: não é nada bonito, é uma aberração assustadora. Horrorizado com o que fez (mas nem um pouco arrependido)... abandona-o e deixa-o sozinho. E eis que esta nova criatura, desprezada pelo seu “Deus”, não tem outro remédio senão aprender a viver neste mundo sem a ajuda de ninguém. Inicialmente, a criatura é boa, tem sede de aprender e de amar. Mas o mundo é tão estúpido e tão cruel, que a revolta, pouco a pouco, tomará conta dela. Com o tempo, preparará a sua vingança.

O monstro foi tão desprezado pelo seu “criador”, que nem sequer teve direito a uma identidade e a um nome. É uma coisa, é uma aberração, é uma experiência que correu mal. Não é um ser com sentimentos, com direito ao Amor. Merece ser espezinhado, merece morrer. Não se espante o leitor se, a meio do livro, sentir uma enorme vontade de chorar: apesar das coisas más que este “ser” inflingiu a Frankenstein, só podemos sentir compaixão por ele. O verdadeiro monstro é o Cientista. Portou-se como um pai negligente e caprichoso que, insatisfeito com o aspecto do seu “bebé”, abandonou-o na maternidade. E só começou a sentir-se mal porque as pessoas que amou foram afectadas. Porém, nem uma única vez parou para pensar que o “monstro” que criou também tinha direito à vida e ao respeito, e tudo o que aconteceu poderia ter sido evitado, se tivesse feito a sua obrigação: agora que o criou, vai ter que o educar e terá que se responsabilizar pelo que fez. Quantos cientistas, afinal, não conhecemos hoje, que têm precisamente esta personalidade?

Extraordinariamente profético, poético, sublime, aterrorizante, este é um dos 1000 livros que toda a gente deve ler antes de morrer.

domingo, abril 04, 2010

Lição De Vida – O Poder Da Palavra

Palavras (Words)


Golpes,clip_image002
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.

A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
sobre a rocha

Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro

Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto
Do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.

De: Sylvia Plath, poetisa norte-americana.

Imagem retirada daqui

sábado, abril 03, 2010

Podemos Reproduzir O Início Do Universo?

 

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Podemos, sim, e a equipa CERN (Organização Europeia de Pesquisa Nuclear) acabou de provar isso mesmo (ou melhor, está a caminho de o provar): no dia 30 de março de 2010, a grande máquina do mundo, o LHC (Grande colisionador de neutrões, na foto), gerou uma colisão de feixos de protões 3, 5 vezes maior do que alguma vez tinha sido conseguido provocando, assim, a euforia e a felicidade de todos os cientistas do planeta.

“E daí?”, pensarão vocês, “Por que motivo é isto tão importante?”. Vamos tentar explicar: o objectivo deste projecto científico é, nada mais nada menos, reproduzir a energia que foi despoletada no preciso momento em que o Big Bang “ganhou vida”. Ora, os cientistas acreditam que, durante esta explosão, uma partícula baptizada de Bosão de Higgs é a chave-mestra para explicar toda a origem do universo. Se conseguirem, através deste gigantesco e super-caríssimo projecto, provar a sua existência, os manuais de Física terão de ser todos reformulados. Mas para que isto seja possível, esta monstruosa máquina, cheia de túneis quase infinitos, terá que despoletar uma energia insuportavelmente rápida que equipare quase a velocidade da luz, pois é a partir desta aceleração de partículas que o bosão de Higgs poderá ser detectado. Há quem já lhe chame “a partícula de Deus”, ou seja, a força-motriz que desencadeou tudo.

Por enquanto, os cientistas estão no bom caminho, mas ainda há muita jornada para percorrer: mesmo que consigam provar a existência da “partícula de Deus” (e será que, com isso, provarão a Sua existência???), esta descoberta servirá para compreender apenas 4% do universo, o universo visível. Com efeito, já se sabe que 96% do universo é composto por matéria e energia escuras, que já foram cientificamente comprovadas mas a nossa tecnologia ainda não nos permite detectá-las por completo e estudá-las. Como afirma Rolf-Dieter Heuer, numa entrevista ao Expresso (poderão ler a notícia na íntegra através deste endereço:http://aeiou.expresso.pt/cern-choque-de-particulas-atinge-a-maior-energia-de-sempre=f573871 , "Espero que este acelerador de partículas dê as primeiras pistas sobre aquilo a que eu chamo Universo Escuro, em particular a matéria escura, que representa 23% do total. E se o conseguir será, obviamente, um grande avanço para a Ciência".

