Chegada a Auschwitz
Eles fizeram-nos marchar pelo portão sob chicotadas, surras e cães pulando em cima de nós. Chegámos a uma grande construção de tijolos, e eles empurraram-nos para dentro de lá. Havia prisioneiros e agentes das SS dizendo-nos o que fazer em seguida. Havia mesas, mesas muito compridas. Na primeira área nós tínhamos que nos despir, tirar todas as nossas roupas. Havia ganchos atrás de nós. A gente colocava as roupas em um pedaço de arame, pendurava, tirava os sapatos e os colocava no chão. Na próxima mesa estavam os barbeiros, os barbeiros do campo, que raspavam nossa cabeça, cortaram nosso cabelo, e raspavam todo o nosso corpo. Eles diziam que era uma questão de higiene. Então, nós passávamos para outra mesa onde era feita a tatuagem [OBS: com números, para identificar o prisioneiro], que era feita no antebraço esquerdo. Uma pessoa esfregava um paninho sujo embebido em álcool no braço, e a outra pessoa tinha uma agulha e um tinteiro, e ela tatuava os números em nós. Meu número foi 65.316, e isto significava que 65.315 pessoas haviam sido numeradas antes de mim, tatuadas antes de mim.
Após a tatuagem ser feita, eles levavam-nos para um lugar onde nos davam roupas, mas não as que a gente usava quando chegou. Eles deram, distribuíram para nós, um gorro castanho listrado, uma veste listrada, calças listradas, um par de tamancos de madeira e uma camiseta. Nenhuma meia ou roupa de baixo. Então, na última área, depois de nos darem o uniforme, davam-nos também duas tiras de pano. A tira, eu diria, tinha cerca de 15 centímetros de comprimento e talvez quatro centímetros de largura. E [tinha] a Estrela, trazia a Estrela de David, com o mesmo número que havia sido tatuado no nosso antebraço esquerdo, e ela era presa no lado esquerdo do peito e na perna direita da calça.
Então, o último item, que era o item mais importante que nós recebíamos, era uma tigela redonda. Aquela tigela era o elemento vital da nossa existência. Em primeiro lugar, sem ela você não podia receber as rações miseráveis que serviam, e, em segundo lugar, as instalações de banheiro eram quase inexistentes [a tijela era utilizada para comer e urinar].
Testemunho de Miso Vogel, sobrevivente de Auschwitz
Experiências Médicas em Auschwitz
Claro que tenho, infelizmente, muitas lembranças do hospital e do consultório médico. Parece-me que passei muito tempo lá, e também de ficar no hospital e de estar muito doente. Sei que uma vez, quando fui para o consultório médico, eles tiraram sangue de mim, e doeu muito porque foi do lado esquerdo do meu pescoço. Esta é uma coisa estranha de lembrar. Eu também me lembro de tirarem sangue do meu dedo, mas isso não era tão ruim [quanto o pescoço].
Lembro, também, de ter que ficar sentada, imóvel, por longos períodos para ser medida ou pesada, ou para radiografias. Eu me lembro de radiografias e mais radiografias, e injecções. Lembro me das injecções (porque depois eu ficava doente) e ficava naquele hospital. Lembro de ter tido febre alta, porque sei que eles estavam tomando minha temperatura, alguém estava. Eu realmente passei a odiar médicos. Passei a ter medo, eu costumava ter muito medo de médicos, eu ainda tenho. Eles são um pesadelo. Os hospitais estão fora de questão e as doenças são inaceitáveis [para ela, como resultado do sofrimento pelo qual passou].
Testemunho de Irene Hisme, sobrevivente de Auschwitz
Todos estes testemunhos foram retirados do site United States Holocaust Museum (tradução do Português do Brasil)
Para Leres Com Atenção:
Auschwitz, O Testemunho de um Médico, de Miklos Nyiszli (livro online)
1 comentário:
Oh meu Deus! E ainda há quem diga que o Holocausto Nazi não aconteceu. Quando ouço alguém dizer uma coisa dessas apetece-me bater nela!
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