quarta-feira, março 10, 2010

A Maldade Não Tem Nacionalidade

O que é que uma criança autista espancada por colegas na Itália e uma homenagem a duas crianças assassinadas na Austrália têm em comum? Ambas foram vítimas de cyberbullying. No primeiro caso, uma turma não só passou “alegres momentos” a espancar uma criança autista como, ainda por cima, gravou tudo e publicou a notícia no Youtube.

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Quanto ao segundo caso, tratava-se de um memorial online, erigido pelos pais desses dois meninos, no Facebook. Estupefactos, revoltados e magoados, descobriram que este espaço foi usado para publicar fotografias pornográficas, insultos e até ameaças de morte.

Fartos desta passividade dos grandes senhores da era digital, os italianos perderam a paciência, arregaçaram as mangas e condenaram três executivos da Google (a youtube é propriedade deste portal) a seis meses de pena suspensa. Não durou muito para que as “falsas virgens” e os supostos defensores da liberdade e da democracia começassem a bradar que o fim do mundo estava à porta: segundo a notícia no Expresso.pt (poderão lê-la aqui: http://aeiou.expresso.pt/icyber-bullyingi-google-e-facebook-debaixo-de-fogo=f570131 ) Para o jornalista Jeff Jarvis, autor do influente blogue Buzz Machine, o que o tribunal italiano pretende é que os sites validem antecipadamente tudo o que publicam. O resultado prático, argumenta, é que "nenhum site permitirá a publicação porque o risco é muito grande". "Isso mata a Internet".. Quanto aos pais australianos, estes enviaram uma carta de protesto ao fundador do Facebook, mas a porta-voz da popular rede social, Debbie Frost, respondeu nos seguintes termos: "O Facebook é intensamente auto-regulado e os utilizadores podem e devem reportar conteúdos que considerem questionáveis ou ofensivos".

Não. Nem o Facebook nem o Youtube são regulados. Enquanto não existir uma legislação fortemente punitiva em relação ao cyberbullying, casos como este continuarão a proliferar violentamente em todas as redes sociais. Reportar um comentário abusivo não serve para literalmente nada se, depois da denúncia, ficar tudo “em águas de bacalhau”. A título de exemplo, na Austrália, a identidade de um cyberbully só pode ser revelada se o insulto for uma real ameaça de morte. No mês de Fevereiro do ano passado, um pai de uma rapariga vítima de cyberbullying dirigiu-se aos responsáveis do Facebook na sua terra natal. Disseram-lhe que não podiam fazer nada e que não podiam revelar a identidade dos agressores porque, em nenhuma das mensagens que foram publicadas, não havia lá nada que transparecesse a uma ameaça de morte. Pior ainda, a polícia australiana afirmou exactamente o mesmo. As ditas mensagens “inofensivas” diziam qualquer coisa como “Corta os pulsos e sangra até à morte” ou “põe uma bala na cabeça”. Se isto é coisa pouca, então o que é que um agressor precisa de escrever para que a sua identidade seja revelada?

Os Grandes Senhores da era digital podem e devem castigar os agressores que “infectam” o bom nome e prestígio da sua empresa. Assobiar para o lado é o equivalente a um professor assistir a uma cena de pancadaria na sala de aula e não tentar fazer nada para a parar. Assobiar para o lado seria o mesmo que um cidadão testemunhar um atropelo e fuga e não telefonar à polícia a denunciar o caso.

Os dias felizes e dourados da Internet “Defensora da Liberdade” chegaram ao fim, e os seus utilizadores exigem a responsabilidade e a punição de quem abusa destas plataformas. Preservar os direitos de alguém que não sabe respeitar os direitos dos outros é algo que ninguém entende. Escreveu? Insultou? Agora, responsabilize-se pelo que disse. Por isso mesmo, a Comunidade Europeia está a preparar neste momento uma legislação que visa “passar por cima” do poder da Google, Facebook e de outras plataformas digitais, caso os direitos humanos sejam desrespeitados. Para tal, bastaria apenas banir o agressor da rede social e publicar o seu nome online. Só isto já seria o suficente para diminuir uma boa parte dos casos de cyberbullying. Como afirma Karen North, e muito bem, Vivemos numa sociedade onde se espera que as empresas assumam as suas responsabilidades. Trocando por miúdos: se companhias como a Marlboro ou a Nestlé são chamadas à barra dos tribunais se pisarem os direitos humanos, quem é que a Google, o Facebook e o Hi5 pensam que são, para acharem que podem escapar impunes?

Imagem retirada de:

http://mariano.delegadodepolicia.com/wp-content/uploads/2009/12/cyberbullying.gif

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