Cá esperamos atenta e ansiosamente por novas notícias!

Mas há quem pense que este projecto poderá desencadear uma verdadeira catástrofe e já está a criar uma enorme polémica entre cientistas e religiosos. Senão vejam:

A Imagem foi retirada da notícia acima mencionada.

sexta-feira, abril 02, 2010

Emprestas-me A Tua Bola De Cristal?

 

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Fazer previsões para o futuro é coisa de Mayas e de “oráculos de Bellini”? Sim e não. Como se prevê o futuro? O truque é simples: saber bastante de História Mundial e do comportamento Humano, ter em conta as novas tendências e problemas do presente e, através deles, “fazer contas à vida”. No fundo, adivinhar o futuro para os próximos 10 anos não é assim tão difícil como se pensa: basta imaginarmos o mundo como um tabuleiro de xadrez, e cada jogada levará inevitavelmente a uma consequência mais ou menos previsível. Mas uma coisa é fazermos previsões para os próximos 10 anos. Outra é imaginarmos o que acontecerá no espaço de um século. Ficção Científica? Nem por isso: Alvin Toffler tem sido um dos mais brilhantes analistas do futuro e, através da observação da sociedade do tempo presente, tem acertado em imensos prognósticos.

Ora, é precisamente isto que George Friedman ( na foto), um dos mais brilhantes analistas geopolíticos, decidiu fazer: o livro Os Próximos 100 anos, Uma Previsão Para O Século XXI apresenta-nos situações que podem, de facto, acontecer. E uma delas já é notória: a queda da natalidade em todos os pontos do planeta. Este analista tem a certeza absoluta de que, a partir da década de 30 deste século, muitos países competirão não para se verem livres de imigrantres mas para os atrair para as suas nações. A baixa natalidade irá ser um problema grave no futuro e quem ganhará esta “guerra” serão os Estados Unidos da América, por serem profundamente ricos e por estarem habituados a lidar, desde o início da sua História, com massas gigantescas de imigrantes vindos dos quatro cantos do planeta. A Suíça, a França ou o Japão não têm quaisquer hipóteses de vencer esta batalha. Outras previsões parecem-nos estranhas, mas tendo em conta os cálculos matemáticos de George Friedman, podem ser prováveis: o fim do poder do Al-Quaeda já é uma clip_image004certeza absoluta (a partir do momento em que se viraram contra os próprios muçulmanos, ditaram o seu fim) e a próxima ameaça, na próxima década, virá... da Rússia. Se isto for verdade, as nações de periferia ou nações já poderosas poderão vir a fortalecer-se bastante, graças à ajuda dos Estados Unidos da América. É o caso da Turquia, do Japão, da Polónia (Polónia?????). E assim que a Rússia for “subjugada”, o próximo problema será... A Turquia, o Japão, a Polónia... Como afirma George Friedman, um problema resolvido nada mais é do que o começo de outro problema para resolver.

A probabilidade de uma guerra mundial é uma perspectiva quase certa (mas esta será mais cirúrgica e menos mortífera, devido às novas tecnologias). Esta guerra, por sua vez, irá criar grandes avanços na tecnologia que, por sua vez, irá mudar a sociedade como a imaginamos. E assim por diante até ao ano 2080, em que o México será um problema sério para os Estados Unidos da América. Ficção Científica? Leiam o livro.

