quinta-feira, janeiro 20, 2011

Obras Intemporais Que Deveríamos Ter Na Nossa Estante II

Viagem Ao Centro Da Terra, de Júlio Verne

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Tinha 21 anos quando conheci este escritor. A minha família conseguira alugar uma casita em Mafra, longe dos carros, da poluição e perto de uma aldeiazinha onde nos abastecíamos semanalmente. Não havia televisão nem Internet nem rádio e nenhum de nós estava com vontade de carregar mais um mastronço no porta-bagagens. O que aquela casa maravilhosa tinha era um pomar de perder de vista e uma bela horta, que nos serviu que nem ginjinhas durante as duas semanas de férias de Agosto.

E tinha uma biblioteca cheia de livros muito antigos. Fiquei fascinada a olhar para títulos de “grandes escritores”, “grandes revelações”, futuros talentos e best-sellers que hoje não passam de lixo nos alfarrabistas e velhas casas como aquela. Porém, para além da fantástica e já lendária colecção de capa vermelha de todas as obras de Camilo Castelo Branco, bem como “Os Cinco” e “As Gémeas”, dei de caras com uma extensa fila de obras de Júlio Verne, um escritor que é hoje considerado por muitos como sendo o pai da ficção científica.

Verdadeiramente apaixonado pela literatura e pelas ciências, gastava os dias da sua juventude a ler, a ir ao teatro, a frequentar conferências de cientistas e escritores. O seu pai, ao saber que o Júlio andava muito pouco interessado no seu curso de Direito, chegou a cortar-lhe a ajuda financeira. Viu-se, assim, “obrigado” a arranjar trabalho como corrector de acções e, a partir daí, nunca mais parou de escrever. A mãe, por outro lado, apoiava as loucuras do filho, o que não é para espantar, tendo em conta a sua extraordinária imaginação.

Para espanto dos muitos que não davam qualquer valor a estes “livros para crianças”, as obras deste escritor francês clip_image003criaram furor em todo o mundo e fizeram escola. Foi graças a ele que os mundos da fantasia e da ficção científica começaram a ganhar uma aura de respeitabilidade, algo que simplesmente não existia antes das suas publicações. E a obra Viagem ao Centro da Terra foi um marco na literatura mundial.

O livro conta a história (hoje absurda) de uma expedição ao interior do nosso planeta. Podemos delirar completamente com o que estamos a ler – quem precisa de ecstasy e de LSD quando há obras visionárias como esta? – mas temos que ter em conta que, no século XIX, a teoria actual do núcleo terrestre (uma fornalha de lava líquida e metais em altas temperaturas) era ainda mais absurda do que descermos ao R/C do nosso planeta e depararmo-nos com cogumelos gigantes, dinossáurios que ainda estão vivos, uma era terciária que está de boa saúde e recomenda-se e, para fechar com chave de ouro, ainda há homens primitivos, semelhantes a gigantes, que se dedicam a ser pastores de mastodontes. Afinal, para um Homem de há duzentos anos atrás, não era nada fácil convencê-lo que esta panela de pressão que habita abaixo dos nossos pés não iria explodir a qualquer momento. Para todos os efeitos, não fazia qualquer sentido. Além disso… Não dá para contar para contar histórias interessantes. Sejamos honestos: descermos ao interior do nosso planeta e ficarmos assadinhos, não é uma ideia que venda muitos livros…

Júlio Verne foi o pai da ficção científica. As teorias do seu tempo eram sempre um pretexto ou um cenário para criar uma história e, ao mesmo tempo, divulgar o mundo maravilhoso da Ciência. Nas suas obras, podemos viajar num balão, viver num submarino, chegar à Lua, conhecermos o interior do nosso planeta, e muito mais. E tudo isto sem sairmos do sofá da sala de jantar!

Já agora: sabem de onde é que vem a contagem decrescente que se faz sempre que um foguetão está para ser lançado? Vem do livro Viagem À Lua, do mesmo autor. A NASA achou piada a esta passagem do romance e a moda pegou!

Se querem saber mais pormenores deste romance, poderão escutar este óptimo podcast brasileiro, Grifo Nosso . Mais uma vez, as novas tecnologias trabalham ao serviço da cultura.

Imagens retiradas de: 1  e  2

2 comentários:

Roberto disse...

Assim é que é: divulgar o Pai de um género tão importante quanto a Ficção Científica é algo que podemos considerar «Serviço Público». Já agora esqueceram-se da Mãe da Ficção Científica, Mary Shelley (que foi contemporânea do escritor françês). Que tal falar no seu mais famoso livro?

Anónimo disse...

Já falámos. Foi livro da semana. Aliás, muitos dos livros da semana que recomendámos são obras intemporais. Eu só não quero é repetir os mesmos temas.

Abraço,

Sandra Costa