domingo, outubro 31, 2010

Onde É Que Eu Estacionei A Minha Nave Espacial?? Parte III

Depois de termos falado de realidades alternativas e de doenças excêntricas vamos falar do futuro. O nosso futuro, o futuro que nos espera. Afinal, a Ficção Científica não fala apenas de naves espaciais e de alienígenas.clip_image002

Forças do Mercado, de Richard Morgan - Bem-vindo ao futuro. E este não é nada convidativo: a população humana não pára de crescer; a gasolina falta; as grandes corporações tomaram conta do planeta; todos os governos não são mais do que máfias à vista de todos e que servem as corporações; a televisão tomou definitivamente conta das nossas vidas; os satélites espiam a vida de cada ser humano; as nações são atacadas por hackers e por gangsters à moda antiga; já não se lê nada; as pessoas ou vivem num estado vegetativo ou descarregam a fúria e frustração no vizinho do lado; come-se, dorme-se, faz-se as necessidades, gasta-se dinheiro em compras, e o resto é bebida e sexo; quanto à Democracia… esqueçam. Não há sonhos, não há projectos, apenas o terror de se viver numa selva de humanos que nos espreitam à procura de um sinal de fraqueza, por mais pequeno que este seja.

E neste mundo tão maravilhoso e aconchegante, Chris Faulkner sabe muito bem que pode ter os seus dias contados. Executivo em ascensão numa espécie de negócio que se chama Investimentos em Conflitos (e ser-se executivo neste futuro é literalmente matar os rivais num duelo mortal), Faulkner chegou ao fim dos seus sonhos e conseguiu aquilo que quis: poder, fama, dinheiro, mulheres. O que o torna um alvo a abater muito apetecível e requisitado.

Inicialmente a nossa personagem, em vez de matar sem qualquer piedade, prefere ferir os seus inimigos em vez de lhes “limpar o sebo”, como toda a gente à sua volta faz. Esta compaixão, como devem calcular, não durará muito. E agora que chegou ao topo da cadeia alimentar, a ambição só é comparável à crueldade. E com o seu casamento a ruir, a consciência a pesar e os amigos a reduzirem-se, o nosso herói parece destinado a transformar-se num monstro ou num corpo mutilado. Este livro faz-nos lembrar mais um Sin City do que propriamente um Yes, We Can.

Toda esta história está escrita de uma forma muitíssimo visual, e não é leitura para crianças e estômagos fracos. Hollywood já comprou os direitos de autor, o que quer dizer que, não tarda nada, teremos nas nossas salas de cinema mais um filme de acção. Mas tendo em conta que um filme tem apenas duas horas (três no máximo), aquilo que verdadeiramente importa nesta obra – a crítica a uma globalização feroz – será esquecida ou ignorada, e lá teremos nós mais uma história cheia de sangue e pouco cérebro. Ou nós estamos muito enganados ou muita gente irá associar o nome “Richard Morgan” às palavras “violência gratuita”.

O que é um pena: Richard Morgan é um excelente escritor.

1 comentário:

Dellenn disse...

...aaahhh que seca! Mais um autor a falar da violência urbana. Que chatice, este livro, para mim, é realista demais.