domingo, fevereiro 28, 2010

PNL-Semana Da Leitura

 

clip_image002

Frase Do Dia

Quanto mais conheço os homens, mais estimo os animais .

Alexandre Herculano, escritor e historiador, século XIX

 

 

 

Booktrailer

Mas o livro é, sem dúvida, ainda melhor!

Dois Parágrafos Saídos De Um Livro Fascinante e Estranho

Jonathan Strange E O Senhor Norrell, de Susanna Clarke

Há alguns anos, na cidade de York, existia uma sociedade de magos. Reuniam-se na terceira quarta-feira de cada mês e liam uns aos outros trabalhos longos e maçadores sobre

clip_image004

a história da magia inglesa. Eram magos-cavalheiros, que o mesmo é dizer que nunca tinham prejudicado – mas também nunca haviam beneficiado – ninguém com a magia. De facto, para confessar a verdade, nenhum destes magos lançara alguma vez o mais pequeno feitiço, nem por artes mágicas fizera alguma folha tremer numa árvore, um grão de pó alterar o seu rumo ou um único cabelo mudar na cabeça de alguém. Mas, com esta pequeníssima reserva, gozavam de boa reputação e contavam-se entre os cavalheiros mais sábios e mais mágicos de Yorkshire.(...)

No Outono de 1806, receberam um reforço na pessoa de um cavalheiro chamado John Segundus. Na primeira reunião a que assistiu, o Sr. Segundus levantou-se e dirigiu-se à sociedade. Começou por felicitar os cavalheiros por causa da sua distinta história; listou os muitos magos e historiadores célebres que numa ou noutra ocasião tinham pertencido à sociedade de York. Deu a entender que o facto de saber da existência de uma tal sociedade pesara bastante na sua decisão de se mudar para York. Os magos do Norte, relembrou à sua assistência, tinham sempre sido mais respeitados do que os do Sul. O Sr. Segundus disse que estudara magia durante muitos anos e conhecia as histórias de todos os grandes magos de outrora. Lia os novos trabalhos publicados sobre o assunto e tinha mesmo feito uma modesta contribuição para o respectivo número, mas recentemente começara a meditar no facto de os grandes feitos de magia sobre os quais lia permanecerem nas páginas do seu livro e não serem já vistos na rua ou descritos nos jornais. O Sr. Segundus desejaria saber, disse, porque é que os magos modernos não eram capazes de efectuar a magia sobre a qual escreviam. Em suma, desejaria saber porque é que já não se faz magia em Inglaterra.

sexta-feira, fevereiro 26, 2010

PNL - Semana Da Leitura

clip_image002 

Frase Do Dia

Onde hoje se queimam livros, amanhã queimar-se-ão pessoas.

 

Heinrich Heine, poeta romântico alemão do século XIX

 

Booktrailer

Jerusalém, de Mia Couto

 

Parágrafos De Um Livro Memorável

As Memórias Do Livro, de Geraldine Brooks- A história incrível de um manuscrito real

-(...) Shalom, Channa – disse ele no seu forte sotaque sabra (judeu nascido em Israel), acrescentando um gutural ch ao meu nome, como habitualmente – Acordei-a?

clip_image004-Não, Amitai – retorqui. - Estou sempre acordada às duas da manhã; é a melhor parte do dia.

-Ah, bom, desculpe, mas julgo que gostará de saber que a Hagadá de Serajevo[1] apareceu.

-Não! - exclamei, subitamente acordada. - Que, hum, excelente notícia.

E era mesmo, mas uma notícia que eu poderia ter lido num e-mail, a uma hora decente. Não descortinava a razão pela qual Amitai achara necessário ligar-me.

___________________________

[1] Texto utilizado para os serviços da noite de Páscoa judaica e que contém a leitura da história da libertação do povo de Israel do Egipto conforme é descrita no livro do Êxodo. (N.do T.)

 A Hagadá de Serajevo, criada na Espanha medieval, era uma raridade famosa, um manuscrito hebraico ricamente iluminado, feito numa época em que a fé judaica se opunha veemente a qualquer tipo de ilustração. Acreditava-se que o mandamento do Êxodo “Não farás para ti qualquer imagem esculpida...” tinha suprimido a arte figurativa dos judeus medievais. Quando o livro apareceu em clip_image006Serajevo em 1894, as suas folhas com miniaturas de página inteira desafiaram essa ideia e fizeram com que a história da arte fosse reescrita.

Quando Serajevo começou a ser sitiada em 1992, e os museus e bibliotecas se tornaram alvos de luta, o códice desapareceu. Segundo alguns rumores, o Governo muçulmano da Bósnia tê-lo-ia vendido para comprar armas. Não, agentes da Mossad tinham-no retirado do país através de um túnel situado sob o aeroporto de Serajevo. Nunca acreditei em nenhum dos cenários. Julgava que o magnífico livro tinha feito parte da chuva de páginas queimadas – escrituras, terras otomanas, alcorões antigos e pergaminhos eslavos – que caíra sobre a cidade depois do fogo provocados pelas bombas de fósforo.

-(…) E sabe quem o salvou? Foi Ozren Karaman, o director da biblioteca do museu. Guardou-o a sete chaves. - A voz de Amitai pareceu, de repente, um pouco rouca. - Dá para acreditar, Channa? Um muçulmano a arriscar o pescoço para salvar um livro judaico.

Booktrailer do Livro (legendado)

Mas afinal, por que motivo este manuscrito é tão importante e tão único? Descobre mais aqui: http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=202&p=0

A estranha ilustração do banquete, contida na Hagadá de Sarajevo (estranha porque existe uma convidada negra, abastada e tratada pelo grupo como uma “igual entre iguais”, algo que não se vê na época medieval) foi retirada deste link: http://www.greenchairpress.com/blog/wp-content/uploads/2008/03/people_of_the_book.jpg


quinta-feira, fevereiro 25, 2010

PNL - Semana da Leitura

 

clip_image002 Frase do Dia

Toda a gente pensa em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar-se a si próprio.

