terça-feira, março 09, 2010

Livro Da Semana

 

O Deus Da Primavera, de Arabella Edge

clip_image002 Pintura e Literatura têm andado, durante séculos, de mãos dadas, e são cada vez mais os livros dedicados ao um certo quadro ou a um certo pintor. Por exemplo, Tracy Chevalier já criou dois romances históricos, onde o tema central são duas obras-primas da pintura: A Dama e o Unicórnio e Rapariga com Brinco de Pérola (já deu direito a um filme). O escritor James Runcie escreveu A Cor do Céu, cuja história gira à volta de um pintor chamado Paolo, a descoberta do azul-Ultramarino (que ainda hoje deslumbra os amantes da pintura) e o quadro Maestà, que ainda hoje pode ser visto no Palazzo Pubblico, em Sienna (Itália). O Código Da Vinci gira à volta das obras e mistérios do grande génio Leonardo Da Vinci. Por fim, o escritor maldito Jean Genet dedicou vários anos da sua vida a escrever um livro cujo objectivo era estudar, analisar, divulgar e homenagear a arte esplendorosa de Rembrandt (iremos falar dele, nos próximos dias...).

Temos que parar por aqui, senão o artigo será longo. Mas o leitor já se apercebeu de que o livro da nossa semana é, desta vez, dedicado à história de um quadro muito famoso e, curiosamente, faz ligação com o livro da semana passada. É que os perigos do mar continuam a assombrar este romance...

estamos, portanto, no século XIX. Théodore Géricault, o menino bonito das academias de arte, o último grito da pintura genial, tinha acabado de ganhar o “óscar” da pintura do seu século: a Medalha de Ouro do Salom. Infelizmente, para desgraça de todos os seus fãs... estava apaixonado. Tudo o que ele tinha na sua cabeça era a sua amada Alexandrine, casada com o tio da nossa personagem principal. Nada de pânico, isso é apenas um pormenorzito. Tornam-se amantes e Géricault está feliz como uma criança de cinco anos a quem lhe ofereceram um triciclo. Como todos os apaixonados que se prezem, só pensa nela, só sonha com ela, só vive para ela. E lá se vai o talento, o génio, a arte.

Até que, finalmente, é convidado para uma soirée na casa de um seu amigo. Aborrecido de morte, lá faz um esforço e tenta ser uma boa visita: ouve muitas histórias, sorri muito, fuma uns cigarritos, o costume. Mas é uma conversa em particular que o irá marcar para o resto da vida. Durante o serão, um velho militar critica fortemente a “tacholândia” do governo francês: o comando da fragata Medusa foi dado a um capitão que há 25 anos não pilotava navios e o resultado foi a trágica morte de centenas de marinheiros. Os sobreviventes, à deriva no alto mar, viram-se forçados a seguir todas as regras do manual de sobrevivência, inclusivamente o canibalismo. Géricault ficou tão chocado com esta história que não durou muito tempo para finalmente arranjar um tema para um novo quadro: o desespero dos abandonados e a injustiça dos poderosos. Mas, para isso, precisava de conhecer melhor as personagens deste drama. Precisava de conhecer melhor a intriga, precisava de saber qual era o aspecto desta embarcação. E, pouco, a pouco, esta tragédia começou a ser, para Géricault, uma terrível e doentia obsessão...

A Fragata Medusa é um quadro baseado numa tragédia infelizmente real, e foi no seu tempo uma espécie de metáfora à vaidade e incompetência humanas. Vanitas Vanitatum, como dizia o 2º versículo do Eclesíastes. Vaidade, tudo é vaidade.

E os exemplos do passado parecem não conseguir dar lições de vida aos governantes do presente.

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