terça-feira, março 16, 2010

Livro Da Semana

O Filho Do Lobo, de Jack London

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Antes de começarmos, falemos do título. Por que motivo este conjunto de contos se chama O Filho do Lobo? Pois, tristemente, era assim que os índios chamavam ao “Homem Branco”, ou seja, nós: o lobo, segundo a mentalidade de muitos povos, foi sempre visto como sendo uma criatura cruel, manhosa, forte e traiçoeira (no entanto, segundo o zodíaco de muitos nativos americanos, o lobo (meses de Fevereiro e Março) também pode significar compaixão, compreensão e generosidade). O lobo, sempre que pode, ataca pela calada e morde a mão de quem o alimenta. Pois o “Homem Branco” foi um lobo para os índios americanos: quando nós chegámos fomos logo bem-recebidos e alimentados. Foram os índios que ensinaram os pilgrims (peregrinos) a plantar as terras, a reconhecer as plantas boas e venenosas, a reconhecer pântanos e animais perigosos, a saber sobreviver numa terra desconhecida.

A paga da sua bondade foi o genocídio, e são muitas as histórias (nunca verdadeiramente assumidas) de “planos de extermínio”. Uma delas consistia em oferecer aos homens e mulheres das tribos cobertores cheios de tifóide. O objectivo era matar a tribo e ficar com as terras. Resultou. Resultou muito bem. Outra táctica consistia em separar as crianças dos pais desde tenra idade e educá-las em orfanatos, para que estas perdessem o contacto com a sua cultura e desistissem de lutar pelo que era delas. No início do século XX, muitas tribos estavam praticamente destruídas mas, ao contrário do que se previa, os “nativos americanos” (como agora se diz) estão a reaprender as suas raízes e estão a crescer em número e importância, embora ainda sejam muito discriminados.

clip_image004 Jack London (foto à esquerda), um viajante e aventureiro destemido, descobriu a sua vocação de escritor numa das suas viagens. Reza a lenda que descobriu esse talento quando a “febre do ouro” estourou em Klondike no ano de 1897, e homens e mulheres vindos dos quatro cantos da América - e até do mundo - acorriam às minas, em busca de um futuro melhor. Foi assim que muitas fortunas foram começadas nesta nação, mas também muita, muita miséria “comeu” dezenas de milhares de americanos que, longe de encontrarem o paraíso, só encontraram a morte. Jack London escapou por um triz a esse destino. Mas transofrmou-se num escritor. E graças à sua vida levada ao extremo (fez tudo e mais alguma coisa) morreu com apenas quarenta anos. Foi muito amado enquanto vivo (foi um dos poucos artistas que conseguia viver do que escrevia) mas foi muito desprezado pelos críticos, que o apelidaram de “escritor de histórias de cães” (são personagens muito comuns nos seus livros). Hoje, felizmente, esta mentalidade generalizada já está a mudar.

Os contos são duros, cruéis e extremamente emotivos. Estamos a falar de seres humanos duros como pedras e fortes como as montanhas, não porque o queiram, mas porque não têm mesmo outro remédio senão o serem. Aqui vence a “Lei do Mais Forte”: és duro o suficiente para suportar a Natureza, a fome, a pobreza, o desespero? Então vives. És frágil, demasiadamente emotivo, demasiadamente mimado, demasiadamente choramingas? Morres. Este não é um mundo para poetas, para adolescentes enfadados e para velhos. E, no entanto, estes homens e mulheres nunca deixarão de ser humanos, nunca deixarão de sofrer se um cão morre, se um deles cai e não se levanta mais.

Jack London lutou sempre pelos fracos e pelos oprimidos. Amava a força das mulheres, a lealdade dos cães e sentia uma profunda admiração pelos índios americanos e pelo seu longo sofrimento nas mãos do “Filho do Lobo”. E o Homem Branco está lá, está sempre presente, já “indianizado”, já convertido à tristeza orgulhosa destes anjos avermelhados, de longos cabelos escuros...

Foto de Jack London retirada de:http://2.bp.blogspot.com/_DTkF0SdsrV8/SAuAMeHr0I/AAAAAAAAAmI/7j1zCeV1YDA/s200/image.jpg

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