 

 

Leo Tolstoy, escritor russo do século XIX

 

 

Booktrailer

Errar É Divino, de Marie Phillips

Os Primeiros Parágrafos De Um Livro Memorável

Comboio Nocturno Para Lisboa, de Pascal Mercier

O dia a partir do qual nada continuaria a ser como até aí, na vida de Raimund Gregorius, começou como tantos outros dias. Vindo da estrada nacional, entrou às sete e quarenta e cinco na ponte Kirchenfeld, que

clip_image004

liga o centro da cidade à zona onde se encontra o liceu. Era isso que fazia todos os dias de trabalho durante o ano lectivo, e chegava à ponte precisamente um quarto de hora antes das oito. Quando uma vez encontrou a ponte vedada ao trânsito cometeu um erro na aula de Grego, logo a seguir. Nunca tal tinha acontecido antes, e nunca aconteceu depois. A escola inteira comentou esse lapso durante dias a fio. Quanto mais tempo durava a discussão, maior era o número daqueles que o atribuíam a um erro de audição. Finalmente, essa versão acabou por se impor também entre os alunos que estavam presentes quando o caso ocorreu. Era simplesmente impensável que o Mundus, como lhe chamavam, pudesse cometer um erro em Grego, Latim ou Hebraico.

Gregorius olhou em frente, para as torres esguias do Museu de História da cidade de Berna, mais para cima, para a cintura do trânsito e para baixo, para o Aare, com as suas águas glaciares verdes. Um vento agreste, que arrastava nuvens baixas, virou-lhe o chapéu-de-chuva e moldou-lhe o rosto com rajadas de chuva. Foi então que reparou na mulher a meio da ponte. Tinha apoiado os cotovelos no parapeito e lia, sob a chuva torrencial, aquilo que parecia ser uma carta. Tinha de agarrar a folha com ambas as mãos. Quando Gregorius se aproximou amarrotou subitamente o papel, amassou-o até o transformar numa bola infome e atirou-o ao ar com um movimento brusco. Sem se aperceber disso, Gregorius apressara-se e encontrava-se agoras apenas a poucos passos de distância. Viu a fúria estampada no rosto pálido e molhado. Não era o tipo de fúria capaz de se esvaziar num caudal de palavras. Era uma fúria tenaz e interiorizada, que ela há muito devia alimentar. Agora a mulher agarrava-se à balaustrada com os braços retesados, enquanto os calcanhares se libertavam dos sapatos. Queres ver que ela vai saltar.

Booktrailer do Livro

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

PNL - Semana Da Leitura

 

Frase do Diaclip_image002

A vida já está a meio quando começamos a perceber o que ela é.

George Herbert, 1593-1633, poeta escocês do século XVII

 

 

Booktrailer

O Rapaz Que Falava Com O Diabo, de Justin Adams

 

Um Poeta Eterno

 Sensação


Pelas tardes azuis do Verão, irei pelasclip_image004
sendas,
Guarnecidas pelo trigal,
pisando a erva miúda:
Sonhador, sentirei a
frescura em meus pés.
Deixarei o vento banhar
minha cabeça nua.
Não falarei mais, não
pensarei mais:
Mas um amor infinito me
invadirá a alma.

E irei longe, bem longe,
como um boémio,
Pela natureza, - feliz
como uma mulher.

Rimbaud, poeta francês, século XIX

terça-feira, fevereiro 23, 2010

PNL - Semana Da Leitura

clip_image002 

Frase do Dia

Os Homens só podem compreender um livro profundo depois de terem vivido, pelo menos, uma parte daquilo que ele contém.

Ezra Pound, poeta do século XX

 

 

Booktrailer

O Labirinto da Rosa, de Titania Hardie

 

Livro Da Semana

Curso de Escrita Criativa, volumes I e II, Pedro Sena-Lino

Qualquer pessoa que goste de ler já deve ter pensado qualquer coisa parecida com clip_image006isto: “quem me dera ter a imaginação que este escritor tem” ou “quem me dera ter jeito para me expressar desta forma”. Claro que são poucos aqueles que chegam ao génio de um Dostoievski, de um Thomas Mann ou de um Camões mas a experiência de vida já nos ensinou que muito do dito “talento” ou “jeitinho” nada mais é do que muito trabalho, revisão, análise e disciplina. Ou, como dizia alguém, “Génio é 1% de inspiração e 99% de transpiração”. Em suma: muitos de nós não seremos um Cervantes mas podemos tirar partido da nossa própria criatividade, por muito pequena que ela seja.

“Sim, mas como?”, perguntam logo os leitores. É aqui que os cursos de Escrita clip_image004Criativa entram. Criados (como não haveria de deixar de ser) nos Estados Unidos de América, têm como objectivo desenvolver “a arte de bem escrever”. É óbvio que nada disto despoleta um génio escondido: as nossas aptidões naturais revelam-se cedo e, como diz o anúncio, “uns têm, outros não”. O que estes cursos oferecem é todo um arsenal de boas ideias, pistas, jogos, dicas, brincadeiras e exercícios que permitem que qualquer um possa trabalhar as palavras como se estas fossem um diamante em bruto ou um pedaço de barro, pronto para se transformar ou num jarro ou numa escultura.

clip_image008 E há de tudo: Pedro de Sena-Lino (na foto à esquerda) ensina-nos como descrever o espaço da acção de uma maneira pessoal e original; aprendermos a “sair de nós mesmos” e enfiarmo-nos na pele de um objecto ou personagem; como trabalhar o lado psicológico recorrendo apenas à audição, ao olfacto e ao tacto; como tornar um parágrafo mais vivo e menos repetitivo; sugestões para todos nós podermos criar uma história que agarre o leitor logo à primeira página; brincar com os sons e as figuras de estilo; etc.

