Retomamos a leitura astrológica do segundo livro da “Mensagem” (“Mar Português”) com Aquário, décimo primeiro signo do Zodíaco (de 21 de Janeiro 19 de Fevereiro), regido pelo planeta Urano e associado ao elemento Ar.
É no poema “A Última Nau” que se plasma a mensagem de Aquário. E a imagem cujos contornos se desenham logo na primeira linha deste poema, é a imagem de um rei. Mas não se trata de um rei qualquer… O rei é D. Sebastião (1554/1578), ele próprio nascido sob o signo de Aquário (20/Janeiro), como, de resto, deixa adivinhar a sua personalidade visionária e controversa.
XI. A ÚLTIMA NAU
Levando a bordo El-Rei D. Sebastião,
E erguendo, como um nome, alto o pendão
Do Império,
Foi-se a última nau, ao sol aziago
Erma, e entre choros de ânsia e de pressago
Mistério.
Não voltou mais. A que ilha indescoberta
Aportou? Voltará da sorte incerta
Que teve?
Deus guarda o corpo e a forma do futuro,
Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro
E breve.
Ah, quanto mais ao povo a alma falta,
Mais a minha alma atlântica se exalta
E entorna,
E em mim, num mar que não tem tempo ou espaço,
Vejo entre a cerração teu vulto baço
Que torna.
Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império.
Em Aquário, encontramos alguém que aspira a servir o Universo (“erguendo, como um nome, alto o pendão / Do Império”). Este não é, contudo, o mesmo tipo de Serviço que encontramos em Virgem, signo de Terra. O nativo de Virgem pode ser comparado a um Escultor que, devotada e sistematicamente, modela o barro e que, para gerar a Obra, depende desse laço pessoal, íntimo, telúrico, com a matéria. Por sua vez, o aquariano serve de forma impessoal, desapegada e livre. Ele é o Aguadeiro que derrama, de modo soberano e indiferenciado, o fluido da Vida sobre todas as criaturas. Por isso o seu lema transpessoal é: "Água da Vida eu sou, derramada para os homens sedentos".
É o desaparecimento de D. Sebastião em Alcácer Quibir, corolário de uma aventura militar condenada ao fracasso (como condenado ao fracasso já estava, em 1578, o sonho de um Império político e económico), que Fernando Pessoa ergue como bandeira para simbolizar este “recuo” do individual em favor da totalidade. Um recuo que é a chave para a regeneração da Alma. Um dia, D. Sebastião retornará, emergindo da manhã envolta em bruma… "Não sei a hora, mas sei que há a hora, / Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora / Mistério. / Surges ao sol em mim, e a névoa finda: / A mesma, e trazes o pendão ainda / Do Império.".
De novo o Império… De novo o pendão… Mas é de outro Império que se fala aqui. O signo complementar de Aquário é Leão. No poema correspondente ao signo de Leão, “Epitáfio de Bartolomeu Dias”, abriam-se, com a passagem do Cabo das Tormentas (sugestivamente rebaptizado de Cabo da Boa Esperança), as portas para um Império político e mercantil, as mesmas portas que se cerraram sob o “sol aziago” que viu partir a “última nau”. Agora é outra a aventura! Agora o Império é do Espírito!
Aquário está associado às ondas do conhecimento derramadas do céu para revitalizar a criação sobre a terra. Evoca dinamismo, renovação, recriação. É a expressão do Vazio Contentor, que tudo abarca e consubstancia em si o infinito de possibilidades. Por isso, a originalidade, o anseio de inovar, o impulso de desafiar convenções e limites estabelecidos, a rebeldia, o inconformismo, a capacidade de visão, a busca intensa de aproximação ao infinito, são características comuns aos nativos deste signo.
Pelo mesmo motivo são, frequentemente, tidos como controversos aos olhos de quem os rodeia e incompreendidos pelo seu tempo e pelo seu espaço. E, à semelhança de D. Sebastião, à semelhança de Pessoa, “quanto mais ao povo a alma falta, / Mais a [sua] alma atlântica se exalta / E entorna, / E em [si], num mar que não tem tempo ou espaço, / [Vêem] entre a cerração [o] vulto baço / Que torna.”.
E.S.
2 comentários:
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