domingo, outubro 17, 2010

Abracadabra!!!!

clip_image002 Nesta tarde esplendorosa de Domingo, encontro-me a ler um livro que tinha comprado há cerca de dois anos, e que foi ganhando pó nas prateleiras. Pois é, eu tenho este maldito vício: vejo um livro que me interessa e não resisto a comprá-lo, ainda por cima este, que estava em saldo na VOL. Talvez seja por isso mesmo que, ultimamente, ando a evitar livrarias a todo o custo e a visitar bibliotecas municipais com cada vez mais frequência: é que os tempos não estão para gastos – dizem os políticos – “supérfluos”. Mas como, felizmente, os livros não são como os papos-secos, não ganham bolor ao fim de seis horas e podemos guardá-los para uma outra altura.

A capa e o título cativaram-me: Carter Vence o Diabo, de Glen David Gold. Um ilusionista triunfante joga às cartas com um “mafarrico” muito pouco assustador, diga-se de passagem. Mas a capa reinventa muito bem os cartazes de antigamente, que retratam na perfeição as pessoas de há cem anos atrás: tão belos, tão ingénuos e tão inocentes. Porque este romance aborda um tema que é bastante fora do comum: Glen Gold decidiu escrever uma história centrada na vida incrível e fascinante de um ilusionista, história esta que tem lugar nos “loucos anos 20” do século passado, uma década em que se vivia uma obsessão por tudo o que fosse paranormal e mágico.

Obsessão, sim: na alvorada do século XX e da explosão da Ciência, o mundo de então andava numa de convidar espíritas, ler bolas de cristal, consultar tarólogas, e adorava falar de projecção astral, hipnotismo, fantasmas… Pois, quem é que não gosta de falar nisto? Mas talvez a diferença resida no facto de que os Americanos desse tempo acreditavam mesmo nestas coisas todas. Não, não era coisa de minoria, de maluquinhos, até os cientistas mais respeitáveis consultavam as cartomantes quando tinham dúvidas existenciais, e era chic termos um médium nas nossas vidas, à semelhança dos personal trainers de hoje. Não é, pois, de espantar que um mundo assim idolatrasse os mágicos e ilusionistas, uma espécie de pop stars daquela época.

Mas vamos ao que interessa: Carter, O Grande, sabe que o Presidente dos Estados Unidos da América faz tenções de não só ver o seu espectáculo, como também deseja participar num dos seus números. Por razões óbvias de segurança, todo um exército de guarda-costas quer inteirar-se do que irá acontecer no palco e, por uns breves minutos, o grande mágico e o Presidente ficam a sós, conversando. É durante esta troca de ideias que Harding lhe pede um conselho: se estivesse a par de um terrível segredo, seria capaz de o revelar a alguém? Carter fica intrigado e as confissões continuam. De momento nada será revelado ao leitor, mas de uma coisa ficamos a saber: os dois combinam um plano qualquer, que será do desconhecimento clip_image004da nação.

Quando chega o grande momento, o público assiste à morte de Harding no palco: o “diabo” mata o representante da nação, e pedaços do seu corpo vão caindo para o palco. Logo a seguir, um leão devora-os. Quando a sala começa a entrar em pânico absoluto, Carter abre o leão… e retira dele um presidente são e salvo, divertido e, ainda por cima, feliz! O público ovaciona os dois de pé.

Duas horas depois, Harding é encontrado morto.

Embora seja este o seu primeiro romance, Glen Gold escreve com muito talento, sentido de humor e ironia. Além disso, descreve com muita nitidez as mentalidades dos Americanos deste tempo. A título de exemplo, Carter, quando era criança, esteve quase para ser violado e morto juntamente com o seu irmão, e se não tivessem sido os truques de magia que ele andara há uns (abençoados!) dias atrás a treinar, não teria conseguido fugir do jardineiro, homem este contratado pelo seu próprio pai. Quando lhe contou o que se passou, ficou siderado por descobrir que o seu pai não só não acreditou na versão dos seus factos, como ainda por cima até achou muito bem que Jenks, o jardineiro, tivesse dado uma “lição de boas maneiras” aos seus petizes. Para o Sr. Carter, alguma coisa os seus filhos tinham feito para terem sido “castigados” pelo seu próprio jardineiro. Não o demitiu, pagou-lhe o salário do mês e ainda obrigou Carter e o seu irmão a pedirem-lhe desculpas pelo incómodo que lhe causaram.

Sem dúvida, eram mesmo outros tempos…

Por cá, o livro passou despercebido, mas vendeu milhões na Europa e nos Estados Unidos da América. Ainda restam alguns exemplares à venda na Amazon. Aproveitem!

Imagem retirada de:

http://www.goodreads.com/book/show/874028.Carter_Beats_the_Devil

http://www.goodreads.com/book/show/6323308-carter-vence-o-diabo

Sem comentários: