Breve História De Quase Tudo, Bill Bryson
Há que admitir que a literatura, actualmente, está a passar por uma grave crise de criatividade. Basta darmos um pulinho à FNAC para constatarmos esta triste verdade: as prateleiras estão cheias de livros e praticamente nenhum deles merece ser lido. De facto, o que mais encontramos é obras estilo “Teoria da Conspiração”, policiais cuja história é sempre a mesma (“era-uma-vez-o-cadáver-de-uma-menina-encontrada-morta-no-bosque-de-uma-aldeia-qualquer” ou então “era-uma-vez-um-assassino-em-série-que-aterroriza-uma-cidade”), livros de cozinha saudável, livros de auto-ajuda (“Seja feliz”, “Controle o stress”, “Como ser bem-sucedido no seu trabalho”, “Como aprender a comunicar bem”) e, por fim, a literatura light, estilo Nora Roberts, Juliet Marriner, Dan Brown e Marion Zimmer Bradley. Resumindo: muita parra e pouca uva.
Para onde foi a boa literatura? Aquela, que nos faz pensar? Aquela que desvenda a alma humana? Aquela que nos maravilha? Aquela que deixa uma marca forte na história da Humanidade e nas nossas vidas?
Só há, neste momento, dois tipos de livros que ainda nos conseguem surpreender: a literatura de divulgação científica, política ou sociológica e a literatura do género fantástico. Quanto ao romance dito “sério”, ficamos com a sensação de que os escritores mais idosos estão todos a morrer, e os novos autores não são suficientemente bons para ficarem para a História.
Breve História de Quase Tudo não é um romance literário, é uma obra de divulgação científica, escrita por um homem que, não sendo cientista, decidiu escrever um livro que demonstrasse até que ponto este ramo da Sabedoria pode ser fascinante e viciar-nos. Está escrita de uma forma tão clara e tão divertida, que qualquer leitor, mesmo sabendo pouco de Ciência, consegue passar umas boas horas estiraçado numa cama, agarrado ao livro, como se este fosse um policial de intriga e acção. E se você pensa que os cientistas são tipos muito chatos, muito previsíveis, pouco religiosos, carrancudos e sem uma pinga de criatividade, prepare-se para o choque: a história da Ciência está carregada de episódios de intrigas, guerras de bastidores, génios megalómanos e mal-educados, visionários tímidos e fascinantes, episódios hilariantes e surrealistas, descobertas acidentais, expedições terrivelmente azaradas, teorias absurdas (dignas de uma série de ficção científica), guerra de sexos e rasgos de génio que mudaram a História da Humanidade.
Os livros não são apenas poesia e romance. São também injecções de cultura. Este, é um curso intensivo de História da Ciência. E é impossível largá-lo.
Enquanto esperamos pelo próximo Shakespeare…
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