Voltamos a dizê-lo: um curso de escrita criativa não fará de nós o Tolstoi do século XXI. Porém, despoleta no nosso cérebro um “saber fazer” que nunca pensávamos possuir. Convém, apesar de tudo, deixarmos aqui um aviso: estas “1001 maneiras de escrevermos bem” têm que ser feitas por pessoas que realmente querem desenvolver a sua expressão escrita. É que, ao contrário do que se pensa, este método exige trabalho, dedicação, persistência e empenho. Na próxima quinta-feira, às 20.30m, na biblioteca da nossa escola, iremos oferecer um “cheirinho” do que é este método. Apareçam, porque está garantida uma hora cheia de boa disposição.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

PNL - Semana Da Leitura: Citação Do Dia

Um Pequeno Aperitivo Para A Leituraclip_image002

 Grandes mentes falam de ideias. Mentes médias falam de factos. Mentes pequenas falam de pessoas.

Eleanor Roosevelt, século XX

 

 

 

 

BookTrailer: Mar de Papoilas, de Amitav Ghosh

 

Os Primeiros Parágrafos De Um Livro Memorável

Pássaros Sem Asas, de Louis de Bernières

clip_image004

Aqueles que permaneceram neste lugar muitas vezes se interrogaram por que razão Ibrahim enlouqueceu. Só eu sei, mas sempre me calei porque ele me pediu para respeitar a sua dor ou, como ele também disse, para me apiedar da sua culpa. Agora que ele está louco, que o sol já há muito secou a chuva que lavou o sangue das rochas, e que já quase não resta ninguém que se lembre da bela Philothei, parece-me que também ninguém se sentiria traído se a verdade fosse finalmente conhecida. Tem corrido tanto sangue entre nós que, olhando para trás, nada dessa verdade parece verdadeira, e já não importará muito se eu finalmente contar a última desgraça que caiu sobre Philothei, a doce, vaidosa e bela cristã.

Há um momento na vida em que cada um de nós que sobrevive se começa a sentir como uma espécie de fantasma que se esqueceu de morrer na altura certa, e a verdade é que muitos de nós éramos bem mais divertidos quando jovens. A idade parece fazer o coração dobrar-se sobre si mesmo. Alguns caminham agora sozinhos, a sonhar com o passado; outros apercebem-se que perdem o jeito de se aguentarem ao sol. A ideia do futuro é, para muitos de nós,mais um motivo de irritação do que para optimismo, como se já tivéssemos a nossa conta de novidades e apenas ansiássemos pelo longo sono que envolve as pontas das nossas vidas. Eu próprio sinto esse cansaço.

Pássaros sem Asas, de Louis de Bernières, Edições Asa

PNL- Semana da Leitura

clip_image002

Calendário- de 22 a 26 de Fevereiro

Segunda-feira- 22

11h 45m, na Biblioteca - Contar uma História (pelo grupo Trimagisto) a alunos do E. Básico.

Quinta-feira- 25

20h 30m, na biblioteca da escola: MiniMiniMini Curso de Escrita Criativa: Quatro Truques para aprendermos a escrever com mais criatividade (colaboração com a Biblioteca Municipal de Serpa. Esta actividade é destinada aos Encarregados de Educação, funcionários da escola e professores).

clip_image004

Sexta-feira- 26

20 horas, na biblioteca da Escola: Recital de Poesia Conversas de Poetas em Pessoa: Homenagem aos três heterónimos de Fernando Pessoa e vários outros poetas (Professora Maria João Brasão e alunos do Ensino Secundário).

Ao Longo da Semana na Biblioteca

A partir de Terça-feira -23-, às 13h15m: Filmes inspirados em livros.

a) Ensaio Sobre a Cegueira (Terça-feira)

b) O Rapaz do Pijama às Riscas (Quarta-feira)

c) Quem Quer Ser Milionário (Quinta-feira)

d) Anjos e Demónios (Sexta-feira)

clip_image002[6]
Mural na Biblioteca: Qual Foi O Livro Que Mais Te Marcou?

Todos os dias no blog:

a) Frase Do Dia;

b)Sugestões de livros para lermos e oferecermos;

c) Booktrailers;

Biblioteca/Centro de Recursos

sábado, fevereiro 20, 2010

PNL - Semana da Leitura

 

clip_image002

À semelhança do ano passado, a equipa da Biblioteca/Centro de Recursos, juntamente com a Coordenadora do Plano Nacional de Leitura, irá dedicar uma semana toda ao prazer de ler, escrever e escutar histórias. E desde vez será realizada nos últimos dias deste mês: de 22 a 26 de Fevereiro.

E começará logo em grande: a companhia Trimagisto (foto à direita) deslocar-se-á à escola para realizar uma arte que, felizmente, já está a ganhar cada vez mais adeptos em Portugal: a bela arte de saber contar histórias. Serão efectuadas duas sessões, a partir das dez da manhã e terá como público-alvo os alunos do Ensino Básico.

clip_image004 Para quem gosta de escrever mas acha que podia melhorar o seu desempenho, a Biblioteca Municipal de Serpa, em colaboração com o PNL do nosso estabelecimento escolar, criará um mini mini mini mini curso de escrita criativa, por volta das 20 horas, na nossa biblioteca. A sessão contará com um número máximo de dez pessoas (é dedicada àqueles que gostam mesmo de escrever!), durará cerca de uma hora e terá como objectivo ensinar dicas e truques que poderão desenvolver a nossa aptidão para a escrita.

Sexta-feira também será um dia para comemorar: por volta das 20.30 minutos, vários alunos do Ensino Secundário, chefiados “pela batuta” da professora Maria João Brasão, realizarão um recital de poesia, de nome Conversas de Poetas em Pessoa. Como o próprio nome da actividade indica, pretende ser uma homenagem aos três heterónimos de Fernando Pessoa e vários grandes mestres da nossa poesia também serão homenageados: Almada Negreiros, Mário de Sá Carneiro, Natália Correia e Sophia de Mello Breyner Andresen.

Ao longo da semana, o público da biblioteca poderá colaborar em outras actividades: todos os dias, a nossa equipa exibirá um filme que foi buscar inspiração a um livro: Ensaio sobre a Cegueira, O Rapaz do Pijama às Riscas, Quem Quer ser Milionário, etc (os filmes poderão ser mudados, dependendo da boa ou má condição dos mesmos). Além disso, os alunos, através de um longo papel de cenário, poderão escrever o nome do livro e do autor que mais gostaram de ler. No fim, veremos qual foi o top 10 da nossa escola.