Dois grandes erros de palmatória: África é um continente que não existe nestes prognósticos. Fala-se do Egipto por causa do mundo Islâmico e ponto final. E há quem diga que este continente, na segunda metade do século XXI, desempenherá um papel importante no mapa geopolítico, precisamente porque a falta de matérias-primas no planeta desencadeará uma “corrida a África”. É bem possível que, no meio desta confusão toda, um ou dois países sejam espertos o suficiente para tirarem proveito deste súbito interesse dos países ricos. Angola, riquíssima em matérias-primas e cansada da guerra, poderá tornar-se numa potência regional a temer. O segundo erro é não ter em conta as mudanças climáticas (o próprio George Friedman assume-o no epílogo e explica por que motivo não se preocupou com este factor). O imenso exército de milhões “sem-terra”, vítimas das castástrofes climáticas, poderão ser uma mais-valia para países envelhecidos e sequiosos de sangue novo. Não será assim tão difícil convencê-los a arrumar “as trouxas” para uma terra estrangeira: a fome torna-nos aventureiros e corajosos...

Todas estas previsões valem o que valem: basta um génio doido aparecer do nada, para a História Mundial sofrer uma violenta reviravolta. Que o digam Napoleão Bonaparte e Carlos Magno. Mas é sem dúvida fascinante ler este livro.

Uma coisa é certa: a partir de agora, vou estar ainda mais atenta ao “Jornal das Oito”.

Para aguçar o apetite: Os Próximos 100 anos, de George Friedman

 

quinta-feira, abril 01, 2010

Por Que Motivo Celebramos O Dia Das Mentiras??

Não, não é para glorificar advogados, políticos, alunos que se esquivam aos TPCs, falsos feiticeiros e videntes. O Dia das Mentiras está estranhamente entranhado numa série de países, e tentar explicar as origens do mesmo provoca sempre alguma polémica. Há, de facto, muitas teorias sobre a origem deste feriado.

Aquela que é a mais aceite tem origem em França e está relacionada com a introdução do Calendário Gregoriano, pelo papa Gregoriano XIII a 24 de Fevereiro clip_image002de 1582, de forma a substituir o Calendário Juliano, pois descobriu-se que este possuía algumas falhas: corrigiu-se o ano solar, e este passou a ter 365 dias, 5 horas e 49 minutos. Para rectificar as contas mal-feitas do calendário anterior, retiraram-se 10 dias e 1 de Janeiro passou a ser o dia oficial de abertura de todos os novos anos (estes dados foram retirados daqui.Obviamente que isto criou uma imensa confusão para a época: os Franceses e vários outros povos estavam habituados a festejar o começo do novo ano no dia 25 de Março, início da Primavera, e as festas duravam até ao dia 1 de Abril. Como era de se esperar, houve logo um grupo de resistentes, adeptos do velho calendário (os humanos lutam por tudo e por nada...) e um grupo de ferozes admiradores do segundo (a maioria aborreceu-se com a confusão, mas habituou-se depressa à mudança). Não tardou muito para que os “pró-gregorianos” franceses começassem a gozar com os antiquados “pró-julianos”: enviavam presentes estranhos ou brincalhões, convidavam-nos para festas que não existiam, anunciavam mortes de parentes ou de reis...

Estas plaisanteries (brincadeiras, em francês) criaram moda e foram seguidas por outras nações. Hoje, passou a ser um costume todos os jornais, televisões e rádios tentarem passar uma mentira convincente, no meio de verdades sérias, e esperar para ver se as pessoas acreditam ou não. Feliz ou infelizmente, hoje em dia é cada vez mais difícil “enfiar o barrete” aos espectadores ou ouvintes, precisamente porque estes já ficam de pé atrás, neste dia. Mas custa a acreditar que em 1957 o canal BBC tenha passado uma reportagem de árvores que produziam esparguete e, pasme-se!, muita gente acreditou!

Uma das “partidas” mais divertidas teve lugar no Brasil: o jornal A Mentira começou a sua curta carreira no dia 1 de Abril de 1848, com a notícia falsa da morte do rei D.Pedro e fechou as portas no dia 14 de Setembro de 1849. Qual foi a piada final? Convocou todos os credores para uma reunião no dia 1 de Abril... num lugar que não existia.

Imagem retirada daqui