Caim, de José Saramago
Bíblia para Todos, de Círculo de Leitores e Sociedade Bíblica
Hoje em dia, não há assunto mais arriscado e mais polémico para se debater, do que a religião. Talvez os nossos avós tenham tido toda a razão, quando nos alertavam que havia certas conversas que não devíamos ter em público. Uma delas era precisamente a religião. Actualmente, com o crescimento numérico dos “convertidos”, torna-se cada vez mais difícil olhar para todas as obras sagradas com um olhar imparcial, histórico e objectivo.
A título de exemplo, os cientistas que trabalham nos Estados Unidos da América encontram-se, neste momento, debaixo de fogo cruzado, por serem considerados pelos novos cristãos como “inimigos de Deus”. Muitas das próprias escolas desta nação estão, actualmente, literalmente proibidas de ensinar o Evolucionismo, a teoria que defende que o mundo foi criado em centenas de bilhões de anos, e não em sete dias, como reza a Bíblia. Os ateus (ou seja, aqueles que não acreditam em Deus) são ameaçados de morte e, mesmo quando nos candidatamos a um emprego, temos que especificar no formulário qual é a nossa religião.
Pensam vocês: “E daí? Não estou a viver nesse país, pois não?”. Pois não, não estamos. Mas o fanatismo religioso está a espalhar-se por toda a Europa, desde a França até Espanha, desde a Suíça até à Dinamarca, desde a Alemanha até à Itália. E pelo menos 20% do novo parlamento da Comunidade Europeia é composto por membros da Extrema-direita. A nossa vez, meus caros amigos, chegará. Por enquanto, serve-nos o consolo de, este ano, termos ganho um prémio da ONU: segundo esta instituição, somos o país mais tolerante do mundo!
Desde o dia 11 de Setembro de 2001 (a queda das torres gémeas), o mundo está a passar por uma nova fase de puro fanatismo religioso. E quando as posições começam a extremar-se, não é de espantar que “ovelhas negras” como Richard Dawkins ou o nosso José Saramago revelem um cada vez maior desprezo pelas religiões. Para estes intelectuais, os deuses não trazem a paz, não unem os homens, não promovem a cultura e o saber, não promovem a tolerância, não aperfeiçoam o ser humano. E por muito que nos desagrade ouvir isto, este é o retrato dos nossos tempos. Compete, portanto, a nós ensinarmos as novas gerações a serem mais tolerantes e mais predispostas a dialogar e a trocar ideias. É que nunca a palavra “tolerância” foi tão importante, como o é actualmente.
Assim, deixamos aos leitores dois livros: um é a “Biografia Autorizada”, outro é a “Biografia não Autorizada”. A Bíblia para Todos (esta edição foi traduzida com o propósito de ser entendida por todos, daí o título), independentemente de ser um livro cheio de guerras, de genocídios horríveis e de uma enorme violência sem sentido, é também uma obra que fala da compaixão (lindíssima, a história de José e dos seus irmãos), do amor e do perdão. Acima de tudo, a Bíblia também tem que ser lida como uma compilação de textos acumulados ao longo de mais de três mil anos. Não pode ser lida à letra, como se fosse um livro de receitas de cozinha.
Quanto a Caim… primeiro, leiam. Só depois é que poderão dar a vossa opinião.
Leiam, raciocinem, comparem os dois livros. Estimulem a vossa mente.
O mundo não precisa de punhos, precisa de mentes brilhantes.
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