Vai ser uma semana em cheio, como já vai sendo hábito!

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Asper Quê?????

Hoje é o Dia Mundial do Síndrome de Asperger. Se nunca ouviram falar desta palavra, não se espantem: é um “problema cerebral” tão recente (só foi descoberto há cerca de trinta anos) que muita gente nem sequer sabe que existe.

Mas afinal é o quê? Uma doença com cura, uma mania, um trauma de clip_image002infância, um problema mental? Vamos lá tentar explicar: segundo a Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger (APSA), a síndrome de Asperger manifesta-se "por alterações sobretudo na interacção social, na comunicação e no comportamento", é de transmissão genética, afecta maioritariamente rapazes e são cerca de 40 mil as pessoas em Portugal que têm esta patologia. Trocando por miúdos: uma pessoa que sofra deste síndrome tem muitas dificuldades em comunicar com os outros. Por exemplo: não sabe perceber o segundo sentido das palavras (se dissermos que alguém é “trinca-espinhas”, o ser humano que sofre desta patologia vai levar à letra o que estamos a dizer); não consegue entender as várias expressões faciais e, por isso, tem dificuldades em detectar emoções; os seus olhos nunca estão fixos ou concentrados num determinado ponto; não fixam as regras sociais com facilidade e é muito comum sentirem pavor das multidões; têm sérios problemas em “fazerem-se perceber” e perceberem os outros; quase sempre, é a criança ausente na sala de aula, que está na lua e nunca ouve nada.

Muitas vezes são olhados pela sociedade como sendo pessoas “estranhas”, “esquisitas”, “maluquinhas” e são confundidos com frequência com os tímidos. Na escola sofrem bastante e são vítimas de bullying. Quanto aos professores, estes, de uma forma geral, não têm sequer formação para saberem identificar esta disfunção.

O Síndrome de Asperger é uma forma menor de Autismo e, por isso, os “aspies” são frequentemente confundidos com este grupo. Porém, ao contrário dos autistas, conseguem ter uma vida quase “normal”, apaixonam-se, casam-se, têm filhos, exercem uma profissão como toda a gente. E muitos deles possuem aptidões extraordinárias para a música e para a matemática como, por exemplo, o pianista Glenn Gould (na foto).

Se queres saber mais sobre este fascinante síndrome, dá uma espreitadela ao video que te apresentamos. E lá porque um cérebro humano não funciona da mesma forma que os outros, tal não quer dizer que essa pessoa seja “maluquinha”. Simplesmente, é apenas diferente.

E desde quando é que a palavra “diferença” é sinónimo de “loucura”?

Síndrome de Asperger (no programa Fantástico, da Rede Globo)

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Leituras …

Olá, o meu nome é Joana Parreira e sou aluna do Curso Tecnológico de Acção Social da Escola Secundária de Serpa.

No âmbito do meu curso estou a estagiar no Centro de Saúde de Serpa e a desenvolver um projecto sobre a leitura, denominado “Ler + dá Saúde”, que visa beneficiar as crianças que frequentam esse espaço.

Mas, para conseguir realizar o meu projecto preciso da colaboração de todos. Isto porque estou a dinamizar uma recolha de livros infantis para usar no Centro de Saúde e conto com a colaboração de todos para depositarem as vossas ofertas de livros nas caixas de recolha que se encontram na nossa escola (junto ao Centro de Recursos) e no Centro de Saúde.

Memorial do Convento369 Memorial do Convento370

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Parabéns, Nelson Mandela: 20 Anos Que Mudaram O Mundo

Foi encarcerado numa prisão, durante quase 30 anos. Tudo porque teve “a lata” de sonhar com uma África do Sul onde negros e brancos convivessem uns com os outros e vivessem em igualdade perante a Justiça, a Educação, a Cultura, as mesmas oportunidades de trabalho e um sistema de Saúde que não discriminasse ninguém.

No dia 11 de Fevereiro de 1990, o mundo gritou de alegria ao saber que Mandela iria ser libertado, e centenas de milhar de homens e mulheres de todas as raças e culturas esperaram-no à porta da prisão para o saudar e o acompanhar até casa. Esperava-se um banho de sangue. Em vez disso, este homem sempre humilde chamou os seus “inimigos”, perdoou-os e iniciou um novo governo multirracial. Foi graças a ele que esta nação não teve uma guerra civil. Foi graças a este homem que os “ajustes de contas” não chegaram a existir em grande escala. E continua a ser graças a ele que o sonho de um “país de igualdades” ainda se mantém.

Há quem diga que, no dia em que Nelson Mandela morrer, este país africano sofrerá uma guerra civil porque nenhum dos políticos que agora governa esta nação tem o carisma, a visão, o poder da palavra e a tolerância deste extraordinário ser humano. Só o tempo o dirá.

E esperemos que nunca tenhamos que assistir a tal.

clip_image002

O nosso medo mais profundo, não é o de que sejamos inadequados. O nosso medo mais profundo é o de sermos poderosos demais. É a nossa luz, não a nossa escuridão, o que mais nos assusta. Perguntamos a nós mesmos: "Quem sou eu para ser brilhante, alegre, cheio de talentos e fabuloso?" Na verdade, quem somos nós para não o sermos? Tu és um filho de Deus. Fazer menos do que podes não serve o mundo. Não há nada de luminoso no facto de nos encolhermos para que outras pessoas se sintam tão inseguras como nós. Nascemos para manifestar a glória de Deus que está dentro de nós. Ela está não só em alguns de nós, está em todos nós. E à medida que deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos permissão aos outros para fazerem o mesmo. À medida que nos libertamos do nosso medo, a nossa presença automaticamente liberta outros."

Discurso Inaugural do novo governo multirracial, no ano de 1994.

