Um Crime no Expresso Oriente, de Agatha Christie
Todo o criminoso tem sempre um grande amigo, afirma esta grande escritora. Agatha Christie elevou o romance policial à categoria de “literatura de qualidade”. Antes dela, este tipo de histórias não eram consideradas obras de arte, eram vistas pelos intelectuais e académicos como sendo entretenimento de segunda classe, um divertimento feito para agradar as massas. Não eram romances dignos de ficarem para a História da Literatura.
Hoje, sabemos que estamos errados. Grandes mestres como Raymond Chandler (imperdível, O Grande Adeus), Georges Simenon, Rex Stout, Patricia Highsmith e Ruth Rendell, entre outros, demonstraram que as famosas murder stories podem ser verdadeiros rasgos de literatura da boa e da melhor que para aí se faz.
Inglesa até à raiz dos cabelos, Agatha Christie, no entanto, era exímia em criticar a sua própria sociedade. Criticava a mentalidade xenófoba dos ingleses que consideravam os estrangeiros pessoas suspeitas e inferiores (Poirot nunca será um ser humano visto como um “igual entre iguais”, quanto muito será tolerado pela classe alta da Inglaterra); criticava a mentalidade de castas sociais, bastante forte no seu tempo; criticava o machismo dos “cavalheiros” (e das próprias inglesas!); e são muitas as referências a personagens “dúbias”, meio masculinizadas ou efeminadas. Acima de tudo, Agatha Christie foi uma das grandes senhoras do romance policial “dedutivo”, ou seja, o crime descobre-se através da lógica e não através de perseguições com carros policiais, balas de um lado para o outro e xerifes fanfarrões e destemidos. São as famosas “células cinzentas” que desvendam a chave desse grande enigma que é sempre o crime.
Mas falemos da história: durante uma viagem no famoso “Expresso do Oriente” (a propósito: ainda se pode fazer esse percurso! Consulte a agência de turismo mais próxima), um americano antipático e arrogante é assassinado na sua cama. O cadáver é encontrado crivado de facadas. Há doze passageiros, para além do célebre detective Poirot, e todos têm um álibi, todos são insuspeitos! Como se tudo isto não bastasse, o comboio fica entalado na neve, em terra de ninguém. Poirot terá de desvendar o crime, antes de as autoridades chegarem e os passageiros dispersarem, cada um à sua vida…
Uma história empolgante, personagens fabulosamente descritas e um fim absolutamente inesperado. Agatha Christie, “A Rainha do Crime”, “A Duquesa da Morte”, no seu melhor!
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