terça-feira, novembro 24, 2009

Livro Da Semana

A Conspiração Contra A América, de Philip Roth

clip_image002 Imaginem. Imaginem só por um bocadinho. Estamos nos anos quarenta do século passado. A Segunda Guerra Mundial corre de vento em popa, os americanos não querem fazer parte da mesma, os alemães dominam cada vez mais o mundo, a ideologia comunista é uma ameaça às terras do Tio Sam.

Philip Roth (o escritor e a própria personagem deste livro) tem nove anos e vive uma existência sossegada em Newark (New Jersey) com a sua família. Sendo judeu, o poder de Adolf Hitler preocupa-o. Mas isso é mais um assunto dos adultos, não das crianças. Estas sentem o mal-estar dos seus pais e das suas famílias, sentem que há qualquer coisa errada no mundo e que as pode afectar. No entanto, crianças são crianças. Ainda há tempo para brincar, para ir à escola, quem sabe até se não haverá tempo para algum namoro às escondidas.

Mas tudo está prestes a mudar: o simpático, heróico e diplomático presidente é, secretamente, um apoiante do regime nazi. Admira Hitler. E está disposto a transformar os Estados Unidos da América num país aliado da “nobre raça ariana”…

Escrito em 2004, A Conspiração Contra A América cria um futuro alternativo: e se, em vez de ser o presidente Franklin T. Roosevelt a ganhar as eleições americanas, quem vence é Charles Lindbergh, um simpatizante nazi e verdadeiro herói do seu tempo? Lindbergh cumpre aquilo que prometeu: os Estados Unidos da América tornam-se uma nação neutra, não interferirão na guerra e, por isso, os alemães, os italianos e os japoneses tomarão as rédeas do mundo. E, como se não bastasse, Lindbergh ainda declara guerra ao Canadá! Entretanto, os judeus americanos começam a ser perseguidos… Philip Roth, a criança de nove anos, observa tudo e é testemunha de um mundo que odeia o seu povo.

Este livro é perturbante, na medida em que, ao lermos o desenrolar da acção, apercebemo-nos que basta uma pequenina “mudança de planos”, para que a História da Humanidade dê uma verdadeira reviravolta e, muitas vezes, esta nem sequer pende para o lado mais positivo de todos. Senão, vejamos: como seria o século XX, sem o 11 de Setembro? Seríamos mais tolerantes, menos religiosos, menos conscientes do impacto do Homem neste planeta? Como seria Portugal, sem a instauração da Inquisição? Como seria Portugal, se nunca tivéssemos recuperado a nossa independência? E se as tropas de Hitler tivessem vencido a Rússia? E se Kennedy nunca tivesse sido assassinado? E se Gorbatchev nunca tivesse nascido? Será que a Perestroika teria sido despoletada por outro ser humano?

Por fim, este livro também nos faz pensar até que ponto os políticos, em nome da Liberdade e da Segurança, mais não têm feito do que arranjarem pretextos para nos manipular e nos espiar. O famoso Patriot Act, criado pelo presidente Busch, é o exemplo perfeito disso.

E então, os computadores? Não serão os futuros controladores da nossa liberdade?

Eis uma obra que dá que pensar.

3 comentários:

lbasilio disse...

Aconselho vivamente este livro (e toda a restante bibliografia). Roth é um dos maiores escritores da actualidade

Amélia Sousa disse...

OLÁ!
E principalmente, olá a todos os construtores do portaberta!
É isto que vocês têm de especial: fazem ver as coisas de outro ângulo, precisamente como ainda não se tinha pensado.
Vou sempre continuar a espreitar, quando me é possível, mesmo sem comentar, só porque vocês são assim!

Amélia Sousa

Anónimo disse...

Amélia:

Obrigada pelo elogio! :)

Assinado: Sandra Costa (um dos membros da equipa do blog)