O PROBLEMA DA REPRESENTAÇÃO

Um dos termos fundamentais do pensamento filosófico, moderno e contemporâneo, é o que designa o conceito de representação. Desde logo, encontramo-lo associado às filosofias do conhecimento que rejeitam os postulados do realismo ingénuo, aquele que coordena a visão e a percepção imediata do nosso quotidiano, baseando-se na crença de que o nosso conhecimento é um espelho da realidade, exactamente, como a reproduzimos – atente-se ao que pressupõem e ao como nos dispõem os jornais e os telejornais, por exemplo. Nesse plano, perguntar-se-á: as coisas aparecem-nos como são ou as coisas são como nos aparecem ou ainda, as coisas, em si mesmas, são (ir)redutíveis ao pensamento? E, por consequência, há que decidir se o nosso conhecimento espelha a realidade ou constrói convencionalmente o mundo ou...

pensar

Trata-se, afinal, de se estabelecer um valor para o saber. Trata-se de encontrar um valor para o enunciado eu sei e clarificar o que pressupõe a afirmação de que sabemos alguma coisa. Com efeito, o que queremos dizer com “eu conheço” ou “eu sei”? O que é uma certeza? Resultando daí, um horizonte de sentido para o verdadeiro e, até, por extrapolação, a possibilidade ou impossibilidade de se ensinar o que quer que seja...

Estas, e outras questões conexas, originaram (e originam) um intenso debate e uma polémica discursiva, na qual podemos destacar, numa perspectiva do conhecimento como representação, autores como Kant, Shoppenhauer, Wittgenstein ou Nelson Goodman (entre outros). Salvaguardadas as diferenças, nesta “tradição” reflexiva, encontramos o conceito de representação associado à preocupação pelo limite. Sejam os limites do entendimento, os limites da vontade, os limites da linguagem ou os limites do fazer do(s) mundo(s). Pensamos e o que pensamos e julgamos conhecer é uma síntese subjectiva, determinada pelas nossas faculdades de apreensão? É o pensamento um acto da vontade, sendo o conhecimento um produto do querer? Um desejo que o mundo seja de acordo com o nosso esquema mental? Uma ilusão? Uma construção engenhosa a, ciência? Questões intempestivas, inactuais…

O termo representação presta-se, sem dúvida alguma, a diversos significados. Um deles é o da arte pictórica: o pintor representa, na sua pintura, o que vê ou o que imagina (o abstraccionismo representará ainda alguma coisa?) Outro é o da arte dramática: o actor representa o seu papel, isto é, faz de conta, finge, simula (para ser o que é, é o que não é – à semelhança da persona social). Outro, ainda, é o significado da representação no âmbito da vida política: vivemos numa democracia representativa – o povo mandata e, lá vai vicentinamente e entre dentes dizendo, é o que se sabe (a propósito, o que se sabe!!??). Todos estes significados partilham um mesmo vector: representar é estar em vez de, estar por, simbolizar. É indissociável do acto de pensar, pois não é já todo o conceito uma representação mental de algo? Resta saber o valor que damos a esse algo, com todas as consequências lógicas e ontológicas, ao nível do ser e da verdade.

É aqui que se torna, particularmente, útil o conceito de representação. Se toda a cultura implica a partilha de significados, através de uma complexa rede de signos e de símbolos. Se o próprio processo de cultura é um sistema de histórias sobre nós próprios, que nós contamos a nós próprios. Então, a nossa experiência da realidade é sempre mediada por sistemas de representação que a ordenam. E são estes mesmos sistemas que geram os consensos implícitos e explícitos, as ideias dominantes em torno das quais e a partir das quais se aceitam, “normalmente”, um conjunto de determinados valores éticos, morais, estéticos, epistémicos, políticos, religiosos e ideológicos. Desta forma, surgem os mundos e as suas versões e perspectivas, representações que são constructos situados, gerados em contextos de significação. Representações convencionais que conduzem as interpretações a partir das quais julgamos, pensamos, sentimos e atribuímos significado aos objectos, às pessoas, aos acontecimentos e, concomitantemente, lhes atribuímos beleza, justiça, verdade, validade... realidade.

Entender o papel da representação, é compreender que o visível e o invisível, o dito e o silenciado, o verdadeiro e o incrível, o absurdo e o inteligível nascem de práticas determinadas e situadas em espaços e tempos concretos, pelo exercício do poder na esfera de um paradigma modelar. E isso é um problema filosófico. A pensar.

Paulo Ramos

Imagem trazida de:

http://photo.net/photos/rarindra

terça-feira, fevereiro 09, 2010

50 Lições De Vida Que Todos Nós Devíamos Aprender

Quando a escritora de crónicas americana Regina Brett completou 50 anos de idade em 2006, decidiu fazer uma lista das 50 lições de vida que aprendeu, ao longo da sua já longa existência, uma para cada ano. Quatro anos depois, a sua crónica ainda é uma das mais lidas da internet.Leiam-na e enriqueçam a vossa alma.clip_image004

