A Terrível Primeira Guerra (Mundial), de Terry Deary e Martin Brown
São imensas e inesgotáveis as inúmeras histórias à volta da Segunda Guerra Mundial: desde filmes até séries de televisão; desde documentários até entrevistas com sobreviventes; desde canções até sinfonias e concertos; desde peças de teatro até contos e novelas; é tanta a informação deste negro período da História da Humanidade, que o público já começa a ficar enjoado do assunto.
Porém, quando é para abordarmos a sinistra Primeira Guerra Mundial, o caso muda totalmente de figura: são raríssimos os artistas ou historiadores que se debruçam sobre uns dos quatro anos mais negros deste Planeta. De facto, há décadas que não se fazia um filme passado nesta época e Um Longo Domingo de Noivado, de Jean-Pierre Jeunet, é uma excepção que confirma a regra. Por que motivo a Primeira Guerra Mundial fascina tão poucos?
Em primeiro lugar, não há praticamente heróis nenhuns, e sem heróis, não há propriamente histórias. As chacinas nas trincheiras representam o lado mais esquizofrénico da guerra: morre-se sem sequer se saber porquê. E morre-se anonimamente, solitariamente. Em segundo lugar, não há propriamente uma grande missão, uma grande causa. Esta guerra começa por causa de uma série de fronteiras europeias, estilo “tem-te, não te caias”. Com efeito, as fronteiras dos países europeus viviam num equilíbrio muito precário, e bastava a mais pequena fagulha, para tudo desabar como um castelo de cartas. Assim, a Primeira Guerra Mundial não passou de um desperdício de vidas, de dinheiro, de tempo consumido. É tão absurda que custa a falar nela.
Felizmente, ainda existem historiadores, escritores e cineastas que não se esqueceram deste período negro: a colecção História Horrível (só podia ser inglesa!) dedicou um dos seus números a estes quatro anos negros e absurdos do início do século XX (há muitas outras guerras absurdas, mas fiquemo-nos agora por esta…). À boa maneira inglesa, o sentido de humor não podia ser mais negro: como o próprio nome da colecção indica, esta história vai ser mesmo…horrível e todos os pormenores mais arrepiantes serão esmiuçados neste delicioso livro parta banda desenhada, parte livro de história. Por exemplo:
1- Sabias que cheirar a tua própria urina poderia salvar-te de um ataque com gás do inimigo?
2- Sabias que foi um par de meias velhas que denunciou uma série de planos secretos dos alemães?
3- Sabias que nas trincheiras comia-se qualquer coisa, desde carne de cavalo até ratos e gafanhotos?
4- Sabias que o Whisky era enviado para os campos de batalha, não como bebida mas como “desinfectante”?
5- Sabias que o dito “café” que os soldados bebiam não era café, eram nozes torradas misturadas com carvão?? Com açúcar até se bebia. O problema era havê-lo…
Ora aqui temos uma excelente oportunidade para nos rirmos, enquanto aprendemos. Terminamos este texto, aconselhando-vos a ver o filme acima mencionado, de Jean-Pierre Jeunet, uma lindíssima história de amor passada na Primeira Guerra Mundial, que separa dois apaixonados por causa da guerra. Ele é dado como morto. Ela, não acreditando, nunca se cansará de o procurar…
Um Longo Domingo de Noivado
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