“Os homens falam de tudo, as mulheres só falam de mulheres”. Esta é uma das citações mais famosas do planeta, apesar de não sabermos quem é que a inventou. Porém, há um certo grãozito de verdade neste cliché: se procurarmos com muita atenção a nossa estante de livros, são bastante poucas as escritoras que se centram no universo masculino ou que fazem um esforço sequer para o tentar perceber, algo que, de facto, não acontece com os escritores, que falam muito da segunda metade da Humanidade e tentam sempre compreender a mente feminina.
Por que motivo as mulheres são assim? Terá sido o facto de, durante milénios, terem estado fechadas para o mundo exterior, e o melhor que hoje sabem fazer é falar do espaço feminino, de “cozinha e filhos”? Será que os homens são “básicos” e pouco interessantes, e por isso não vale a pena falarmos deles? Ou será que - dizem as más-línguas - elas não têm imaginação e criatividade suficientes para entenderem e descreverem “o outro lado”?
Polémicas à parte, deixamos aqui dois (raríssimos) exemplos de escritoras que não centraram a sua imaginação apenas no mundo feminino. Hoje, falaremos da obra de uma escritora portuguesa. Amanhã daremos a conhecer aos nossos leitores um dos maiores génios do Japão. Que, por acaso, usava saias.
Os Íntimos, de Inês Pedrosa
É o seu último romance e causou surpresa, espanto e excelentes críticas de quase tudo o que é jornal e blog. Sendo a típica escritora “que só fala de mulheres”, Inês Pedrosa (foto em cima) quis, desta vez, centrar o seu olhar no mundo dos homens e, por isso mesmo, todas as personagens desta história são masculinas. São cinco amigos que se juntam para falar de coisas “de macho”: Futebol, mulheres, profissões, carros. Serão os homens assim tão diferentes das mulheres, ou é tudo uma questão cultural, e nada mais?
Logo percebemos que esta intimidade masculina pouco ou nada tem a ver com a das mulheres. Estas gostam de se juntar para conversar, andam sempre em bando, confessam tudo, contam tudo às suas amigas, acreditam nessa coisa chamada “auto-estima”. Porém, como uma das personagens do livro nos diz, Um homem não tem de pedir que, por favor, lhe poupem a auto-estima. Um homem ri-se da palavra auto-estima. Auto-estima nem sequer é uma palavra: é um adereço, um postiço de salvação.
Os homens não precisam de falar, basta-lhes estar. Gostam de estar uns com os outros e de desfrutar da companhia dos seus amigos. O que não os torna mais estúpidos do que elas. Segundo as palavras da própria escritora, Interessava-me perceber porque há certo tipo de rituais exclusivos entre homens, como o dos encontros para ver um jogo de futebol no estádio ou num restaurante. Queria falar de uma cultura latina e marialva que está em extinção mas vai sobrevivendo e ser mais ousada na escrita, polir as frases, tirar-lhes o verniz e escrever sobre sexo de uma forma tão clara e crua quanto possível. O discurso dos homens ajudava.
Inesperado e ousado, este é um livro feminino que, desta vez, irá ser lido também por homens.
Imagens retiradas de:
1 comentário:
Vou ver se compro o livro. Parece ser bastante interessante...
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