Eu Sou A lenda, de Richard Matheson
São imensas as histórias que lidam com o fim do mundo, e o chamado Apocalipse ou Revelação na Bíblia não escapa à regra. Mas não pensem que os Judeus/Cristãos são os únicos a sonhar com tal coisa: a data de 2012 vem do calendário Maia e, neste momento, há uma série de maluquinhos que preparam as suas trouxinhas para o mundo do Além. Nos estados Unidos da América, há quem ande a comprar bunkers para se refugiar da “vingança de deus”.
De facto, quase que chegamos a pensar que os seres humanos vivem numa imensa pressa de morrer ou talvez, simplesmente, vivem no terror de serem esquecidos e de passarem à extinção, como milhões de espécies que não conseguiram passar a barreira desse fenómeno chamado Evolução. Por outro lado,
ao mesmo tempo que a Humanidade destrói com grande satisfação o mundo à sua volta, por outro é suficientemente inteligente para saber que o que está a fazer é errado. Por isso mesmo, o fim do Mundo surge sempre como um acto de purificação de um Cosmos enfurecido ou o clímax de uma série de disparates que acabaram muito mal.
A história deste livro segue a última variante: uma bactéria terrível, sabe-se lá vinda de onde (o autor fornece a hipótese de uma arma química alienígena) ataca todos os humanos, transformando-os em mortos-vivos que, como todos sabem, gostam tanto da carne humana como nós gostamos de chocolate. Neville, a personagem principal, convence-se de início de que vive sozinha, pensa que é o último sobrevivente na Terra. Porém, não demorará muito para descobrir que os seus vizinhos não são nada hospitaleiros, especialmente quando Neville encontra uma maneira de os exterminar. O final desta obra de ficção científica é completamente inesperado (para quem não viu o filme) e coloca-nos muitas questões sobre o que significa realmente sermos humanos.
O mais interessante neste livro não é a história em si, já contada e recontada e mastigada. Histórias sobre o fim de mundo já existiam até na Grécia Antiga. As únicas coisas que mudam são a causa e o inimigo a abater. Não. O que interessa nesta novela é constatarmos a capacidade de sobrevivência do Ser Humano e o facto de este ser capaz de enfrentar os seus medos e vícios. Herdeiro de um planeta cheio de edifícios vazios, a sua única companhia é um cão e os seus próprios fantasmas: o álcool, a solidão, o medo do escuro. E, se pensarmos assim, então Neville é uma espécie de Robinson Crusoe, perdido na sua ilha pessoal, incapaz de comunicar com o novo mundo que lhe calhou agora na rifa.
De certa forma, todos nós somos como Neville, perdidos num oceano de casas e de rostos hostis, uns disfarçando melhor do que os outros, mas cada um aprendendo a matar os “mortos-vivos” que nos cercam. Com ou sem cão.
Sem comentários:
Enviar um comentário