segunda-feira, novembro 24, 2008

Baú da Avozinha

Syd Barrett- Antes de Enlouquecer de Vez

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É muito simpático da tua parte

Pensares que eu estou aqui

Mas sinto-me forçado a dizer-te

Que não estou aqui.

E nunca pensei

Que um quarto pudesse ser tão triste,

E nunca pensei

Que um quarto pudesse ser tão grande,

E agradeço-te o facto de teres deitado fora

Os meus sapatos velhos

E de me teres trazido para aqui

Vestida de vermelho.

E pergunto a mim mesmo:

Quem está a escrever esta canção?

Há músicas que nos arrepiam e que nos entristecem, no preciso instante em que as ouvimos. Como, por exemplo, All Apologies, dos Nirvana, canção esta escrita (hoje sabemo-lo) semanas antes de Kurt Kobain cometer suicídio. É como se, só depois da tragédia, todo o seu verdadeiro sentido fosse finalmente desvendado. São músicas com uma história e um final tristes. Ora, Jugband Blues, de Syd Barrett, é uma delas.

Extraordinariamente talentoso, extraordinariamente genial, extraordinariamente electrizante, Syd teria ido muito, muito mais longe do que foi como músico, se não tivesse escolhido o caminho das drogas, particularmente a LSD. Há quem diga que Barrett já possuía uma esquizofrenia latente, e que as drogas mais não fizeram do que despoletar um problema que já nascera com ele. Seja verdade ou não, Syd foi para férias e quando voltou, dias depois, estava à beira da loucura.

A partir daí, foi a queda. São inúmeras as testemunhas que assistiram horrorizadas a um génio que, no cimo do palco, ficava imóvel durante todo o espectáculo, não tocando um acorde da sua guitarra, não cantando, não fazendo nada. David Gilmour, que tinha sido contratado para o grupo com o objectivo de manter o seu amigo de infância “debaixo do olho”, não teve mesmo outro remédio se não substituí-lo de vez.

Jugband Blues foi a última canção escrita para o grupo que ele, ironicamente, fundou: os lendários Pink Floyd. Syd sabia que estava a enlouquecer de vez, sabia que a sua vida nunca mais seria a mesma, que gastaria os seus dias fechado na sua casa, hiper-protegido pelos seus familiares. Numa questão de meses, envelheceu anos, perdeu o brilho electrizante nos olhos. E tudo isto foi captado pela câmara que o filmou pela última vez.

Jugband Blues não é uma canção feliz, é uma canção de despedida. Syd está nitidamente a dizer adeus a tudo e todos. E a banda filarmónica que o acompanha no vídeo está tão louca como ele.

Termina, assim, a despedida:

Não me interessa se o sol não brilha,

Não me interessa se nada é meu,

E não me interessa se me sinto nervoso ao pé de ti,

Farei o meu amor no Inverno.

E o mar não é verde,

E eu amo o mar,

E o que é propriamente um sonho?

E o que é propriamente uma piada?

Syd Barrett morreu em 2006.

Pela segunda vez.

http://br.youtube.com/watch?v=yuL1CCJqHEc

2 comentários:

Anónimo disse...

DA POUCA EXPERIENCIA QUE TENHO ADQUIRIDO NESTA CURTA PASSAGEM A QUE CHAMAMOS VIDA,PENSO QUE NA SITUAÇAO EM QUE ESTE SENHOR ESTAVA, AS DROGAS NAO SAO UMA OPÇAO. talvez uma auxiliar que o aproxima de uma vasta realidade. um suplemento. um remedio. uma porta para a "sua" verdadeira percepçao. Penso mesmo que seja tudo menos facil escolher um caminho uma vez que sao tantos e só um parece ter sentido.


simão lopes

Anónimo disse...

"The Piper At The Gates of Dawn" é, na minha opinião, um dos álbuns mais geniais alguma vez criados no mundo do rock. Syd Barrett era um adulto que adorava brincar e pensar como as crianças (ouça com atenção a última música deste álbum). Mas era também alguém que adorava experimentar tudo e cometeu o grande erro de viver com demasiada intensidade a sua vida. Pagou um preço muito caro por isso: desgastou-se muito depressa.

Por outro lado,o seu sucessor, Roger Waters, não deixou que a sua paixão pela vida o destruísse. Por isso, foi capaz de criar muitos albuns geniais, sendo um deles a obra-prima "The Dark Side Of The Moon".

É como Mr Pickering dizia, no "Clube dos Poetas Mortos": "Sugar o tutano da vida não significa sufocarmo-nos nele".

Sadra Costa