quinta-feira, maio 05, 2011

Um Homem Que Lutou Pelas Mulheres

 

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Hoje é o Dia Mundial da Higienização das mãos e também é um dia mundialmente ligado às parteiras de todo o mundo.

A origem destas celebrações é mais do que óbvia: até aos inícios do século XX, morrer enquanto se dava à luz era a coisa infelizmente mais vulgar à face da Terra, o que não era para espantar se pensarmos que, ainda hoje, há muitos médicos pelos quatros cantos deste planeta que ainda realizam partos… com as mãos sujas. Uma em cada duzentos mulheres na Inglaterra morria durante este momento, e tal azar só acontece hoje em cada 5000 (para ficarem a saber mais, consultem este excelente artigo).

Ignaz Semmelweis foi o médico e cientista que descobriu a ligação entre tantas mortes de mulheres durante o parto e a higiene: nada estúpido, depressa se apercebeu que as mulheres que optavam pelas parteiras da aldeia tinham três ou quatro vezes mais hipóteses de sobreviver do que se o fizessem num hospital. Tudo parecia ter corrido bem, a mãe cantava saúde e, sem que ninguém percebesse, a vítima era “atacada” por uma febre fulminante e deixava de viver em poucas horas. Em 1846, escreve no seu diário:

Por que é que tantas mulheres morrem com esta febre, depois de partos sem quaisquer problemas? Durante séculos, a ciência disse-nos que se trata de uma epidemia invisível que mata as mães. As causas podem ser a alteração do ar, alguma influência extraterrestre, ou algum movimento da própria Terra, como um tremor de terra.

clip_image004As suas hipóteses (hoje muito pouco científicas) depressa caíram por terra quando começou a observar as parteiras das aldeias e viu uma coisa muito simples que elas faziam: lavavam as mãos constantemente. Mas também não foi só isso que o convenceu da verdade: um grande amigo seu morreu vítima de uma infecção fulminante de uma faca que, previamente, tinha sido usada num cadáver, e que não tinha sido desinfectada.

Entusiasmado, depois de somar 2+2, este assistente cirúrgico do Hospital Geral de Viena em Áustria descobriu a causa destas “febres repentinas” e deixou uma ordem bem clara a todos os médicos e estudantes de Medicina:

A partir de hoje, 15 de Maio de 1847, todo o estudante ou médico é obrigado, antes de entrar nas salas da clínica obstétrica, a lavar as mãos, com uma solução de ácido clórico, na bacia colocada na entrada. Esta disposição vigorará para todos, sem excepção”.

Estes “caprichos” e “manias” custaram-lhe bem caro: foi expulso do seu hospital e teve que deixar Viena. Levou o resto da sua vida a escrever cartas aos seus colegas obstetras, alertando-os para os maus hábitos de higiene que matavam tantas mulheres. Já no fim da sua vida acusava-os (e com toda a razão!) de serem assassinos e de não se importarem nada de destruir tantas famílias, só porque não queriam ter a chatice de esfregar as mãos em água e sabão. Morreu pouco depois de ter sido internado num hospital psiquiátrico, em 1865.

Semmelweis é o exemplo típico do homem certo no tempo e lugar errados. Verdade seja dita, o seu mau génio e falta de tacto também não contribuíram nada para que as suas ideias fossem facilmente transmitidas. Um pouco mais de paciência e teria produzido melhores efeitos. Mas para termos uma ideia do quanto este médico tinha ideias avançadas, basta dizer que foi só no ano de 1978 que o Brasil considerou a prática de lavar as mãos uma lei para ser cumprida em todos os hospitais, particularmente nas maternidades.

Não é de espantar, portanto, que estas duas datas comemorativas andem de mãos dadas… de preferência lavadas.

Imagens retiradas daqui e daqui

1 comentário:

Mariza disse...

Muito triste, esta história...
Há pessoas que estão muito à frente do seu tempo e, por isso mesmo, têm problemas em ser ouvidas. Mas há casos ainda mais escandalosos: há apenas alguns anos atrás, os médicos e enfermeiros no Porto não lavavam as mãos. Foi uma vergonha nacional quando a Comunidade Europeia chamou a atenção para esse problema.