1. A vida não é justa mas, mesmo assim, ainda é boa.
2. Quando estiver em dúvida, apenas dê o próximo pequeno passo.
3. A vida é curta demais para perdermos tempo odiando alguém.
4. Não se leve tão a sério. Ninguém mais o faz.
5. Pague a factura do seu cartão de crédito todo os meses.
6. Ninguém tem que vencer todos os argumentos. Concorde para discordar.
7. Chorarmos com alguém é mais curativo do que chorarmos sozinhos.
8. Não há problema nenhum em ficarmos zangados com Deus. Ele aguenta.
9. Poupe para a reforma começando com o seu primeiro salário.
10. Quando se trata de chocolate, a resistência é inútil.
11. Faça as pazes com o seu passado, para que ele não estrague o seu presente.
12. Está tudo bem em permitir que os seus filhos o/a vejam chorar.
13. Não compare a sua vida com a dos outros. Você não faz ideia do que se passa na vida deles.
14. Se um relacionamento seu tem que ser um segredo, o melhor mesmo é não entrar nele.
15. Tudo pode mudar num piscar de olhos. Mas não se preocupe, Deus nunca pisca.
16. A vida é curta demais para sentirmos longos períodos de pena. Ocupe-se vivendo, não morrendo.
17. Você pode começar qualquer coisa se hoje se sentir preparado para tal.
18. Um escritor escreve. Se quiser ser um escritor, escreva.
19. Nunca é tarde demais para termos uma infância feliz. Mas a segunda oportunidade depende de si e de mais ninguém.
20. Quando se trata de ir atrás do que lhe agrada na vida, não aceite um não como resposta.clip_image006
21. Acenda velas, coloque lençóis bonitos, vista aquela roupa elegante, aquela lingerie cara. Não guarde para uma ocasião especial. Hoje é um dia especial.
22. Prepare-se bem, depois deixe-se levar pela maré.
23. Seja excêntrico agora. Não espere pela velhice para vestir roxo.
24. O órgão sexual mais importante é o cérebro.
25. Ninguém é responsável pela sua felicidade, excepto você mesmo.
26. Encare cada um dos chamados “desastres” com estas palavras: "Em cinco anos, vai importar?"
27. Escolha sempre a vida.
28. Perdoe tudo e todos.
29. O que os outros pensam de você não é da sua conta.
30. O tempo cura quase tudo. Dê tempo ao tempo.clip_image002
31. Independentemente de uma situação ser boa ou má, ela vai mudar.
32. Seu trabalho não vai cuidar de si quando estiver doente. Seus amigos vão. Mantenha contacto.
33. Acredite em milagres.
34. Deus ama-o porque é Deus, não o ama por causa de algo que você fez ou não fez.
35. O que não mata realmente fortalece.
36. Envelhecer é melhor do que a alternativa: morrer jovem.
37. Seus filhos só têm uma infância. Torne-a memorável.
38. Leia os Salmos. Eles falam de toda a emoção humana.
39. Saia todos os dias. Milagres esperam-nos em todo o lado.
40. Se todos nós jogássemos os nossos problemas numa pilha de lixo e víssemos as dos outros, pegaríamos a nossa de volta.
41. Não faça auditoria em sua vida. Aproveite o melhor dela agora.
42. Livre-se de qualquer coisa que não seja útil, bonito ou alegre.
43. Tudo o que verdadeiramente importa no final é o que você amou.
44. A inveja é um desperdício de tempo. Você já tem tudo o que é necessário.
45. O melhor ainda está para vir.
46. Não importa como se sente: levante-se, vista-se e apareça.
47. Respire fundo. Isso acalma a mente.
48. Se não perguntar, nunca começará.
49. Produza.
50. A vida não vem embrulhada num laço, mas continua a ser um presente.

Imagens retiradas de:

http://portalmegaphone.com.br/press/wp-content/uploads/2009/08/escada-da-vida.jpg

http://oceanus-occidentalis.weblog.com.pt/arquivo/vida%20na%20margem.jpg

http://pensadora2.blogs.sapo.pt/arquivo/percorrendo%20o%20caminho%20da%20vida.jpg

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Livro Da Semana

Cultura: Tudo O Que É Preciso Saber, de Dietrich Schwanitz

clip_image004

Já tínhamos mencionado, há alguns meses, acerca de uma nova moda que está a invadir as livrarias de todo o mundo: livros “dez em um” que, numas “escassas” centenas de páginas, conseguem a proeza de condensar matérias e conhecimentos de séculos ou até de milénios. Há até homens cultos e eruditos que se dedicam a isso mesmo: criar obras cujo objectivo é educar o “leitor preguiçoso”. É o caso

de pessoas como Harold Bloom, Paul Johnson ou Daniel Boorstin. São hoje conhecidos por Mestres-Escola e todos têm uma ideia catastrofista da nossa sociedade: a cultura está a desaparecer e é preciso preservá-la.

Alguns críticos afirmam que esta “mania mundial” não passa de um reflexo de uma sociedade cada vez mais preguiçosa, que quer o “agora e o já” e não está para ter a maçada de pesquisar e de procurar por conta própria. Como critica o brasileiro Jerônimo Teixeira (e muito bem!) De tão tradicional, o gênero já tem suas convenções. A mais importante delas é a lista. Nenhum livro dessa linhagem pode negligenciar os dez maiores filósofos ou os 100 grandes poetas. (…) Outra prática comum (...) é denunciar a decadência cultural. (...) Schwanitz deplora a influência da televisão na cultura contemporânea.

clip_image002

Há muito de verdade nisto mas, sejamos honestos, obras destas sempre existiram ao longo dos tempos e têm tido sempre a virtude de enriquecer a alma de muitos amadores, ou seja, os leitores que amam o conhecimento (daí a palavra “amador”, aquele que ama) mas que, muitas vezes, nunca tiveram a possibilidade de ir mais longe. Assim, tornam-se auto-didactas, ou seja, aprendem sozinhos. Com muita, muita sorte, um ser humano tira dois, três cursos no máximo, e já sabendo que o segundo e o terceiro são feitos por pura e simples carolice. Não podemos aprender tudo mas podemos aprender um bocadinho de cada coisa. Desde que estes livros “dez em um” não sejam levados demasiadamente a sério (afinal, são sempre listas pessoais e subjectivas do que cada um considera ser “o essencial”), não há problema nenhum em lhes darmos uma espreitadela: (…) nunca antes a literatura, a filosofia, a arte estiveram tão disseminadas e acessíveis. As obras de Shakespeare e Darwin, por exemplo, podem ser encontradas em edição de bolso – ou lidas de graça on-line. Em vez de escorrer pelo ralo, a cultura está em toda parte. Por isso, os manuais da cultura são úteis – para quem souber tomá-los com um grão de sal e desconfiança, e como leitura introdutória, é claro ( vale a pena ler a sua excelente crítica a este livro: http://arquivoetc.blogspot.com/2007/08/cultura-geral-de-dietrich-schwanitz.html ).

