quinta-feira, março 25, 2010

Como Começar A Gostar De Ler

 

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São muitas as pessoas em Portugal que se apercebem cada vez mais da importância da leitura, e isso já é uma boa notícia: há trinta anos atrás, os portugueses vangloriavam-se de não gostar de ler. Trinta anos depois, notamos uma pequena evolução. Por exemplo: nos concursos de televisão, sempre que o apresentador pergunta ao participante algumas questões de cultura geral, ouvimos logo justificações do tipo “não leio porque não tenho tempo” ou “não gosto lá muito de ler...”, e tudo isto é acompanhado por uma série de risinhos envergonhados ou um tom de súplica que mais parece dizer “eu sei que estou a ser estúpido, mas...”. Reparamos também (e os professores foram os primeiros a detectar esta nova tendência) que há cada vez mais pais que se perguntam: como é que eu ponho o meu filho a gostar de livros? Há alguma fórmula especial?

Pois é. Os portugueses continuam a ler pouco, mas há uma pequena geração (ainda pequena, infelizmente) de crianças e adolescentes que está a criar o hábito de comprar livros e de ir às bibliotecas. Já não é tão incomum assim vermos pais levarem os seus filhos à biblioteca municipal para escutarem contadores histórias ou verem os seus petizes folhearem livros, apesar de estes mesmos encarregados de educação não apreciarem este passatempo.

“Quanto mais cedo, melhor”, dizem os especialistas. Quando a criança se habitua aos livros, tudo nela melhora: a concentração, a inteligência, a memória, o vocabulário. Não, não é uma coincidência: os melhores alunos da turma são sempre aqueles que lêm mais. Mas... o que fazer quando já crescemos e continuamos a não gostar de ler? Afinal, há alguma fórmula mágica para começarmos a apreciar a leitura? Não, não há. Mas há pequenas sugestões que podem criar milagres. Aqui vão elas:

1 – Escolha o livro certo – Se não gosta lá muito de histórias de amor, não vale a pena ler o Romeu e Julieta. Se não gosta de livros policiais, não vale a pena ler O Código Da Vinci. Se não é fã de fantasia, não leia O Senhor dos Anéis. Para quem quer começar a adquirir o gosto pelas palavras, o ideal é procurar um tema que seja do seu agrado. Por exemplo: gosta de História? Então, leia obras relacionadas com esse tema. Gosta de Ciência? Há imensos livros de divulgação científica, e até bastante acessíveis ao público. Interessa-se por moda? Há imensos livros que relatam a história desta “arte efémera”, e muitos deles são divertidos e muito bem ilustrados. O primeiro passo é habituarmo-nos à presença do objecto/livro, e chegarmos à conclusão de que ler é um prazer e não um trabalho forçado. E isto leva-nos à dica 2.

2- não leia um livro à força – Obviamente que não estamos a falar das leituras obrigatórias dos programas das disciplinas de línguas: se temos que estudar Os Maias temos mesmo que o fazer, e ponto final. Aqui, não há discussão. Porém, se queremos aprender a gostar da leitura, temos o direito de abandonar um livro que não nos está a “agarrar”. Não gosta? Ponha de parte. Escolha outro. Continua a não gostar? Ponha de parte. E assim por diante, até encontrarmos aquele livro que nos agarra logo. E isto leva-nos à sugestão 3.

 3 – Torne-se adepto/a de uma biblioteca municipal – Os livros não são um luxo assim tão caro como as pessoas pensam, mas tornam-se caros se compramos um exemplar e depois não chegamos a meio da história. As bibliotecas municipais têm esta incrível vantagem de serem grátis: se não apreciarmos uma determinada obra, podemos devolvê-la sem qualquer sentimento de frustração ou culpa. São os lugares ideais para quem quer começar a usufruir do prazer da leitura.

