segunda-feira, novembro 09, 2009

Livro Da Semana

 

A Estrada, de Cormac Mccarthy

Um pai e um filho caminham clip_image002sozinhos pela América. Nada se move na paisagem devastada, excepto a cinza no vento. O frio é tanto que é capaz de rachar as pedras. O céu está escuro e a neve, quando cai, é cinzenta. O seu destino é a costa, embora não saibam o que os espera, ou se algo os espera. Nada possuem, apenas uma pistola para se defenderem dos bandidos que assaltam a estrada, as roupas que trazem vestidas, comida que vão encontrando - e um ao outro.

Há cerca de duas semanas atrás, falámos de um escritor que, até morrer, seguiu o seu próprio instinto e escolheu escrever os livros que sempre quis escrever, independentemente de serem vendáveis ou não (ver “Livro da Semana”, 2666, de Roberto Bolaño). Pois bem: o autor desta semana também seguiu sempre esta via: nunca se preocupou com prémios e com fama, viveu na sombra durante muitos anos (apenas um pequeno grupo de culto soube amá-lo), nunca deu entrevistas, fugiu sempre a estreias, a festas sociais, a programas de televisão, a qualquer coisa que lhe cheirasse a “marketing”, “publicidade”, “jet set”, câmaras de gravar, telefones…

Isto até há cerca de três anos. Quando publicou o seu romance A Estrada, a famosa apresentadora Oprah Winfrey não descansou enquanto não o arrastou até ao seu programa e, pela primeira vez na sua vida, Cormac Mccarthy cedeu dar uma entrevista ao público americano (ver foto em baixo). É caso para dizer que Oprah consegue sempre o que quer… Mas também precisamos de dizer que este destaque da semana abalou a consciência de todos as pessoas que o têm lido.

A Estrada é, acima de tudo, uma história de amor incondicional. Que faríamos nós para salvarmos e protegermos o ser que mais amamos? É esta a grande missão das duas personagens desta pequena joiazinha literária: um pai promete a si mesmo alimentar e acarinhar o seu filho, num mundo pós-nuclear. Promete a si mesmo protegê-lo dos ladrões de crianças, roupas e comida; promete a si mesmo não o deixar sozinho neste planeta devastado pela estupidez dos homens; promete a si mesmo que clip_image003a sua criança não passará fome, que terá acesso aos poucos medicamentos que ainda restam; promete a si mesmo que o seu filho não terá medo. Não sabemos quem é que lançou a primeira bomba, como é que a guerra começou. A história começa no fim: um planeta cinzento e preto, sem vida, sem verde, sem nada. Apenas as sombras de homens meio-mortos, meio-queimados, tentando sobreviver.

Duas coisas nos saltam logo à vista: o espaço exterior (a estrada) é sempre mais acolhedor e menos perigoso do que o espaço interior (as casas). Pai e filho têm pavor de casas, fogem delas, só visitam estas quatro paredes quando não têm mesmo outro remédio. E não devia ser assim: a casa é o lugar da família, do refúgio, do descanso. Pai e filho só entram se ainda existe a esperança de uma dispensa que ficou esquecida, por esvaziar. Sem essa esperança, a casa não existe, a casa é o lugar da morte, da violência, da doença e do canibalismo. Por isso é preciso andar, é preciso andar sempre.

É o instinto de sobrevivência no estado mais puro.

Esta história tem um final feliz? Depende do olhar de cada leitor.

Qual será o teu?

É urgente conhecermos este escritor.

Imagem retirada de:

http://www.msnbc.msn.com/id/19055292/

2 comentários:

Paula disse...

Este é dos livros do meu top 10 :)
Deixo o link do meu comentário a este livro no meu blogue.

http://viajarpelaleitura.blogspot.com/2009/08/estrada-cormac-maccarthy.html

Um abraço

lbasilio disse...

O The Times publicou "The 100 Best Books of the Decade". "A Estrada" está em 1º lugar.
Confirmar aqui a restante lista:
http://entertainment.timesonline.co.uk/tol/arts_and_entertainment/books/book_reviews/article6914181.ece?print=yes