O nosso livro da semana é um destes exemplos: Dietrich Schwanitz é um erudito alemão que quer, numa obra condensada, informar os leitores daquilo que nós devemos saber, antes de morrermos: Literatura, Ciência, Gramática, Política, História, etc. Apresenta, obviamente, falhas: aborda muito pouco a poesia, revela algumas lacunas científicas e as suas opiniões sobre o século XX são muito pessoais e nada imparciais. A imagem que este filósofo e professor alemão tem da televisão, por exemplo, é extremamente negativa. E, no entanto, a televisão ofereceu ao mundo verdadeiras pérolas que ficaram para a história: as séries Raízes, Balada de Hill Street, Star Trek, Ficheiros Secretos, Sete Palmos de Terra, 60 Minutos, Zip Zip, as novelas brasileiras O Casarão ou Roque Santeiro, etc. Mais uma vez, o que importa é saber escolher.

Não se pode pôr tudo num manual sobre “o essencial”. E, sendo o autor um alemão vindo de uma cultura 100% europeizada, não é de espantar que a Ásia e África quase que não sejam mencionadas neste livro, senão muito ao de leve, como uma nota de rodapé. Pela minha parte, adoraria que um chinês, um africano ou um indiano fizessem exactamente a mesma coisa que Dietrich Schwanitz: deve ser fascinante conhecer a História do Mundo, desta vez pela perspectiva de alguém que nasceu noutro continente. Apesar de tudo, Cultura- Tudo o que É Preciso Saber, merece ser lido como um “aperitivo” para voos mais altos.

A ilustração foi retirada do blog acima referido.

domingo, fevereiro 07, 2010

Quais Foram Os Livros Que Mais Marcaram O Mundo?

clip_image002

É uma das perguntas mais velhas do mundo: “Se tivesses que ir para uma ilha deserta, que livro levarias? Não te esqueças que só podes escolher um!”. Claro que quem não gosta de ler, diria logo: “Nenhum!”. Porém, parem lá só um bocadinho para pensar: uma ilha deserta é uma ilha deserta. Não há internet nem televisão nem humanos nem festas de arromba nem Facebook nem desporto nem bares abertos ao Sábado nem nada. Se chegarmos a estas conclusões, um livro, afinal de contas, não parece ser uma companhia assim tão desagradável...

Voltemos à questão: que livro levarias? Pessoalmente, eu ficaria bastante indecisa entre três: O Nome da Rosa, de Umberto Eco, O Senhor dos Anéis, de Tolkien e Os Maias de Eça de Queirós. Que escolheria eu? A fantasia, o romance histórico-policial ou uma brilhante crítica ao Portugal de há cem anos atrás? Uns ter-se-iam decidido pela Ilíada, outros por Dom Quixote, outros por Romeu e Julieta, outros por O Admirável Mundo Novo, outros por A Lua de Joana. Cada ser humano tem a sua personalidade e gostos próprios e, por isso, há obras literárias que nos tocam mais do que outras.

Ora, a revista Veja (Brasil) decidiu fazer uma selecção (obviamente muito pessoal) dos dez livros que marcaram e influenciaram várias gerações, independentemente de serem melhores ou piores do que outros. Com efeito, faltam aqui obras de referência: O Ulisses, de James Joyce, As Flores do Mal, de Baudelaire, 1984, de George Orwell e até a já referida Ilíada, de Homero. E se existe uma obra literária que marcou para sempre o mundo, foi esta última... Porém, esta é apenas mais uma escolha pessoal. Nada mais.

Sugerimos que dêem uma espreitadela e digam se concordam ou não (podem aceder a esta lista, através do seguinte link: http://veja.abril.com.br/blog/10-mais/literatura/os-10-livros-que-marcaram-os-jovens-por-geracoes/10/#ancoratopo ). E, já agora, é interessante reparar que quatro das dez escolhas já foram livros da semana na nossa biblioteca...

Imagem retirada de:

http://www.urbanphoto.net/blog/wp-content/uploads/2007/04/reading01.jpg

sábado, fevereiro 06, 2010

Uma Pequenina Obra-prima

Estamos tão habituados a ver apenas filmes de animação americanos (neste caso, clip_image002dos Estados Unidos da América) que já quase nem reparamos na beleza do que se faz fora das terras do Tio Sam. E há verdadeiras jóias que merecem ficar nas luzes da ribalta. En Tus Brazos é uma delas: trata-se de uma curta animação, que narra a história de um casal de famosos dançarinos de tango, vítimas de uma tragédia que quase destruiu as suas vidas. O filme consegue captar maravilhosamente a beleza e ambiência do início do século passado, e deslumbrou o mundo.

Esta pequena obra-prima foi feita por um trio: François Xavier-Goby, Matthieu Landour e Edouard Jouret, tem corrido todos os festivais mundiais de animação e são a prova perfeita de que o sofrimento, o amor e a vontade de vencer são como a música, a pintura ou a fotografia: não necessitam de palavras para serem compreendidos.

En Tus Brazos

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Eterno, Sempre Eterno...

Se aceder à Internet através da Google (e em 99% dos casos é o que acontece) já ROCKWELL deve ter reparado no casal de crianças que está a embelezar a palavra “Google”. Pois é, hoje é o dia de nascimento de um dos mais fabulosos ilustradores do século XX: Norman Rockwell (foto à direita), um americano que gostava de ser americano, tinha orgulho do seu país e, durante décadas, assistiu às mudanças mais incríveis e mais fabulosas da sua nação, desde o fim da segregação racial à ascensão da mulher no local de trabalho, desde a chegada dos Beatles até à aterragem na Lua, desde o dia-a-dia feliz e bem-disposto de uma classe média branca, até ao poder dos presidentes.

Ao contrário de muitos colegas seus, Norman Rockwell preferia focar o lado feliz da nossa existência, os pequenos flagrantes da vida real. Preferia ilustrar o homem comum, como, por exemplo, a senhora professora, o camionista, a família que vai de fim-de-semana em viagem e que volta esgotada ao fim do dia. É verdade que Rockwell pouco ilustrou as minorias étnicas, mas tal não tem nada a ver com uma mentalidade racista. Este americano preferia pintar a realidade que conhecia, e o seu mundo, para todos os efeitos, era o mundo dos brancos da classe média. Porém, esteve sempre atento às mudanças do seu país e não esqueceu a pequenina menina negra que foi escoltada até à escola de brancos por polícias.