4- Ignore o tamanho – É o pior disparate que muitas pessoas fazem: há “calhamaços” que nos agarram logo à primeira página e contos que parecem nunca mais terminar, de tal forma são maçadores. Deixamos aqui uma sugestão: se encontrou um tema que lhe interessa, leia a primeira página do capítulo I. Se lhe parecer interessante, leve a obra. As bibliotecas municipais permitem que um “cliente” leve para casa três livros. Depois, é uma questão de se ver se a história continua a ser interessante.

clip_image0045 – Leia quando não tiver nada para fazer – aquele fim-de-semana frio e cheio de chuva, um serão sem nenhum programa de televisão interessante, os filhos na escola, a bicha no trânsito, a fila para pagar os impostos, os amigos todos em férias... ora aqui estão “momentos mortos” nas nossas vidas, que podem ser usados para a leitura. São também momentos em que, na esmagadora maioria das vezes, estamos sozinhos com os nossos próprios pensamentos. Há alturas na nossa vida em que é mesmo bom estarmos sozinhos. Se tem um livro para ler mas os filhos andam aos pulos pela casa esqueça e aguarde pela ocasião certa.

6 – Não se sinta culpado/a - “Comprei um livro e ainda não o li”, “Nunca acabei um livro”, “Deixo-os todos a meio”... Pare de pensar desta forma, isto só vai aumentar a sua raiva à leitura. Pense bem: quantas colecções quis fazer e não terminou? Quantos álbuns de música comprou e já não os ouve? Quantas “jóias” comprou e nunca usou? Quantos filmes viu na sua vida e adormeceu a meio dos mesmos? Quantas camisolas de tricot ficaram por terminar? Quantas vezes se inscreveu no ginásio e acabou por não ir? Quantos planos fez na sua vida e não foram cumpridos em pleno? E não é por isso que deixou de ir ao cinema, de ouvir música, de ver televisão, de gostar de viver ou deixou de gostar de fazer algum trabalho manual. Os livros não são uma obrigação, são um prazer. E não são como os “papos-secos” ou como as bolachas: não se estragam com o tempo. Guarde-os para o momento certo e divirta-se. Já tive livros na minha estante que só foram lidos dois ou três anos depois. E então, onde é que está o problema?

Sigam estas seis dicas. E depois digam-nos, daqui a uns meses, se resultou.

Todos nós temos “o livro ideal” que nos abrirá as portas para o prazer da leitura. É uma questão de o encontramos.

O resto virá por si.

E terminamos este artigo com um pequeno anúncio de incentivo à leitura, e os milagres que esta faz nas nossas vidas.

Incentivo à Leitura

Imagens retiradas de:

http://media.photobucket.com/image/o%20prazer%20de%20ler/ameliapais/ensinar05/aprender.jpg

http://sambadegringo.files.wordpress.com/2009/08/crianca-lendo.jpg

2 comentários:

Ana C. Nunes disse...

A publicidade estava muito gira!

Quanto ao artigo, gostei muito das sugestões e acho que estão todas acertadas. Ainda conheço muita gente que parece ter aversão aos livros e tento sempre incentivá-los a ler. Por exemplo, o meu irmão, que nos seus vinte e dois anos de vida nunca leu um livro até ao fim (nem os obrigatórios). Eu bem tentava incitá-lo, mas ele não caía, então mudei de táctica: Como ele gostava muito de jogos, ofereci-lhe os livros e bd's baseados no "Halo", todos em inglês e ele leu-os todos, aos poucos.
Pensei então que ele gostaria de ficção científica, mas o que eu sugeria, não o cativava, até que ele ouviu falar do último livro do JRdS e achou o tema interessante. O livro tinha acabado de sair e custava um balúrdio, mas só de ouví-lo dizer que se calhar o lia, fui a correr comprá-lo e ofereci-o com o maior gosto do mundo.
Ele ainda está a começar a lê-lo, mas parece estar a gostar porque lê mais rápido do que o habitual.
Não posso dizer que se vá tornar um bom leitor, mas vou continuar a tentar porque acho que o problema é que ele nunca encontrou nada que o interessasse verdadeiramente.
E assim como acontece com ele, o mesmo provavelmente acontece com outras pessoas.

Anónimo disse...

O livro que me deu o "clic" foi "A Casa dos Espíritos" de Isabel Allende. Antes eu até lia, mas eram só livros de Ciência e de Arqueologia. Foi isto que me fez chegar a esta conclusão: há sempre AQUELE livro que nos irá desencadear a "fome" pela leitura e todos nós temos um.

Ficção Científica? Boa escolha! Aconselho o Dune de Frank Herbert, a bíblia deste género literário.

Beijos e obrigada pelo teu testemunho.

Assinado: Sandra Costa