A Turma, François Bégaudeau
Mas quem é que ainda não ouviu falar do triste episódio do “Dá-me o Telemóvel já!”? Quem é que não ouviu falar do menino de dez anos que mordeu numa professora? Quem é que ainda não ouviu falar da palavra Bullying? E, já agora, para que é que a escola serve, hoje em dia? Será a escola um lugar de aprendizagem de conteúdos e de comportamentos, ou será simplesmente um parque de estacionamento, onde os pais “estacionam” os filhos, enquanto vão trabalhar? E de quem é a culpa? Dos pais? Dos professores? Dos alunos? De todos?
Uma coisa este livro deixa bem claro: a escola actual tem forçosamente que mudar, sob pena de se tornar irremediavelmente inútil. E todos têm que contribuir para essa mudança. Os pais têm que estar mais atentos, têm que ser mais participativos, têm que olhar para os professores como aliados na educação dos seus filhos, e não seres humanos que põem em causa o seu papel como educadores; os professores têm que arranjar ainda mais paciência, têm que ser ainda mais diplomatas, têm que lutar ainda mais pelo que acreditam, têm que arranjar, dê por onde der, motivação para ensinar, apesar de o mundo os desprezar; os alunos têm que perceber que não é ignorando a escola e insultando os professores que irão conseguir um futuro radioso. Quanto ao Ministério de Educação, este tem que reformar as escolas, tem que reformar os horários, tem que reformar os conteúdos programáticos e tem que acabar com a burocracia nas escolas, que entrava os professores e rouba-lhes tempo para fazer aquilo que realmente interessa: ensinar mais e melhor.
Pela primeira vez em muitos anos, a figura do professor não é nem o “mau da fita” que inferniza a vida dos alunos nem o “santo salvador” que irá transformar o rapaz delinquente em cidadão exemplar. O cinema e a literatura andam saturados de “clubes dos poetas mortos”, filmes e livros que são muito interessantes, mas não espelham nem um pouco a realidade das escolas actuais (o que não é para espantar, se nos lembrarmos que nenhum destes filmes foi realizado por um professor). É muito difícil sermos heróis inspiradores quando chove nas escolas, as crianças tiritam de frio no Inverno e morrem de calor no Verão, e muitas delas vêm de famílias disfuncionais, que já há muito tempo deixaram de sonhar com um futuro melhor para si e para os seus. O professor, neste livro, é apenas um ser humano normal que tenta fazer o melhor que pode e consegue, num meio hostil que não valoriza o seu trabalho e o seu esforço. E os alunos são apenas o reflexo do que é a sociedade actual: consumista, sem sonhos, desiludida, sofrendo de solidão.
Há séculos atrás, Carlos Magno chegou à conclusão de que a escolas públicas estavam obsoletas, e mandou encerrá-las. Será que iremos assistir a este desfecho triste? Será que a Educação, daqui a uns anos, será apenas um privilégio dos ricos, e não um direito de todos? Cabe a nós mudar o futuro.
Para ler, com urgência! Porque o que se passa nas escolas francesas é exactamente o que se passa nas nossas.
Trailer do filme (legendado):
2 comentários:
Aproveito para informar que o filme "A Turma" vai passar no Cineteatro de Serpa, no dia 10 de Março, terça-feira.
lbasílio
Vinha fazer exactamente o mesmo comentário uma vez que está feito, aproveito para opinar que pais, alunos e professores deveriam todos ir ver este filme, quem sabe, o diálogo poderá melhorar entre todos?
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