A sua América era a América feliz, inocente, optimista, a América das famílias unidas e dos grandes sonhos, o American Way of Life elevado à glória suprema. E, ao olharmos as suas imagens, chegamos a ter pena: como é que a terra do “Tio Sam” é hoje o lugar onde miúdos matam miúdos nas escolas? Como é que chegámos a este ponto?!

Deixamos aqui a nossa sincera e comovida homenagem e apresentamos quatro ilustrações da sua autoria, e que fizeram história. História com “H” grande.

clip_image002[8]

Ilustração 1: Cidade-Afro

clip_image002

Ilustração 2: O Boato

clip_image002[11]

Ilustração 3: Ir e Chegar

clip_image002[13]

Ilustração 4: Rosie, Mulher de Armas

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Livro da Semana

 

O Nome Da Rosa, de Umberto Eco

clip_image002

De uma coisa vocês podem podem ter a certeza absoluta: daqui a cem anos, 90% dos acontecimentos históricos, políticos nacionais e internacionais, livros escritos, pinturas feitas, filmes realizados e estrelas do mundo da música e do desporto estarão esquecidos. Os fãs da Lady Gaga poderão não gostar muito desta verdade, mas o Tempo é impiedoso. É uma espécie de vassoura que deita para o caixote de lixo toda e qualquer obra, feito ou descoberta científica que não seja minimamente revolucionário/a.

Daqui a cem anos, apenas os historiadores e os curiosos terão ouvido falar de casos como o Freeport ou o Apito Dourado. Daqui a cem anos, talvez os Xutos e Pontapés sejam uma simples nota de rodapé. Daqui a cem anos, Dan Brown poderá ser um ilustre desconhecido e o caso Madeleine Mccain será uma curiosidade um tanto ou quanto interessante para a História do Crime em Portugal. Daqui a cem anos, quem sobreviverá ao Tempo? Bill Gates, Barack Obama, José Saramago e um punhado muito pequeno de “felizardos”. Os outros acabarão como nós: esquecidos, como se nunca tivessem existido. Porque o Tempo é uma lady altamente exigente, uma senhora muitíssimo culta, que só enche as prateleiras da sua casa com o melhor do melhor. Para a Senhora Tempo, nem o “excelente” é interessante. Apenas o “genial” merece ser guardado.

Até agora, o romance O Nome Da Rosa tem sobrevivido à Senhora Tempo. Escrito há precisamente vinte anos atrás, ainda é um dos livros mais lidos e mais publicados do século XX. Vinte anos depois, a história, a intriga e as personagens ainda conseguem criar fascínio nos leitores. E este romance é um dos poucos que conseguiu vencer a “sétima arte”: apesar de ter sido adaptado para cinema, continua a ser lido anualmente por centenas de milhar de leitores em todo o mundo, algo que não acontece, por exemplo, com a saga do Harry Potter: agora que os filmes existem, as novas gerações já não lêem os livros. De facto, são muito, muito poucos os autores que, depois de verem as suas obras adaptadas para filmes, continuam a ser lidos. Muitas vezes, é preciso esperarmos cerca de vinte e cinco, trinta anos para que uma determinada obra seja redescoberta.

Mas, afinal, o que há de tão fascinante neste romance histórico-policial? Para começar... É literatura a sério. As primeiras quarenta páginas são uma espécie de “teste ao leitor”: se conseguir ultrapassar este barranco, estará preparado para ler o livro. O início, com efeito, é propositadamente lento, pois quem está a narrar esta história é um monge já bastante envelhecido da Idade Média/início do Renascimento. Aliás, todo este livro é escrito como se fosse um manuscrito perdido, recentemente encontrado num alfarrabista italiano. Ora, os monges têm tempo para escrever, para ler, para estudar, para investigar, para pensar, para meditar. Tempo é o que não lhes falta. Atenção, senhoras e senhores: vamos entrar no mundo fechado de uma fabulosa abadia. Aqui não há pens, nem mails, nem carros, nem televisão, nem jornais. Aqui o tempo pára. O mundo não muda a cada ano que passa, o mundo muda de cem em cem anos. Ou o leitor aceita esta verdade ou então o melhor mesmo é nem sequer entrar pelas portas imponentes desta abadia.

A trama “policial” é apenas um pretexto para falarmos de coisas mais importantes: como é que o Homem Medieval, particularmente o religioso e culto, vê o mundo? O Diabo existe ou é apenas uma mera imaginação dos homens? Como é que se distingue um santo de um bruxo, se as alucinações e os sinais divinos parecem ser precisamente os mesmos? Como pode a Igreja, cheia de luxo e de riquezas, tolerar um grupo de religiosos conhecidos como Franciscanos, homens estes que recusam as riquezas e acusam a própria Igreja de se ter afastado da palavra de Cristo? E por que motivo o riso é “coisa do demónio”?

Toda a história deste romance ocorre num tempo de encruzilhadas: a Idade Média como nós a pensamos está a chegar ao fim. As cidades dominam cada vez mais o mundo e os conventos e abadias são esquecidos. Crescem as universidades, cresce o comércio, fala-se de ideias que serão mais tarde conhecidas pela palavra “Humanismo”. E os monges desta abadia já não se identificam com este novo mundo, acham que o fim do planeta está a chegar, que a presença do Anti-Cristo é mais que certa. E no meio de tudo isto, há uma estranha, labiríntica e fascinante biblioteca e uma série de assassinatos que parecem girar à volta de um livro maldito...

O filme, que conta com as excelentes interpretações de Sean Connery e Christian Slate, nada mais é do que um pálido vislumbre do livro. Mas, francamente, em duas horas não se pode contar muito. Há todo um universo de sabedoria que se perde no grande écrã. Esta é, para todos os efeitos, uma obra literária que nunca resultaria no cinema. Porém, deixamos aqui o aviso: este não é um livro para qualquer leitor.

Façam o teste. Tentem ultrapassar as quarenta páginas. Se conseguirem, entrem na abadia.

E deslumbrem-se.